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Jul10
[we're off to see the wizard] the wonderful wizard of moz
beijo de mulata
Vá, animem-se, fechem os olhos e deixem-se vir cá ter... Não se preocupem que ninguém vos vê, mas tenham cuidado que agora vamos entrar na savana e os espíritos e os animais podem pressentir a vossa presença... A partir de agora as regras são diferentes. Os macuas têm um provérbio que nos ensina que "quando se chega ao oceano, as leis do rio deixam de servir" e esta é uma lição de vida deliciosamente verdadeira.
A partir de agora pisem só onde eu pisar, não se afastem do caminho. Não há minas anti-pessoais, garanto-vos, o país tem uma sólida paz de vários anos e está todo desminado, mas podemos encontrar cobras e não quero que vos aconteça nada. Não passem por baixo dos cajueiros, sobretudo se não ouvirem passarinhos cantar. Se passarmos perto de um embondeiro procurem um monte de farinha e se lá estiver algum, por favor, não o pisem porque foi oferecido aos antepassados numa cerimónia muito intensa e difícil. É preciso ter muito respeito pelos pedidos de protecção e saúde que ali foram feitos. E nós só estamos aqui porque os antepassados no-lo permitiram. Ah, não sorriam. Não acreditam? Pois digo-vos que não se consegue trabalhar aqui se não respeitarmos e conhecermos as crenças das pessoas com quem vamos conviver. De outro modo não vimos cá fazer nada, só nos vamos deprimir porque nesse caso falar com as pessoas será como falar com uma parede.
Mais adiante vamos passar por um curso de água. Temos de o atravessar com muito cuidado pelas pedras que estão à sombra porque os crocodilos são animais de sangue frio (poiquilotérmicos, eu sei, deixem-se lá de mariquices que já não temos muito tempo) e preferem o calor, mas mesmo assim todo o cuidado é pouco. E nem pensem em entrar na água. Nem molhar os pés sequer. Aqui a schistosomíase abunda e depois não tenho como vos tratar a todos. E insisto, a não ser que oiçam os passarinhos cantar não passem por baixo dos cajueiros porque lá em cima estão de certeza várias cobras. Mas as precauções são simples se as mecanizarmos desde o primeiro dia. O prazer de andar pelo mato supera tudo isto, podem ter a certeza.
Mas venham comigo, não deixem de vir... Não é tudo fácil, vocês sabem. Só há rede de telemóvel de vez em quando, a internet anda incrivelmente instável em todo o país desde que danificaram os cabos submarinos de fibra óptica ao largo de Gaza e a electricidade depende quase toda da barragem de Cahora Bassa, o que quer dizer que tem oscilações que ameaçam diariamente pegar fogo a qualquer aparelho incauto que esteja ligado à corrente. Ah, e podemos passar dias inteiros sem electricidade, portanto temos de ter gerador próprio na mesma, porque se não corremos o risco de ficar sem luz no bloco operatório ou estragar todo o stock do banco de sangue, que tanto nos custou a angariar (não se esqueçam de que estamos num país onde todos se alimentam mal e a anemia é a regra geral, portanto dar sangue é um esforço quase sobre-humano e temos de ter muita estima por aquele ouro vermelho que todos os dias salva vidas). E obviamente não estão à espera de ter água canalizada todos os dias, pois não? Mas lá em casa temos um bom filtro, portanto a água é perfeitamente potável. E tomar banho com um balde e um copo é simples, não se façam de esquisitos! Muita sorte temos nós por não termos de ir ao rio tomar banho.
Vá, venham comigo! O país está à nossa espera, as pessoas precisam da nossa ajuda e há tanto que fazer…