02
Fev13
[vozes brancas*] um assalto
beijo de mulata
Há mais de cinquenta anos, uma geração e meia antes da atual, o pai de um amigo meu era ainda uma criança [ai, valha-me São Jacques de la Palisse...]. Há uns tempos, num evento familiar, à porta de casa, houve um cheiro que o fez transportar-se de repente para cinquenta anos antes: a noite em que a casa da sua avó foi assaltada. Contou a emoção que sentiu ao ver o agente da polícia a entrar naquela mesma casa, de farda engomada, bigode farfalhudo e com um ar muito circunspecto. A meio da investigação, o pai desse meu amigo, então com 8 anos, abeirou-se do agente e pediu licença para colocar uma questão:
- Como foi que os ladrões entraram se não tinham a chave de casa?
- Abriram a porta com um pé-de-cabra, rapaz - respondeu o agente secamente.
O menino ficou absolutamente horrorizado. Pediu licença novamente e retirou-se, incomodado com a imagem. Ainda o ouviram murmurar, a caminho do quarto, a frase que ficou para sempre como piada privada da família: "Coitadinha da cabrita..."
* Timbre da voz das crianças antes da puberdade.
- Como foi que os ladrões entraram se não tinham a chave de casa?
- Abriram a porta com um pé-de-cabra, rapaz - respondeu o agente secamente.
O menino ficou absolutamente horrorizado. Pediu licença novamente e retirou-se, incomodado com a imagem. Ainda o ouviram murmurar, a caminho do quarto, a frase que ficou para sempre como piada privada da família: "Coitadinha da cabrita..."
* Timbre da voz das crianças antes da puberdade.