(Aeroporto de Mavalane, Maputo)
Já uma vez vos contei esta história. Hoje volto a ela porque é o aniversário da véspera desse dia... Ou melhor - há que admiti-lo! - hoje volto a ela porque sim....Cheguei pela primeira vez a Nampula no dia 5 de Agosto, dia de Nossa Senhora de África, em vez do dia 4 de Agosto, como tinha planeado. Mais de 24 horas de atraso porque em Maputo não consegui apanhar o avião à primeira. Não sei se me compreendem. Eu sou loira, começa tudo por aí...
Não era a minha primeira vez em África, mas das vezes anteriores tinha sempre tido acompanhantes, motoristas, amigos para me ajudar e não tinha entrado completamente na dinâmica do país... Confiava nas coisas que sempre dei como garantidas e nunca na minha vida tinha colocado em causa. Por exemplo, pensem comigo: se estiverem várias pessoas numa fila para um balcão, podemos acreditar que essas pessoas querem ser atendidas, certo? Concretizando, se essa fila for a fila do
check-in cujo balcão ostenta o número do nosso voo, por exemplo - isto é só um "supônhamos" - e estiverem várias pessoas com malas nessa mesma fila, poderemos assumir que essas pessoas estão para embarcar connosco. Ou não? Não sei quanto a vocês, mas foi isso que eu assumi. Coloquei-me na fila e aguardei pela minha vez. Erro crasso!
Os estimados leitores com alguma experiência de aeroportos em África talvez estejam agora a sorrir - está-se mesmo a ver porque é que ela perdeu o avião! Pois é... Só algum tempo depois de estar naquela fila é que me apercebi que:
a) o empregado do balcão que estava a falar com a primeira pessoa da fila não a estava a atender (estavam apenas a conversar);
b) a fila em que eu estava não avançava e não iria avançar de todo porque as pessoas à minha frente não tinham bilhete (elas estavam na fila
há vários dias!)*;
c) já todos os passageiros do meu voo tinham feito o
check-in várias horas antes, não fosse acontecer-lhes o que me veio a acontecer a mim;
d) os empregados do balcão tinham decidido, à hora em que o voo estava quase completo (duas horas antes do embarque), que eu já não viria e tinham vendido o meu bilhete a outra pessoa (possivelmente ao primeiro da mesma fila onde eu então me encontrava);
e) o meu voo já estava completo, fechado e pronto para partir com meia hora de antecedência.
Não entrei em pânico. Nem me preocupei. No fundo eu já ia avisada: que esperasse de tudo, que não esperasse bons serviços, que não esperasse mesmo quaisquer serviços, que não me surpreendesse com nada. Que em África tudo acontece, mas geralmente tudo se resolve também.
Quando fui reclamar ao balcão do
check-in, os senhores olharam-me com indiferença e nem se dignaram a responder-me. Fui a um balcão da companhia: que não era nada com eles. Tinham-me chamado e eu não estava, portanto tinham vendido o meu bilhete. (!)
Seria então altura para entrar em pânico? Não, isso seria mais um erro crasso. Irritei-me! Fui reclamar, desta vez em voz mais alta e mais grossa, a um terceiro balcão e lembro-me de ver a senhora empalidecer quando utilizei a palavra "
overbooking".
- Venha outra vez amanhã, disse simplemente.
- Ok.
No dia seguinte passei à frente de tudo e de todos, dirigi-me directamente ao balcão do
check-in e a senhora com quem eu tinha falado no dia anterior lá descobriu um lugar vago em classe executiva no voo Maputo-Pemba dessa tarde, com escala no meu destino... Quanto a mim, foi a primeira e última vez que me coloquei numa fila sem saber com toda a certeza o que se passava do outro lado do balcão!
*E perguntam vocês: Mas se não tinham bilhete, o que estavam as pessoas e as malas a fazer naquela fila de embarque? Pois... Isso já tem a ver com a cultura de um povo. Por acaso até tenho uma teoria. A minha teoria é que na verdade eles provavelmente não estavam ali a fazer nada. Nem seria ali que iriam arranjar bilhete, mas no balcão da companhia. Eles estavam ali apenas... à espera. Foram esperar para ali porque seria dali que iriam partir. É isto.