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Beijo de Mulata

Beijo de Mulata

03
Mai15

[reflexões para uma madrugada de telha] dia da mãe

beijo de mulata
No outro dia abri a boca de espanto quando ouvi uma preleçãode uma colega de outro serviço do hospital. Uma mulher severa, altamente narcísica, sem um pingo de empatia por quem sofre e por quem está em dificuldades, incrivelmente sensível, incapaz de um elogio a não ser a alguns (poucos) seus eleitos. Para o caso talvez seja relevante mencionar que é solteira e que nunca teve filhos...

E perguntam vocês, meus caros amigos: "Sobre que tema pregava tão distinta figura?"

Sobre Parentalidade Positiva. E enchia a boca com a aliteração... Explicava algumas "técnicas" a uma jovem mãe, pediatra de outro serviço, que a ouvia com atenção, com o seu melhor sorriso amarelo, tentando encontrar um buraco, por entre o discurso verborreico, por onde pudesse escapar.

Só me fez lembrar a severa diretora do colégio de freiras de uma amiga minha, que há muitos anos, inaugurou um discurso de duas horas deste modo: "Hoje é o Dia da Mãe. Eu não sou mãe... mas já li muito sobre o assunto, portanto cá vai!" .


E é isto, meus amigos... [Nota-se muito que estou de banco, que são seis da manhã e que já não vejo o baby-de-mulata há mais de 24 horas?]
07
Mar15

[outras palavras] ideias brilhantes!

beijo de mulata
- A Chica foi ao Centro de Saúde à consulta homeopática.
- Não sabia que havia disso no Centro de Saúde.
- No caso dela sim. É só estar 5 minutos a falar com o médico que fica logo boa das doenças todas.
- Mas isso não é consulta homeopática, isso é consulta psicossomática. Homeopática era se ela fosse ao centro de saúde só para ler o nome do médico na porta e voltasse para casa curada.


Por São João no seu genial blogue "Febre dos Fenos"
24
Fev15

[in god we trust] everyone else must bring evidence!

beijo de mulata
José Diogo Quintela escreveu há tempos um texto genial sobre homeopatia. Andei à procura dele para partilhar convosco. Daqui.
Tenho a casa transformada em enfermaria. Neste momento,estão internados cinco Nenucos, três Barbies (tecnicamente, uma delas éBarbie-Sereia) e um Action Man. Padecem de gripe.
A minha filha é muito atenciosa com os pacientes. Está alevar a sua função terapêutica muito a sério. A minha mulher está convencida deque a miúda vai ser médica. A mim, pela maneira como ela trata as bonecas,dá-me mais a sensação que ela vai ser homeopata. É que os remédios que elareceita são colheradas de ar e pingos de água aplicados a partir de um biberonde brincar.
Como pai preocupado com o futuro, é óbvio que estoucontente. A homeopatia não é tão prestigiante quanto a medicina, mas dá maisdinheiro. E o curso é mais fácil. Só é preciso aprender a medir porções,diluí-las e sacudi-las num recipiente. No fundo, é um curso de barman emque só se usa água. Aliás, qualquer pessoa que já teve preguiça de ir àdespensa buscar uma embalagem de champô nova, preferindo antes encher de água eabanar a embalagem vazia de modo a recolher refugo de champô com que lavar acabeça, é um homeopata em potência.
Todos os dias ouço um anúncio na rádio a recomendar que façaa prevenção da gripe com o Oscillococcinum, um produto homeopático. Ora,eu não sou cientista. Logo, tenho toda a qualificação necessária para mepronunciar sobre homeopatia. E diria que a prevenção da gripe com pílulas deaçúcar só funciona se o vírus influenza estiver a fazer a dieta doPaleolítico. Sem ser para evitar os hidratos de carbono, não estou a ver outrarazão que levasse um vírus a não querer instalar-se em alguém só porque tomapílulas de açúcar. A empresa que o vende garante que não tem efeitossecundários. Aí já estamos de acordo. É natural que não tenha, porque para terum efeito secundário seria necessário que tivesse, anteriormente, um efeitoprimário.
No entanto, a bem da verdade, tenho de reconhecer que o Oscillococcinumnão é apenas açúcar. O seu ingrediente fantástico (no sentido de “estupendo”para os homeopatas; no sentido de “fictício” para as restantes pessoas) é umextracto de miudezas de pato, o que faz do Oscillococcinum uma sugestãode canja muito cara. Quando alguém toma um comprimido, há um círculo que secompleta: o que começou com um pato termina num pato. Não consigo imaginarmelhor definição de “holístico”.
Os homeopatas garantem que depois das 200 diluições doextracto de pato, a água retém a memória de uma molécula do ingredienteoriginal. Até agora, não se conseguiu provar que a água tenha memória. Aexistir, a memória da água é igualzinha à memória do vinho: quando o bebo, nodia seguinte também não me lembro de nada.
Atenção, o meu cepticismo não é dogmático. Mudo de opiniãoquando me mostrarem provas irrefutáveis. E a verdade é que fui agora ao quartoda minha filha e as doentes estavam todas perfiladas para uma aula de zumba.Tudo com ar bem-disposto. Tirando o Action Man.
17
Fev15

[and now for something different] sarampo, sarampelo...

beijo de mulata
Lido por aí... Sobre o ressurgimento do sarampo e do surto originado na Disneyland da Califórnia.


Numa sociedade cada vez mais desigual, surgem estes pequenos sinais de igualdade: hoje em dia, para apanhar uma doença erradicada, já não viajamos para uma zona miserável de África, vamos para um dos condados mais opulentos dos Estados Unidos.
Claro que continua a haver diferenças. No terceiro mundo, os ratos transmitem doenças às pessoas. Nos países desenvolvidos, as pessoas é que contagiam os ratos. Na Disneylândia, só desde Dezembro, já infectaram 7 Mickeys, 4 Ratatouilles e um Fievel.
Este ressurgimento do sarampo sucede porque o movimento antivacinas garante que há uma ligação entre vacinação e autismo. E é capaz que seja verdade. Ouvindo as pessoas que se recusam a vacinar os filhos, nota-se o discurso repetitivo, a incapacidade de comunicar e as dificuldades de aprendizagem típicas do autismo.
Mas é possível convencer os fanáticos antivacinas. A minha filha é ideologicamente contra as vacinas — começa a chorar sempre que estamos no mesmo código postal do Centro de Saúde — mas é aberta à razão. Principalmente se a razão for de chocolate e derreter.


Por José Diogo Quintela, aqui
09
Dez14

[outras palavras] o lugar das birras é no birrão!

beijo de mulata
Em criança atirava-me para o chão quando me contrariavam a vontade infantil. Fazia birras. Em qualquer lugar. Terminadas, normalmente, com um açoite e mais lágrimas. Era o método pacifista de antigamente: a palmada da paz.

Entretanto passaram-se 40 anos e deparo-me com uma criança de 18 meses a pôr-se em bicos dos pés, a crescer literalmente para mim, a encostar-me à parede para poder passar. Mal termino de proferir um Não! e já a miúda está a espumar da boca, de punhos cerrados e com um olhar, primeiro suplicante, depois raivoso. Sou a mãe carrasco. E ela não é menos do que um Gremlin, dos maus.

– Não dê importância! Senão, está tramada – Palavras da pediatra. Conselhos das amigas mães.

Regras dos livros com títulos que as mães querem ouvir: O Grande Livro dos Medos e Birras; Grandes Birras, Pequenos Truques; As crianças francesas não fazem birras. – A sério? Bem, talvez possa admitir que um Laissez faire, laissez passer! dito por uma criança francesa à sua mamã não envergonhe ninguém. E conforta-me saber que terei sempre Paris.

Ninguém gosta de fitas, caprichos, comportamentos exacerbados. Nos outros, claro. Respira-se fundo, conta-se até dez, argumenta-se, depois ameaça-se e, finalmente, castiga-se.

– Ignore! Tenha paciência! – Errado. Porque ninguém ignora; finge que ignora. Finge, impacientemente, que tem toda a paciência do mundo. Porque para a criança aprender a lidar com as suas frustrações, os pais têm de engolir as suas verdadeiras reações. Porque as crianças aprendem com o exemplo dos pais que, convenhamos, são exemplares quando fazem de conta. São dos melhores artistas que tenho observado.

No meu caso estou a iniciar carreira como cantora. Nunca me deu para cantar a meio de uma discussão. Só que as birras dão mesmo cabo da sanidade mental dos pais. Por isso, dei comigo a desatar a cantar, um destes dias, quando a minha filha se atirou para o chão porque não a deixei comer um parafuso. A um prego eu até poderia ter olhado para o lado mas o parafuso soltou-me as cordas vocais.

Birras são como vilãs / Tombos indiscretos no alcatrão sujo / Rasgando os nervos das mamãs / Deitados nas Birras, alheios a tudo / Olhos lacrimejantes / Pensamentos danados.
É mauzinho mas é sincero. E funcionou pois a miúda ficou sem pio. Penso que, instintivamente, sentiu que era melhor ter cuidado comigo. Percebo-a, há dias em que penso o mesmo sobre a minha pessoa.

Quanto a ela, gosto de pensar que a miúda é expressiva. Que manifesta um forte desejo de independência em construção. Quer trocar a fralda em pé, que estando empapada em cocó, me facilita imenso a vida. Quer comer com as mãos, o que não me incomodava se não fosse puré. Não quer pôr o cinto de segurança, eu obrigo e ela tira as alças assim que arranco. Quer sempre mais uma colher de xarope e, se a deixasse, auto-medicava-se desde os 2 anos. Ah! E quer pintar as paredes, que são minhas, com os lápis de cera, que são dela. A pro-atividade impera nas crianças.

Honestamente, invejo-a. E que caiam os dentes a quem negar esta evidência: todos os adultos mentalmente saudáveis, pais ou não, invejam as birras infantis. Porque também eles, em crianças, foram lesados nas suas vontades e impedidos de reclamar, ripostar, reagir.

E como se não bastasse terem sido obrigados a desistir dos seus caprichos de infância, ainda lhes é exigido que se comportem como adultos todos os dias do resto da sua vida! Uma crueldade. Felizmente, existem os batoteiros. Que são a maioria.

Para manterem a sanidade mental, adultos e crianças, têm mesmo de despejar as vontades contrariadas. Assim, a única solução que encontro é arranjar um birrão. É como ir pôr o lixo, à noite, na rua. Todos os dias temos de o fazer, atar o saco, carregá-lo e depositá-lo no lixão. Porque se acumularmos muitas birras ficamos nauseabundos. Limpeza é sobrevivência.

Deixemos pois as crianças fazerem as suas birras. Mas à noite, na rotina do soninho, depois de lavarem os dentes devemos ensiná-las a irem pôr as birras no birrão.

Já escrevi ao Pai Natal a pedir um birrão cá para casa, tamanho familiar. Estou em pulgas.

Por Sofia Anjos, aqui.
20
Set14

[outras palavras] ele tem autismo, não é autista!

beijo de mulata
Do blogue "Para Falar São Precisos Dois", um texto de Kerry Magro, um jovem adulto com autismo, professor universitário nos Estados Unidos, autor de um livro de auto-ajuda sobre as suas vivências e dificuldades.

 
 
Olá, o meu nome é Kerry e sofro de perturbação global do desenvolvimento sem outra especificação [em inglês, Pervasive Developmental Disorder Not Otherwise Specified - PDD-NOS).

Isto quer dizer que tenho autismo.
Isto não quer dizer que eu sou autista.
Isto quer dizer que eu por vezes vejo o mundo sob uma luz diferente.
Isto não quer dizer que eu esteja no escuro.
Isto quer dizer que, de tempos a tempos, eu tenho dificuldade em expressar as minhas emoções.
Isto não quer dizer que não tenho sentimentos.
Isto quer dizer que quando eu comunico, o faço num estilo muito próprio.
Isto não quer dizer que eu não tenho voz.
Isto quer dizer que eu tenho uma enorme sensibilidade para certas texturas e toques.
Isto quer dizer que alguns sons me fazem sentir desconfortável.
Isto não quer dizer que seja surdo ou duro de ouvido.
Isto quer dizer que me foco muitas vezes em certos interesses por um longo período de tempo.
Isto não quer dizer que aqueles sejam os meus únicos interesses.
Isto quer dizer que sou o único na família que tem esta condição.
Isto não quer dizer que estou sozinho.
Isto quer dizer que tenho 500 sintomas e capacidades diferentes das outras pessoas.
Isto não quer dizer que seja mais ou menos que ninguém.

O meu nome é Kerry e, independentemente do que PDD-NOS queira dizer, o autismo não me define. Eu sou uma das definições. E apenas posso desejar que todas as outras pessoas, tenham ou não autismo, possam também definir as suas vidas e os seus percursos pela maneira como os veem!

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