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Beijo de Mulata

Beijo de Mulata

20
Abr14

[sons que nos elevam] estou rendida!

beijo de mulata




Assisti à estreia absoluta desta Missa na Igreja de São Tomás de Aquino e fiquei absolutamente rendida. Até o baby-de-mulata, habitualmente tão desprendido de mim nos concertos, concentrado nas suas brincadeiras silenciosas, que só levanta a cabeça para encontrar o meu olhar furibundo nº3 quando se apercebe de que fez inadvertidamente algum barulho (sim, eu nestas situações lanço logo, como preventivo, o nº3, que quer dizer "se-fazes-mais-algum-barulho-pego-em-ti-ao-colo-e-é-esse-o-teu-castigo-que-eu-sou-mãe-de-fracos-recursos-podias-ter-escolhido-melhor-mas-enfim-foi-o-que-se-pôde-arranjar"), de vez em quando parava e ficava a ouvir.


Mais para o final da missa, aproximou-se de mim, pediu-me colo e ficou ali a namorar-me, a dar-me beijinhos e a aninhar-se em mim, embevecido por aquela música que o elevava e arrebatava... (Ou será que está apaixonado por mim?) No fim bateu palmas entusiasticamente.


A igreja estava à pinha e no encore via-se que as pessoas estavam sideradas! Pregadas à cadeira. Ninguém respirava... E digam-me os que são apreciadores/ conhecedores se não é a missa mais bonita, mais doce que já ouviram? Só postei o Sanctus, que não vou maçar quem não aprecia, mas está tudo ali por perto no youtube, para os que quiserem ouvir. Que privilégio ter assistido a uma estreia assim! Obrigada ao compositor por aqueles momentos tão próximos com o meu baby!
23
Ago13

[lixo no carro] devemos contrariar o cliché?

beijo de mulata

 
Ontem a Rádio Comercial recordou este episódio da Mixórdia de Temáticas. Perante a última parte (04:50) e, o ponto de vista de Pipoco de que vos falei há dias, ocorreu-me então o seguinte dilema: será que devo continuar a contrariar o cliché e manter o meu automóvel impecavelmente limpo e arrumado, com a ajuda do saco de lixo da minha amiga Mimi e, tornar-me, portanto, mais atraente como mulher? Ou recusar-me a ser submissa, recusar-me a fazer algo só para me tornar mais desejável, negando assim toda a minha feminilidade e toda a minha essência (isto é, negando a tendência inata que tenho de desarrumar o carro)? Será que os homens que se sentem atraídos por mulheres que têm o carro limpo não estarão a sentir-se atraídos pelo seu lado masculino? Será esse o tipo de homem que as mulheres querem? Que me dizem?
21
Ago13

[welcome to mozambique] o milagre da harmonia

beijo de mulata
Um exemplo do que vos disse ontem para que vejam como é verdade, verdadinha tudo o que vos contei (vêm muitas pessoas a este mato que não me deixam mentir, mas nem toda a gente sabe disso):

Uma madrugada eu, a minha amiga R. e as meninas que viviam  connosco e com as irmãs fomos com um enorme grupo da comunidade a uma caminhada até ao cimo do monte Gilé. Esta atividade em grupo, intensa e animada, terminou numa missa campal em que as senhoras cantaram uma música que não conhecíamos.

Semanas depois, as meninas cantaram esta mesma música namissa. Precisamente no mesmo tom (haverá certamente algumas com ouvido absoluto, ou com uma capacidade de gravação notável, embora não o saibam). Com uma harmonia e segundas vozesirrepreensíveis! Nessa noite, quando as aplaudi e elogiei, olharam para mim, incrédulas do meu entusiasmo. Primeiro até pensaram que estava a brincar. Depois fizeram aquele olhar de adolescente: "Duh! Está aí alguém?" E eu continuei embasbacada e embevecida...

?
 
P. S. - Claro que o baby-de-mulata sabe esta música. Continuamos no nosso trabalho de inculturação e exercícios africanos. Há tempos hesitei em cantar-lhe uma música em inglês porque se calhar "ainda era muito cedo". Depois lembrei-me que ele já canta em Macua...
27
Jul13

[músicas para o baby-de-mulata] rema para lá, lanchinha

beijo de mulata

 
Quando o baby-de-mulata "nasceu" cá para casa, na altura com 16 meses, reuni as mais belas canções de embalar que conhecia, desde o Candlelight Carol do Rutter até às canções que aprendi com as mamãs macuas nas longas noites que passei no hospital em Moçambique, à cabeceira dos meninos mais doentes. Recordei as músicas que aprendi com os senhores da "Música nos Hospitais", os tais de quem já vos falei uma vez, que quando apareciam deixávamos de necessitar de tanta medicação para a dor e os meninos descansavam sempre melhor nessa noite.
 
As primeiras noites comigo foram idílicas... Eu sentia-me inspirada, afinava a voz, que só na idade adulta se conformou às escalas e conseguiu começar a cantar, e ele quase adormecia nos meus braços. Depois era só pô-lo na cama, dar-lhe um beijinho e tapá-lo e ele ficava meio adormecido, com um sorriso de anjo.
 
Foi mesmo sol de pouca dura... É que havia um pequeno pormenor de que eu não me tinha lembrado: o baby-de-mulata é rapaz! Daqueles mesmo em que o cromossoma Y se nota à légua. E também não é muito amigo de dormir... Portanto o que era o Candlelight Carol comparado com as músicas muito mais interessantes que eu lhe cantava durante o dia, sobre popós, aviões e bicicletas? Ele queria excitação e ritmo e eu dava-lhe Brahms e Rutter? Que desgraça de mãe que lhe tinha caído em sorte...
 
E então no dia em que, já à míngua de músicas para rapazes, lhe cantei "O carro do meu chefe teve um furo no pneu", foi o descalabro total. Dom baby-de-mulata fez-me a derradeira desfeita de a eleger como a sua canção de embalar preferida! Eu merecia? Pelos vistos sim. E ele também... E foi assim que começou a demorar muito mais tempo a adormecer, mas as mais belas canções de embalar deram lugar às mais-belas-e-estapafúrdias-canções-e-coreografias-e-respetivas-variações de embalar. O que se perdeu em romantismo ganhou-se em riso e divertimento.
 
Até que há umas semanas o Senhor Édipo chegou cá a casa sem eu contar... E ele se aninhou no meu colo e com a sua voz mais fofa me pediu: "Canta, mãe..." "E que música queres", perguntei-lhe. E ele pediu-me a "Lanchinha". Agora, de vez em quando lá me deixa matar saudades do papel de mãe que idealizei para mim e que, confesso, não tem metade da graça do papel que ele me ensinou a desempenhar...
26
Nov12

[alhos e blogalhos] valha-me nossa senhora do google

beijo de mulata

Meus queridos amigos, eu não gosto de vos importunar com "bloguices" aqui do mato, até porque qualquer vizinho de morada do blogspot também deve ter histórias igualmente engraçadas...

A verdade é que hoje venho aqui carpir as minhas mágoas. Muito me agradaria continuar a dizer que a maioria dos visitantes que aqui desagua, navegando à boleia do google, vem à procura de "mulatas nuas" e de "mulatas selvagens", mas infelizmente, nos últimos tempos, o top 10 das pesquisas tornou-se, lamentavelmente, mais educado e decente. Eu sempre confiei que o nome deste mato pudesse atrair para sempre pesquisas mais interessantes, mas parece que já não conseguimos enganar ninguém...

O que ainda me vale, para animar o sitemeter, são os senhores que têm a bússola cibernética avariada e vêm naufragar aqui ao mato com pesquisas que não lembram ao menino Jesus.

Ora então temos as últimas pesquisas pertinentes que vieram aqui aportar:

- Imagens de Santo Mé e Príncipe (!) - Oh, valha-me São Mé, santo padroeiro dos ovinos e caprinos, segundo o nosso comentador honoris causa.

- Lista de todas as vadias de Nampula até Cuamba - Credo, ó senhores... Mas precisava mesmo de ser uma lista de todas, todas? Se fosse assim umas quatro ou cinco ainda se conseguia arranjar. Eu própria conheci e tratei algumas no hospital de Iapala e ainda me recordo dos nomes, mas mais do que isso não conseguimos. De qualquer modo, aqui ficam os meus sinceros parabéns pelo otimismo! Acreditar que é possível, num qualquer recanto blogosférico, encontrar uma lista deste calibre é algo digno de um homem de fé!

A Santa do Eixo da Via - Ora que bela ideia! Deve ser a santa padroeira dos chapas! Eles andam a velocidades suicidas sem nunca se desviarem um milímetro do meio da estrada. E nós, os condutores com algum apego à vida, acabamos por ir parar à berma o mais rapidamente possível, mesmo arriscando a pele no voo lateral...

- Pode-se tomar pau de cabinda com o mata-bicho? - Bem, poder pode. Com o mata-bicho, com uma cerveja, com um café... Mas com a namorada penso que seria mais agradável. Mas cada um sabe de si.

- Baptiza Qualquer Rato - Meu senhor, não vejo por que não! Que mal pode haver nisso? Qualquer rato também é filho de Deus e produto da Sua divina criação, passe o pleonasmo. Em tempos houve um bispo em Utrecht que chegou a batizar uma mola hidatiforme! Uma mola hidatiforme de uma condessa, é certo, mas ainda assim... E aqui a história assevera-nos, mais uma vez, que um bispo nunca se atrapalha, que um bispo enrascado é pior que um anestesista bêbado. E reza, pois, a história que o digníssimo clérigo dividiu aquela massa vesiculosa em 365 partes iguais e batizou metade com o nome de João e a outra metade com o nome de Isabel e mandou depois fazer-lhes um funeral condigno.

- Banhos para atrair mulheres funcionam mesmo? - Por acaso esta já tinha aparecido antes... Bem, meus senhores, estudos científicos por acaso não temos. Mas temos uma teoria ...

Afinação para vinte vozes brancas - Ai, meu amigo, deixe-se disso... Esqueça! Mesmo. Dedique-se a outra coisa. Vai ser uma canseira sem proveito nenhum. O próprio Bach nunca passou da afinação para quatro vozes. E mesmo assim sabe Deus!

A todos estes senhores, que conseguiram cá chegar com apenas estas coordenadas, os meus parabéns e o meu mais sincero obrigada pelos sorrisos que me proporcionaram!
10
Set12

[caderneta de cromos] as mulheres do técnico...

beijo de mulata
O meu irmão é um convicto engenheiro do Técnico. Um engenheiro que gostou de estudar no Técnico. E que ainda hoje se orgulha em ter sido do Técnico. Durante os seus tempos de faculdade levou a sério a vivência do espírito académico: não faltava a um arraial, fazia parte da associação de estudantes, inventava piadas sobre todo o tipo de pessoas e situações do IST, contribuía religiosamente para a ração do Nabunda, o rafeiro de estimação da associação de estudantes, que acabou por falecer no seu ano de finalista com um carcinoma do fígado, depois de mais de metade dos alunos se ter quotizado para lhe pagar os tratamentos de quimioterapia.

O meu pai também era então professor do Técnico (agora, felizmente, mudou de faculdade, que ao menos sempre se variam as piadas e os assuntos). Na altura ambos se divertiam com as piadolas do IST (por ex.: "Há vários tipos de mulheres: as mulheres bonitas, as assim-assim, as feias, as horríveis e as do Técnico!"). Ora, certa vez, o meu pai, grande defensor do estatuto da mulher e da igualdade de direitos e capacidades, comentou:

- O Técnico está a mudar. Já era tempo, realmente. Tenho uma turma do curso de Gestão e Engenharia Industrial que é só de mulheres.

E responde o meu irmão:
- Não, pai, estás enganado, não há nenhuma turma no Técnico que seja só de mulheres. E mesmo que houvesse, já tinha sido invadida por homens. Mas não há, tenho a certeza.
- Não, filho, tenho uma turma que é só de mulheres. Ou pelo menos maioritariamente, que nunca lá vi nenhum homem.
- Não, pai, não há turmas só de mulheres.

E o meu pai lá foi confirmar. Realmente estavam muitos homens inscritos naquela turma, mas nas aulas só havia invariavelmente mulheres. Até que o meu irmão desvendou o mistério: as aulas eram às 17:00. E às 17:00 os rapazes do Técnico estavam todos a ver o Dragon Ball.

E pronto. A Caderneta de Cromos do Nuno Markl vai acabar e eu estou triste. Um dos últimos cromos foi sobre o Dragon Ball e esta é a minha singela contribuição.
19
Ago12

[outras palavras] confissão de nãozinha, a feiticeira

beijo de mulata

Mulher curandeira...
(Malema, Nampula)

Sou Nãozinha, a feiticeira.Minhas lembranças são custosas de chamar. Não me peça para desenterrarpassados. A serpente engole a própria saliva? Tenho que falar, por suaobrigação? Está certo. Mas fica a saber, senhor. Ninguém obedece senão em fingimento.Não destine ordem em minha alma. Senão quem vai falar é só o meu corpo.
Primeiro, lhe digo: não devíamosfalar assim de noite. Quando se contam coisas no escuro é que nascem mochos.Quando terminar a minha história todos os mochos do mundo estarão suspensossobre essa árvore onde o senhor se encosta. Não tem medo? Eu sei, você mesmo,sendo preto, é lá da cidade. Não sabe nem respeita.
Vamos então escavar nessecemitério. Digo certo: cemitério. Todos os que eu amei estão mortos. Minhamemória é uma campa onde eu me vou enterrando a mim mesmo. As minhas lembrançassão seres morridos, sepultados não em terra mas em água. Remexo nessa água etudo se avermelha. Lhe inspiro medo? Por essa mesma razão, o medo, eu fuiexpulsa de casa. Me acusaram de feitiçaria. Na tradição, lá nas nossas aldeias,uma velha sempre arrisca a ser olhada como feiticeira. Fui também acusada, injustamente.Me culparam de mortes que sucediam em nossa família. Fui expulsa. Sofri. Nós,mulheres, estamos sempre sob a sombra da lâmina: impedidas de viver enquantonovas; acusadas de não morrer quando já velhas. Mas hoje me aproveito dessaacusação. Me dá jeito pensarem que sou feiticeira. Está ver? Meus poderes nascem da mentira. 
Mia Couto in A Varanda do Frangipani

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