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Beijo de Mulata

Beijo de Mulata

15
Mai17

[o milagre dos pastorinhos] e os meus milagres particulares

beijo de mulata


I once had a hospital in Africa...
(Gilé, Zambézia)

Confesso que ainda não consigo ler ou ouvir a história do menino Lucas, que sustenta a canonização dos pastorinhos de Fátima, sem me emocionar. Eu sou médica e ainda para mais trabalhei no meio do mato em Moçambique numa zona completamente desprovida de meios, onde a fé das pessoas é enorme, só superada pelo amor pelas crianças. Um povo fascinante, tem de concordar quem já lá viveu. É obvio que já vi e vivi muitas situações-limite! Assisti a curas prodigiosas. Posso dizer, em tom metafórico, que já vi muitos milagres na vida! Mas não. Não vi.

Milagres autênticos, não explicáveis pela fisiopatologia, acho que só vi um. Ou dois, pronto. Um e meio, já que para o primeiro ainda ponho hipóteses explicativas. Já vos contei as histórias (podem ir ali atrás ler esta história, e a outra também, mas aviso desde já que esta última é longa e difícil), talvez um pouco parecida com a do Lucas: Uma criança em descerebração acabou por recuperar sem sequelas! A situação era de tal forma grave que me cheguei a arrepender de ter insistido no tratamento. Quando vi que o menino estava reagir em descerebração fiquei horrorizada. A minha convicção foi apenas que o menino haveria de ficar com sequelas gravíssimas. Da mesma forma que os médicos que reanimaram o Lucas antes de o operar pela primeira vez poderão ter duvidado se tinham feito o que era correto... Não sei o que sentiram neste caso. Eu pessoalmente sei que reanimaria, mas haveria de duvidar por dentro se estaria a fazer o que era melhor para o menino.

Mas depois avisaram os pais do Lucas de que o menino poderia ficar com sequelas muito graves, possivelmente em estado vegetativo antes de o transferir para um hospital maior. Talvez tenham mesmo chegado a fazer a pergunta que este aviso quer dizer: "Querem mesmo que se continue o tratamento ou preferem que paremos por aqui, já que a situação é desesperada? No final vão aceitar cuidar o menino se ele ficar com sequelas graves?" Eu própria fiz a mesma pergunta aos pais do meu menino. Eu não tinha para onde o transferir, perguntei apenas se queriam que o menino fosse morrer a casa. Mas tudo o resto foi igual. Tenho a imagem do milagre gravada na minha mente. O menino acordou, horas depois, e começou a brincar com o meu estetoscópio vermelho. A minha cara de espanto e felicidade deve ter sido muito expressiva, porque a mãe sorriu e chorou comigo. Não sei se se chegou a aperceber do quão extraordinária foi a cura do filho.

Aquilo a que assisti não tenho a certeza se foi milagre, mas já perguntei a muitos colegas especialistas nesta área e ninguém viu semelhante coisa. O cérebro é plástico, isso eu sei e não é novidade para ninguém. Mas há limites. E a descerebração é onde eu traço o meu.

Se foi milagre de algum santo em particular não sei. Nunca saberei. Nem me ocorreu rezar, de tal forma estava convencida de que o desfecho seria trágico. Não tenho registos. Por acaso tenho uma testemunha, mas não há maneira de haver provas. Sei que a Irmã Lurdes rezou por ele ao seu santo de particular devoção. Mas não sei mais nada. Isto para dizer que todos os dias há milagres. E quando não são milagres, são graças enormes. E que vale a pena acreditar, porque quem não acredita (que é quase sempre o meu caso,  infelizmente) sofre mais!

Se aprendi a rezar por milagres? Acho que não. Mas devia. Talvez ainda vá a tempo...
16
Abr17

[iapala revisitada] as flores do frangipani

beijo de mulata

Esta é a flor do frangipani, uma árvore de xicuembos* e xipocos**, a árvore dos deuses e dos antepassados, de flores românticas e perfumes noturnos... O frangipani tem as flores das manhãs claras, que vêm enfeitar os cabelos das jovens, das noivas, das virgens e os adros das igrejas nos dias felizes.
(Iapala, Nampula)

Como diria o meu amigo Lépido, nós não temos estilos, temos momentos... E eu também tenho direito a dias pirosos! Pronto, era só isto. Aqui no mato-que-já-não-é-mato não temos livro de reclamações. Nem mesmo o Sr. Pompisk, o maior comerciante da Zambézia tinha tal modernice! Para ele, se nos estiver a ouvir, aquele abraço. Tenham um bom dia e que a Páscoa  (ou a Primavera, o que vos disser mais) vos renove.

* Deuses
** Fantasmas
07
Out13

[marasmo] autismo e depressão...

beijo de mulata
 
As crianças desnutridas na varanda da enfermaria de Pediatria.
(Iapala, Nampula)

(continuando...)

Mas a minha amiga Fátima não me deixou parar. "Estas mulheres dizem isto porque não têm filhos desnutridos, se não nunca iam desistir também!" Decidi continuar para não desiludir a minha amiga, mas eu própria estava vacilante.

Felizmente, no dia seguinte o menino recuperou o peso que perdera e não voltou a vomitar com a sonda nasogástrica. Já não sei dizer quantos dias depois começou a aceitar a solução nutricional pela colher e a aumentar de peso. As feridas começavam finalmente a sarar. Mas continuava a guinchar à nossa aproximação, a não se interessar pelos brinquedos com que o tentávamos estimular, a não olhar para o que a mãe lhe mostrava, a não comunicar de forma nenhuma. Agora que recuperava um pouco o peso e tinha mais energia, fazia uns movimentos bizarros com as mãos que se assemelhavam a estereotipias. O Dino tinha uma perturbação do espetro do autismo, concluímos. Fora por isso que a introdução da alimentação tinha sido tão difícil e que tudo o que se seguiu fora uma batalha terrível... Mas a mãe estava feliz e agradecida! Já tinha tido o seu milagre! O filho era assim difícil, mas estava vivo e a salvo, era tudo o que ela queria. Aceitava-o incondicionalmente, tal como ele era.

Entrava por fim em velocidade de cruzeiro na recuperação do peso e era uma questão de dias ou semanas até ter alta. Passaram-se mais uns dias sem que o víssemos com muita atenção. A mãe também aproveitou para ir um fim-de-semana a casa com o filho. Lembro-me vagamente de nessa altura ela me confidenciar tristemente: "Sabe, doutora, o meu filho quando era mais menino sorria muito..." Um murro no estômago... Não soube o que dizer naquele momento. Pus-lhe a mão nas costas e penso que ainda disse qualquer coisa como: "Força!" ou algo que o valha.

Acho que foi por isso que me surpreendi tanto quando, uma semana depois, o vi chegar a sorrir para mim, a andar pelo seu pé e a brincar com um brinquedo que eu lhe dera semanas antes! Onde estava o menino apático a quem tínhamos diagnosticado autismo? O que acontecera? "Nada!", dizia a mãe a sorrir, "Foi de repente. Num dia estava apático, no dia seguinte começou a olhar para as coisas que lhe mostrava, começou a sorrir, a falar um pouco. E ontem voltou a andar!" E a mãe já descobrira o que lhe tinha provocado a doença. Ela sempre suspeitara: fora o pão! Em casa tinha-lhe dado pão e ele vomitara, queixara-se da barriga e a diarreia regressara. Por isso cortara totalmente com o pão. Dentro de casa dela não voltaria a haver esse alimento, afirmava!

O pão?! Ai, valha-me Deus! Uma doença celíaca? O que acham vocês, meus colegas médicos? Eu não sei. Não posso ter a certeza, que não lhe fiz mais exames nenhuns. Mas finalmente tudo fazia sentido. Na introdução precoce dos alimentos, o Dino, miúdo difícil e obstinado, dera conta que algum alimento lhe fazia doer a barriga e preferiu não comer nada. Nem mesmo leite materno. Começou por ser uma defesa. O único alimento em que "confiava" era no milho e, por isso, restringiu a sua alimentação a este cereal. Durante uns tempos a situação manteve-se estável. O milho tem proteínas e conseguia dar-lhe as calorias necessárias para se sustentar. Mas falta-lhe um aminoácido essencial. Mesmo com o feijão, que comia ocasionalmente, não foi suficiente para manter aquele equilíbrio precário. Daí às lesões na pele e à regressão do desenvolvimento foi um pequeno passo, que uma doença febril acabou por atirar pelo precipício, levando ao marasmo grave que o fizera ser admitido no hospital.

E podia continuar a discorrer por aqui afora, falar de nutrição infantil, de aminoácidos essenciais, vitaminas, dos riscos da alimentação à base de milho, tão frequente na cultura macua, mas não foi para isso que escrevi este post. Só te queria dizer, Maria, que sei bem o que sentes quando falas de fome e desnutrição. Mais, que sei que uma criança desnutrida não sorri, não brinca, às vezes nem responde aos nossos esforços mais persistentes e ou às macacadas mais improváveis.

E pior, muito pior: há dias em que acreditamos na expressão de desalento das crianças. E quando uma criança deixa de sorrir é como se o futuro deixasse de fazer sentido. Ficamos sem chão.

É nessas alturas que tens de te lembrar de respirar fundo, princesa, e recordar as razões pelas quais em África se vive um dia de cada vez: é que com a fome nunca há batalhas ganhas. A guerra recomeça todos os dias.

Mas como dizia a minha amiga, nestas coisas não podemos querer 100%. Não vamos nunca conseguir salvar o mundo com os meios que temos, mas tentaremos com todas as nossas forças ajudar quem se cruzar connosco. E fazer como a Fátima: não acreditar nas vozes que nos dizem que as crianças não querem viver. É raro uma criança desistir. Mas elas podem: são crianças. Nós é que não podemos. Força, Maria! Carter não era enfermeiro. Nunca viu ninguém sorrir depois de ter estado às portas da morte. Nunca viu o olhar de agradecimento de uma mãe. Carter estava na profissão errada, confia em mim!
31
Ago13

[welcome to mozambique] inseticida...

beijo de mulata
A pedido de ainda mais famílias, aqui fica mais um pequeno excerto do meu livro:

Deixo-me ficar na cama ainda mais uns minutosdepois do alarme do telemóvel tocar. Recordo-me desta noite... Ainda nemacredito que recebi um recém-nascido em Moçambique, à luz das velas, como nasmais antigas histórias que ouvia contar! (…)
Cumprimento a Amélia, a minha discretacompanheira de quarto, uma osga simpática e madrugadora, que a esta hora já seencontra colada aos vidros da janela ao sol (desconfio que terá passado ali anoite...), com as patinhas esticadas numa enorme preguiça, à espera do pequeno-almoçoesvoaçante (este sim, literalmente um “mata-bicho”). Instalou-se no meu quartohá três dias, trazida pelo cozinheiro ante o meu olhar de ponto deinterrogação. Eu tinha-lhe pedido inseticida pois não tinha rede mosquiteira noquarto, ao que ele respondera:

– Não sei o que é set'cida, doutora...
– Remédio para os mosquitos –reformulei.

– Ah, não tem problema!
E horas depois regressou com a Amélia...A verdade é que esta minha inquilina é uma exímia caçadora de mosquitas,mosquitos e moscas e ainda não precisei de usar inseticida.

in A Missão - Diário de uma Médica em Moçambique
20
Ago13

[welcome to mozambique] a música é a alma de um povo!

beijo de mulata


Já vos falei disto dezenas de vezes. Assistir a uma cerimónia ou uma celebração em Moçambique é coisa para nos deixar sem ar de tal forma os nossos sentidos são intensamente invadidos. Pelas cores vivas das capulanas das mulheres e das flores que dão vida ao espaço (onde nunca faltam os ubíquos beijos-de-mulata, que, como sabemos, nascem em qualquer degredo e se criam em qualquer chão!) e que parecem flutuar, suspensos nos fios que cruzam o espaço bem acima das nossas cabeças. Somos quase impercetivelmente inebriados pelo suave perfume das flores do frangipani que nos evoca o cheiro exótico da noite africana e pelo cheiro da terra, da erva, dos rios que correm próximo e das flores silvestres, a que se mistura o odor a corpos, que longe de ser desagradável, subitamente faz sentido naquela mescla de sensações que nos prende com toda a força à realidade!

E a música é arrebatadora! O ritmo quente dos batuques e a harmonia espontânea das várias vozes preenche-nos a mente e instiga-nos a dançar, nem que seja em fantasias, numa energia que nos sacode a alma. Tudo parece um milagre, de tão fácil e intuitivo que aparenta. Quase diríamos que não era possível haver quem cantasse ou tocasse assim sem nunca ter tido aulas de música. Mas várias vezes assisti ao prodígio de ensinar uma música às meninas que viviam com as irmãs e, à quarta ou quinta vez que a cantavam, já havia duas ou três que entoavam uma segunda voz, criada no momento, acrescentando à melodia cores e profundidades anteriormente insuspeitadas. São dons de quem, "desde a capulana de sua mãe"*, foi ensinado a que saber cantar e dançar é tão importante como saber falar ou ter boas maneiras em sociedade.

* Expressão equivalente a "desde o berço".
17
Ago13

[nomes que afinal não dizem tudo] welcome to mozambique

beijo de mulata
 
Mamã com crianças...
(Iapala, Nampula)

A pedido de várias famílias, aqui fica um pequeno excerto do meu livro. É sobre um episódio no dia da chegada à missão de Iapala...
"Antes do jantar, recebemos a visita de uma jovem com um bebé depoucos meses adormecido às costas. O menino vinha no seu traje de gala, com umconjunto de gorro e meias de lã, amarelo com uma risquinha verde, amorosamentetricotado à mão por uma das irmãs.  
– A touquinha e as peuguinhas de lã são o melhor presente que se pode dar auma mamã – explicou-me depois a irmã Lurdes.  
– Com estecalor?
– Não me perguntes porquê, mas todas as mamãs adoram. 
Realmente,como diria Mark Twain, os costumes mais absurdos são sempre os que permanecemmais enraizados... A "touquinha", como a irmã lhe chamava, era umgorro de inverno, de aspeto bastante quente, com direito a pompom e tudo! Ajovem era mulher de um dos empregados da missão. Sabia que a irmã Conceiçãotinha chegado e vinha dar notícias da sua ida a Nampula para registar o menino.
– Não me deixaram pôr o nome que a irmã disse – lamuriou-se.
– Porquê? – Espantou-se a irmã Conceição.
– Disseramque não era nome normal. 
 Mas que estranho...
A jovem mamã tinha ido, dias antes, ter com as irmãs a Nampula porqueestava com dificuldades na escolha do nome do bebé. Era o primeiro filho, o quetornava o processo muito mais complexo, com uma grande responsabilidade. Queriadar-lhe o nome de um padre, porque os missionários eram as pessoas maisimportantes da região, mas não sabia que nome escolher. A irmã lembrara-seentão que o pai do menino, em tempos, trabalhara para um padre em Nampula etinham ficado particularmente amigos.

– Porque nãolhe põe o nome dele?
A sugestãotinha sido bem aceite...
– Mas, afinal, qual era o nome que lhe queria dar? – Perguntei, curiosa.
– Padre Arlindo...  
A jovem estava desolada, mas eu tive de deixar cair um brinco no chão parapoder esconder a cara, porque só me apetecia sorrir às gargalhadas com aquelacena digna de uma comédia dos anos ’30. Depois de uma longa explicação dasirmãs, a jovem saiu um pouco mais conformada.
– Acho quenão vai muito convencida... Só Arlindo parece que não diz tudo – notei.
– Também meparece... Mas ainda bem que o funcionário do Registo Civil foi sensato, senão omenino tinha ficado com um Arlindonome! E se fôssemos jantar?"

in A Missão - Diário de uma Médica em Moçambique
26
Nov12

[alhos e blogalhos] valha-me nossa senhora do google

beijo de mulata

Meus queridos amigos, eu não gosto de vos importunar com "bloguices" aqui do mato, até porque qualquer vizinho de morada do blogspot também deve ter histórias igualmente engraçadas...

A verdade é que hoje venho aqui carpir as minhas mágoas. Muito me agradaria continuar a dizer que a maioria dos visitantes que aqui desagua, navegando à boleia do google, vem à procura de "mulatas nuas" e de "mulatas selvagens", mas infelizmente, nos últimos tempos, o top 10 das pesquisas tornou-se, lamentavelmente, mais educado e decente. Eu sempre confiei que o nome deste mato pudesse atrair para sempre pesquisas mais interessantes, mas parece que já não conseguimos enganar ninguém...

O que ainda me vale, para animar o sitemeter, são os senhores que têm a bússola cibernética avariada e vêm naufragar aqui ao mato com pesquisas que não lembram ao menino Jesus.

Ora então temos as últimas pesquisas pertinentes que vieram aqui aportar:

- Imagens de Santo Mé e Príncipe (!) - Oh, valha-me São Mé, santo padroeiro dos ovinos e caprinos, segundo o nosso comentador honoris causa.

- Lista de todas as vadias de Nampula até Cuamba - Credo, ó senhores... Mas precisava mesmo de ser uma lista de todas, todas? Se fosse assim umas quatro ou cinco ainda se conseguia arranjar. Eu própria conheci e tratei algumas no hospital de Iapala e ainda me recordo dos nomes, mas mais do que isso não conseguimos. De qualquer modo, aqui ficam os meus sinceros parabéns pelo otimismo! Acreditar que é possível, num qualquer recanto blogosférico, encontrar uma lista deste calibre é algo digno de um homem de fé!

A Santa do Eixo da Via - Ora que bela ideia! Deve ser a santa padroeira dos chapas! Eles andam a velocidades suicidas sem nunca se desviarem um milímetro do meio da estrada. E nós, os condutores com algum apego à vida, acabamos por ir parar à berma o mais rapidamente possível, mesmo arriscando a pele no voo lateral...

- Pode-se tomar pau de cabinda com o mata-bicho? - Bem, poder pode. Com o mata-bicho, com uma cerveja, com um café... Mas com a namorada penso que seria mais agradável. Mas cada um sabe de si.

- Baptiza Qualquer Rato - Meu senhor, não vejo por que não! Que mal pode haver nisso? Qualquer rato também é filho de Deus e produto da Sua divina criação, passe o pleonasmo. Em tempos houve um bispo em Utrecht que chegou a batizar uma mola hidatiforme! Uma mola hidatiforme de uma condessa, é certo, mas ainda assim... E aqui a história assevera-nos, mais uma vez, que um bispo nunca se atrapalha, que um bispo enrascado é pior que um anestesista bêbado. E reza, pois, a história que o digníssimo clérigo dividiu aquela massa vesiculosa em 365 partes iguais e batizou metade com o nome de João e a outra metade com o nome de Isabel e mandou depois fazer-lhes um funeral condigno.

- Banhos para atrair mulheres funcionam mesmo? - Por acaso esta já tinha aparecido antes... Bem, meus senhores, estudos científicos por acaso não temos. Mas temos uma teoria ...

Afinação para vinte vozes brancas - Ai, meu amigo, deixe-se disso... Esqueça! Mesmo. Dedique-se a outra coisa. Vai ser uma canseira sem proveito nenhum. O próprio Bach nunca passou da afinação para quatro vozes. E mesmo assim sabe Deus!

A todos estes senhores, que conseguiram cá chegar com apenas estas coordenadas, os meus parabéns e o meu mais sincero obrigada pelos sorrisos que me proporcionaram!
13
Nov12

[exercícios africanos] how do i do it

beijo de mulata
 
 
A pedido de várias famílias, algumas já constituídas, outras em projeto, partilho convosco como é que eu faço os exercícios africanos com o baby-de-mulata para o preparar para uma ida a Moçambique. No vídeo podemos apreciar a D. Catarina, a parteira de Iapala, a colocar a neta na capulana.
(Iapala, Nampula)
Em voz-off, os comentários da minha amiga F.
 
Eu sei que faz impressão aquele momento em que a criança fica sem qualquer apoio nas costas dela mas, nesta técnica, não há mesmo outra maneira: as crianças têm de ficar muito quietinhas e a mãe não se pode mover para os lados, sob pena de a criança cair. Elas aprendem facilmente que não se podem mover. E também sentimos se a criança começar a resvalar, portanto conseguimos ampara-la. Mas enfim, eu, pessoalmente, como sou um pouco azelha e o baby não tinha prática destes assados, começámos por praticar em cima da cama e com alguém ao lado para amparar. A pouco e pouco fomos ganhando prática e agora já conseguimos levar a cabo todo o processo sem ajuda de mais ninguém (embora com alguém por ali para dar uma mãozinha se for preciso) e sem cama ou tapete por baixo!
 
E pronto, é isto. Não precisam de agradecer! Sabem que gostamos de fazer serviço público. E de ter as mãos livres...
 
Adenda: Esqueci-me de referir que o baby-de-mulata não gosta de ver o mundo a partir das minhas costas, portanto tenho de passar rapidamente por baixo do braço para que ele venha para a frente... E eu também gosto mais de o ter nessa posição de canguru.
13
Mai12

[iapala] a convalescença...

beijo de mulata

 A beber soro...
(Iapala, Nampula)


(continuando...)

Ao fim do dia o menino jáestava melhor. Ainda não tinha forças para se sentar, mas começou a pedircomida e já tinha conseguido comer um pouco de arroz e feijão. Ia ser uma noitemais tranquila para mim.

Pouco dias depois, omenino estava pronto para ter alta. O avô veio ter comigo: “Irmã, menino estávivo, graças a Deus!” Eu estava, se possível, ainda mais grata. Estava felizporque tinha conseguido impedir que o único filho daquele casal morresse eporque tinha aprendido muita coisa com aquela família. Só agora, por fim,compreendia que o facto de o avô me ter dirigido a palavra e se ter disposto aexpor-me os seus pontos de vista, tinha sido afinal um momento raro eextraordinário. Mais do que um confronto, mais do que um pedido de explicações,mais do que o questionar do tratamento e dos meus métodos, o que ele me tinhavindo fazer tinha sido um voto de confiança. Foi assim que a irmã Lurdesinterpretou a conversa que depois lhe relatei. Ele fizera-o certamente e apenasporque tinha percebido que eu me interessara pelo neto e soubera que eu tinhaido visitar o menino várias vezes no dia anterior, até mesmo durante a noite, einsistido no tratamento. De outro modo teria fugido com a família assim que euvoltasse costas, sem me dar qualquer explicação e o menino teria morrido. 

Nas semanas seguintespassou a ser muito mais fácil tratar as crianças com diarreia grave. Graçasàquele avô, eu tinha percebido alguns vícios de raciocínio enraizados nacultura macua e comecei a conseguir antecipar algumas dificuldades. E depois,havia um outro fator facilitador: é que as mães, quando entravam na enfermariaviam sempre uma ou outra mãe a dar soro aos filhos com um sorriso nos lábios ecertamente falavam umas com as outras, portanto, era muito mais fácilconvencê-las de que o soro não era “choro”, que as crianças choravam porquequeriam mais e que não era o soro que provocava a diarreia. Também nunca maishouve fugas durante a noite…

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