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Beijo de Mulata

Beijo de Mulata

14
Dez12

[um dador para a arina] acreditar no milagre!

beijo de mulata
 
A nossa princesa há pouco mais de duas semanas!
(Hospital Dona Estefânia)
 
Já foi há mais de dez anos que li um livro de viagens - Sul - escrito pelo Miguel Sousa Tavares (MST). Ainda não conhecia Moçambique. Não tinha, na altura, qualquer ideia romântica sobre África e estava a anos-luz de imaginar que um dia me haveria de apaixonar perdidamente por um país que não é o meu e que viria a sofrer profundamente de cada vez que regressasse do meu paraíso. Sul é um livro muito irregular no estilo, mas o capítulo sobre Cabo Verde tocou-me particularmente. No texto Um Rio Há de Correr em Cabo Verde, MST fala do otimismo obstinado de todo um  povo, do amor que têm ao país e da vontade de o fazer andar para a frente. Um otimismo que conheci na primeira pessoa quando visitei o país algum tempo depois.
"Vinte anos de independência, vinte anos de luta contra a seca, vinte anos de teimosia. Podem dez pequenas ilhas, metade África metade Atlântico sobreviver como país? Eles acreditam que sim e fazem por isso. Talvez porque aqui, pesem todas as adversidades, se mantém o deslumbramento. Quem viu as ilhas não as esquece mais." MST
 
Há tempos falei-vos da Arina, a menina adorável, natural de S. Nicolau (Cabo Verde), internada há mais de um ano no meu hospital com uma aplasia medular gravíssima e a precisar de um transplante de medula óssea urgente. Por tudo o que já sabia, quase não me surpreendeu que a mãe mantivesse sempre a firme convicção de que iria encontrar um dador e nunca desistiu de puxar pela sua menina, prepará-la para a vida quando melhorasse e tivesse alta! Também vos falei disso. Uma atitude absolutamente admirável, uma fé a toda a prova que me ensinou muito como médica, e agora como mãe!

Mas dentro da improbabilidade que é encontrar um dador de medula óssea fora da família, o caso da Arina era, se possível, mil vezes ainda mais improvável, porque tinha uma combinação genética muito rara. Cheguei a pensar que era impossível. Cheguei a pensar que o melhor que os pais tinham a fazer era tentar quanto antes ter outro filho compatível. Tive grandes conversas com os meus colegas sobre a ética do diagnóstico pré-implantatório de embriões e seleção de acordo com a histocompatibilidade. (Eu por princípio não sou contra, se é que querem saber...) Mas o pai continuava em Cabo Verde a cuidar do filho mais velho e a trabalhar para sustentar a família. Não era possível.

A única esperança verdadeira era, portanto, apelar para toda a comunidade de Cabo Verde residente em Portugal ou noutros países ditos desenvolvidos - em Cabo Verde não há banco de medula óssea. Lançou-se uma campanha. Campanha essa que tenho a certeza de que falava ao coração dos cabo-verdianos porque continha uma mensagem de esperança e otimismo (Djuntu nu ta konsigi, Juntos vamos conseguir!).

A campanha deu a volta ao mundo. As minhas bloggers favoritas também fizeram eco dela: a Paracuca, a Cocó na Fralda, a AL do ma-schamba, a Glittering. Falou-se na televisão, na rádio, no facebook. A mensagem correu  por mails coletivos. Teve uma adesão admirável.

E há poucas semanas o milagre aconteceu! O dador apareceu no outro lado do mundo, provando-nos que vale a pena acreditar e que a mãe estava certa! Admiro muito a fé inabalável de algumas pessoas...

A nossa princesa mais linda foi esta semana transferida para fazer o transplante. Em nome da Arina, muito obrigada a todos os que leram e divulgaram este caso e a todos os que rezaram por mais este sucesso.
25
Nov12

[bloguismo] ontem conheci a patanisca!

beijo de mulata
Ontem fui ao evento "Há festa no Palácio", no Palácio Foz, lindo e cheio de gente... A minha editora tinha-me convidado para lá ir dar alguns autógrafos do meu livro e, ao mesmo tempo, chegou a Sónia Pereira, a autora d'As Receitas da Patanisca, que recentemente lançou um livro: 234 Receitas para Robôs de Cozinha...

Amorosa, recebeu-me como se já nos conhecêssemos há séculos! Falou-me da sua atividade profissional como psicóloga numa escola no [inegavelmente problemático!] bairro do Picapau Amarelo, na margem sul. Alunos com perturbações do comportamento, famílias disfuncionais, violência domestica, agressões a professores, tentativas de suicídio e o diabo a quatro (ou a sete, que já sabemos, e costumamos teorizar desde que este blogue é blogue, que um diabo nunca vem só, quanto mais quatro diabos e, bem vistas as coisas, começando com quatro diabos, se eles acabarem por ser só sete, já é muito bom, mas adiante), tudo o que se pode pensar que pode existir de mau numa escola num bairro problemático lhe tem vindo parar em mãos...

Contou-me que, apesar de ter um contrato de apenas um ano, iniciou um projeto fantástico com os alunos, que inclui workshops de culinária como prémio para os que não têm faltas disciplinares ou participações. Com o projeto (inteiramente financiado por ela, que um contrato a termo certo não se compadece com os tempos das burocracias e das respostas da Câmara Municipal) entretanto já conseguiu que os miúdos ganhassem imenso em termos de auto-estima, autonomia e organização. Alguns descobriram que afinal sabem fazer contas e regras de três, que na sala de aula não conseguiam aplicar. Muitos alunos melhoraram o comportamento para poderem ter acesso aos workshops.

E, melhor do que tudo, neste contexto, conseguiu chamar muitos pais para a escola, para revelarem segredos das cozinhas dos respetivos países. Para muitos, foi a primeira vez que entraram na escola dos filhos (a maioria recusa-se a comparecer se for chamada para "ouvir dizer mal dos meninos") e claro que ela aproveitou para os colocar ao corrente da situação das suas crianças e dos problemas que os incapacitam.

Uma ideia genial posta em prática por uma pessoa especial! Parabéns, Patanisca!
26
Ago12

[arina] temos de acreditar!

beijo de mulata


Temos de continuar a  acreditar! O improvável não é impossível, já tive mil vezes a experiência disso. Não nos podemos esquecer da nossa menina. Nem desistir. A campanha já foi, mas a vida continua.

Ontem a minha amiga M. lançou-me um desafio: temos de acreditar que existe um dador compatível. E vamos procurá-lo! Só temos de olhar bem à nossa volta, olhar bem para o nosso lado e tentar perceber onde é que ele está, de que lado é que vem a solução para dar vida a esta criança! Vamos procurar pessoas naturais de Cabo Verde, pessoas que tenham ascendência cabo-verdiana, entre os 18 e os 45 anos e conduzi-las à Estefânia ou ao Centro de Histocompatibilidade.

Muita força e obrigada a todos!
31
Jul12

[as melhores do serviço de urgência] acreditar no milagre

beijo de mulata
Há dias, estava eu no Serviço de Urgência, quando o segurança entrou no meu gabinete e me disse que tinha uma senhora na sala de espera há já algum tempo à procura de uma tal de doutora Paula.
- Dra. Paula? Hoje não vem nenhuma das doutoras Paulas do hospital.
E a colega que estava comigo:
- Mas diga à senhora que dê o recado, que pode ser que a consigamos ajudar.
 Dois minutos depois, o segurança veio dizer-nos: "A senhora diz que a menina é Iara.?"
- Como? Mas ela não disse mais nada? Veio para consulta, para exames, para ser vista?
- Não sei, e pelo menos que eu tenha visto, não tem nenhuma criança com ela.
- Então diga-lhe para entrar, que não estamos a perceber nada.
Entra a senhora:
- Diga, podemos ajudá-la?
- Estou à procura da Dra. Paula... não me lembro do apelido.
- Mas combinou com ela?
- Não, mas ela disse que podíamos vir até às 13:00.
- Hoje?
- Qualquer dia. Pelo menos foi o que eu percebi.
- Ah, e o que tem a sua menina?
- Eu só sei que a menina se chama Iara ou Lara, não sei...
- Mas quem é essa menina?
- Também não sei, não a conheço...
Nisto, tive um rasgo...
- É a Arina?
- Sim, é isso!
- E vem doar medula óssea para ela?
- Sim, estavam a pedir pessoas de Cabo Verde!
- Ah, que maravilha, muito obrigada! Venha comigo, é no Serviço de Sangue!

A mensagem passou, felizmente! E continua a passar... Pessoas que ouviram a reportagem na rádio e na televisão, pessoas que não ouviram, mas que ouviram falar, pessoas que só ouviram metade da mensagem mas perceberam que era preciso vir ajudar alguém... pessoas que viram no facebook, ou que ouviram dizer que alguém escreveu no facebook: muito obrigada a todos!
07
Jul12

[arina] a nossa estrela radiofónica

beijo de mulata
Arina, a nossa menina querida, internada connosco há mais de seis meses com uma aplasia medular, tornou-se estrela radiofónica da RDP África! A minha colega Paula K., as enfermeiras Liliana e Sara que dinamizaram esta iniciativa e a mãe da Arina falaram muito bem e deram mais vida a esta esperança.

Parabéns, minhas queridas!

Não esqueçam, no dia 11 de Julho na Universidade Lusófona haverá uma brigada para colheita de sangue a dadores voluntários de medula óssea. E não, não vou cair na piadola fácil de que enquanto esperam podem aproveitar para tomar um café ou tirar um pós-doutoramento...

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