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Beijo de Mulata

Beijo de Mulata

24
Mar17

[vozes brancas*] as 10 melhores razões pelas quais a fada dos dentes não veio ontem à noite

beijo de mulata
Esta manhã, Nuno Markl descreveu na sua página no facebook mais um pequeno drama familiar, daqueles mesmo FWP (first world problems), mas que me fez rir. Afinal de contas é aqui que vivemos e todos temos algo a dizer de viva voz.


O meu filho perdeu mais um dente, mas acordou tão cedo que não me deu tempo de preparar a operação fada dos dentes. Logo, o dente não desapareceu de debaixo da almofada e o brinde da fada ainda está dentro da minha mochila. Se alguém tiver ideias para ajustar o mito a esta situação, força. Eu estou prestes a usar o clássico "a fada sou eu" pela 2ª vez. Da 1ª vez ele não acreditou - achou que era muito forçado...

E o que se seguiu foi muito simples, meus amigos, um chorrilho de comentários bem dispostos, alguns deles absolutamente fantásticos, que poderemos utilizar na nossa economia de recursos familiares. E o que eu me diverti a ler os comentários! Descobri soluções para todos os tipos de famílias e crianças. Eis as top 10:

1 - Para quem tem filhos desarrumados: "Diz-lhe que provavelmente a fada dos dentes não conseguiu encontrá-lo a ele ou à almofada dele no meio da desarrumação do seu quarto... fiz isso à minha filha e resultou. Na noite seguinte havia instruções espalhadas pelo quarto para garantir que a fada não se perdia. E o quarto estava um primor!"

2 - Para os pais criativos e doces, com filhos ainda na fase do pensamento mágico (autoria da Maria Bê): "Escreve um bilhete da fada a dizer que não conseguiu pegar no dente porque era muito pesado e bonito. É que ela é muito pequenina. Hoje traz ajudantes... Simula que o encontras perdido algures. A nossa fada dos dentes escreve imenso e conta coisas mirabolantes."

3 - Para pais de futuros jornalistas: "A fada foi para o Lux ontem (diz que é a melhor noite da semana para ir ao Lux) e adormeceu num Uber qualquer a caminho de casa, e terá sido assassinada numa mata na zona da Fonte da Telha. Visto que é sexta-feira, o enterro agora só lá para terça, e entre concurso público para a posição, avaliação de CV, testes físicos e entrevista, só lá para final de abril é que haverá nova fada colocada. Diz-lhe que há que ter paciência, o mundo não gira à volta dele, e que a família da fada neste momento está a tentar lidar com a dor e há que respeitar." Perfeito!

 4 - Para os pais que querem que os filhos acreditem durante toda a infância e, já bem entradotes na pré-adolescência, passem a vergonha das suas vidas quando lhes caírem os molares: "Isso aconteceu-me numa fase em que a minha andava desconfiada da existência da fada e eu disse: «Estás a ver, desconfias da fada ela não aparece, ela precisa que os meninos acreditem nela»... Ficou aflita. No dia seguinte lá estava o brinde. «Estás a ver, tens de acreditar para ela não ficar triste e conseguir voar». Nunca falha!"

5 - Para os que querem criar filhos intelectuais de esquerda: "A fada está desmotivada. Há muitos anos que não tem aumentos e tem cada vez mais trabalho, pelo que com a noite de chuva que esteve, a fada adiou os trabalhos e irá fazê-los durante o dia sob melhores condições climatéricas. Já basta ganhar mal, quanto mais trabalhar à chuva! Ainda estraga as asas..."

6 - Para os que gostam de ver o CSI com os filhos: "O meu filho andava chateado com a fada pois andou dois dias à espera. Então, quando ele reclamou, eu agarrei nuns trocos e disse: «Não pode ser, vamos investigar!» e, enquanto ele procurava, pus o dinheiro debaixo do colchão e fingi que o descobri: «Olha!, deve de ter caído e tu não deste por ela!» Funcionou!"

7 - Para os filhos dos dentistas, pediatras e pessoas em geral preocupadas com a higiene oral (eu própria já deixei bilhetes deste género ao baby-de-mulata): "Diz que a fada esteve a analisar o estado do dente e teve de o submeter à apreciação do conselho de peritos. Depois deixa um bilhete a elogiar o estado impecável do esmalte, que bem escovado que estava! Termina por  deixar uma nota de encorajamento para continuar a tratar tão bem os dentinhos".

8 - Para os futuros meteorologistas: "Com a seriedade que o assunto exige: Diz que a protecção civil emitiu alerta laranja para todas as fadas do país por causa do mau tempo... Está retida num aeroporto de fadas qualquer!"

9 - Para os que querem criar filhos empáticos, doces e compreensivos: "Disse à minha filha que a fada naquela noite tinha tido muitos meninos para visitar e que não tinha conseguido chegar a nossa casa antes do amanhecer... Ela respondeu: «Não faz mal mãe, pode ser que esta noite ela tenha tempo!»

10 - Por fim, last but not the least, para os que estão a criar um cientista: "Conheço um blogger famoso a quem aconteceu o mesmo. Nessa manhã a filha acordou desolada (ao que parece não tinha informado os pais que o dente tinha caído portanto os pais não tinham tido oportunidade de providenciar a troca do dente). O pai então, diligentemente, foi mudar a entrada da Wikipedia sobre a Fada dos Dentes, referindo que a fada vem um OU DOIS dias depois da queda do dente. Depois foram os dois "fazer uma pesquisa" e apresentou à filha uma explicação cabal e científica do atraso." Delicioso!

* Vozes brancas - Timbre da voz das crianças antes da puberdade.
19
Nov16

[oh happy day!] então, beijo-de-mulata, não falas do casamento?

beijo de mulata
É verdade, meus queridos amigos... casei-me com Mr. Shaka no dia 12 de novembro. Ganhei toda uma nova credibilidade, um anel de noivado, uma aliança de casada, dois apelidos novos (agora chamo-me Senhora Dona beijo-de-mulata-de-Shaka-Zulu, valha-me Deus, beijo-de-mulata Maria, onde é que tu estavas com a cabeça?), uma despedida de solteira de sonho e um dia de princesa! E quinze dias (just say it!, quinze!) de licença!

Eu nunca tinha sonhado com esse dia. A minha felicidade não passava por aí... É verdade, meus amigos, garanto-vos. Mas enfim, os milagres acontecem na minha vida e tenho de os aceitar... O dia foi simplesmente perfeito para mim... foi quase mágico entrar mais uma vez na Basílica da Estrela, onde ia à missa em criança e ouvir o órgão histórico que acompanhava as missas da minha infância. E onde Mr. Shaka foi organista durante anos. E recordar que foi ali que eu e Mr. Shaka nos reconhecemos, vários anos depois de nos termos visto apenas uma vez... Ouvir a música de entrada, que era a pièce de resistance do concerto em que nos conhecemos (traduzida e adaptada por mim, claro, porque eu não queria que se falasse nos moinhos satânicos de Inglaterra no casamento, valha-me Nossa Senhora da Língua Portuguesa), cantada pelo melhor coro feminino que alguma vez poderíamos ter. E foi uma quase-surpresa ouvir as músicas que Mr. Shaka escreveu e orquestrou para a missa do casamento (não tenho autorização para as divulgar, que são apenas para consumo doméstico, um quase-segredo de família, diz ele).

Também o meu amigo João Andrade Nunes, para mim o melhor compositor da atualidade, não me desiludiu. Como aliás, nunca desilude em nada do que faz ou escreve. Já tinha escrito a ação de graças para o batismo do meu sobrinho, Baby M., com a letra da canção de embalar que eu ouvia cantar às mamãs macuas no hospital em Moçambique. Lembram-se?

Quero agradecer-te por teres nascido
Dorme, meu amor, fica tranquilo
Porque enquanto estiveres a dormir
eu fico aqui a repetir o teu nome
E Deus vela por todos nós...

Desta vez escreveu-nos uma ação de graças de ir às lágrimas. Podem ouvi-la aqui, desde que a ouçam até ao fim...



E perguntam vocês, e o baby-de-mulata, como se portou? Ah, esse foi um querido! Quer-se dizer... foi um querido depois de passado o choque inicial, semanas antes. O drama e o horror aconteceram quando descobriu que o tal de vestido de noiva com cauda, de que tanto se falava, tinha uma cauda sim, mas não como os dragões ou os dinossauros. Era de renda, acredite-se! E ele que estava tão entusiasmado... Como era possível? Traição! De renda, mãe? E... branco?! Ai valesse-lhe São Jorge...

Mas como eu dizia, passado o choque inicial, ainda demorou a aceitar que não podia ir vestido de dragãozinho, a fazer pendant com sua mãe. Mas, por fim, depois de várias negociações (e de alguns subornos, confesso, que nestes casos não há que olhar a meios), lá aceitou ir à baixa experimentar um fato a condizer com o papá. Mas sempre a ameaçar que só entrava na igreja se fosse ao meu colo. Menino das alianças é que ele não queria ser. Ainda por cima para me dar de mão beijada ao pai... Como se sabe, Freud pode ter dito muitos disparates, mas nisto não falhou!

Passou-me de tudo pela cabeça, que fugisse da basílica, que se me atirasse para o colo, que se borrifasse para as alianças e fosse jogar à bola para o adro da igreja. Tudo menos a forma irrepreensível como se portou! No momento certo olhou para mim e para o avô, que me dava o braço, e lá foi à minha frente, no compasso certo, ao lado dos primos, Mr. B. e Baby M., com a salva de prata na mão, direitinho até ao altar. Só vacilou no consentimento, quando eu e Mr. Shaka trocámos as alianças. Vi bem na cara dele que ficou triste quando percebeu que a mãe só se casou com o pai. Mas bastou sairmos do nosso lugar, mesmo a meio da missa, para lhe irmos dar um abraço e o baby lá se animou outra vez.

Não me apetecia despegar dali no fim, ao ouvir mais um cântico de Mr. Shaka, o cântico de vida nova... Mas lá fora aguardavam-me aqueles que amo incondicionalmente. Não estavam todos, é certo, porque não é possível nunca que venham todos os que queremos, por variadíssimas razões. Mas todos os que estavam eram muito, muito especiais. E isso basta.
24
Jan15

[vozes brancas*] serão assim os geeks em pequeninos?

beijo de mulata
Não sei se já vos tinha contado, mas o meu muito amado baby-de-mulata ingressou em Setembro, com nota 20 em adaptação, no mesmo colégio onde eu andei dos dois aos dez anos. Por feliz coincidência, a auxiliar da sala dele é a mesma que me acompanhou quando eu era da idade dele. Foi ela que me deu colo, tratou dói-dóis, que me consolou ("já passou, já passou, vamos já pôr um penso!"), me ajudou a dominar a frustração quando me apetecia rasgar um trabalho porque, aos meus olhos de pequena perfecionista, qualquer imperfeição ou ruga era uma cratera ameaçadora por onde todo o meu ego se poderia esvair. Foi ela que me pôs na ordem quando eu começava a pisar o risco. Ele adora-a, tal como à educadora. Ela adora-o, como neto da sua segunda casa. E, depois de dois anos inteiros em que o deixei em casa com a minha mãe, na companhia de baby M., o seu primo quase gémeo, eu não poderia ficar mais descansada quando o deixo na escola.

Na semana passada, porém, o baby-de-mulata informou-me que no dia seguinte não seria dia de escola.

- É sim, meu, amor, amanhã é quarta feira, o pai e a mãe vão trabalhar e tu vais para a escola.
- Ah, não, não, que eu sei que não! - Gritou o baby, visivelmente nervoso. - Amanhã não é dia de escola, que eu não vou!

Peguei-lhe ao colo, apreensiva, embalei-o, fiz-lhe cócegas. Que se teria passado?
- Mas por que é que estás tão aflito? - Voltei à carga,  por fim. - O que foi que se passou?
- A Maria [auxiliar] disse que amanhã não íamos para a nossa sala, amanhã vamos para a Sala das Nuvens [uma sala de creche, com bebés de um ano] porque vão fazer obras na nossa sala.
- Mas é só por um bocadinho, a Maria vai contigo e a Teresa [educadora] também. Vão lá estar os teus colegas e tu vais ajudar a educadora e as auxiliares da Sala das Nuvens a tomar conta dos bebés, vais ajudá-las a dar-lhes a papa, vais ensiná-los a cantar e a dançar. Eles vão ficar todos contentes por te terem lá!

...
...

- Mas eu não quero, mãe! Eu não vou, já disse!
- Mas porquê? Tu gostas tanto de bebés, ajudas tanto a cuidar deles e dás-lhes tantos beijinhos quando há bebés cá em casa...
- Mas eu não quero ir para a Sala das Nuvens.
- Porquê? Ora vamos cá ver, o que tem a Sala das Nuvens?
- Pode lá estar uma trovoada! - Respondeu a fazer beicinho...

[Tive de me conter para não dar uma gargalhada! Muito sofrem as crianças... Benza-o Deus, que se não tivesse três anos era um geek!]

Voz branca - Timbre da voz de uma criança antes da puberdade.
27
Nov14

[vozes brancas] baby m. no seu melhor

beijo de mulata



Esta tarde, o baby-de-mulata brincava com baby M., o seu primo quase-gémeo, ambos agora com três anos. Montámos uma pista de comboios mais ou menos como aquela ali acima, com uma envolvência de savana, ambulâncias, acidentes, descarrilamentos e salvamentos heroicos... E enquanto o baby-de-mulata salvava de helicóptero um tigre atropelado pelo camião dos bombeiros, baby M. continuava, pacatamente, a fazer o comboio andar pela pista, transportando o acidentado camião dos bombeiros para a oficina. Eu assistia a tudo, tentando interferir o menos possível naquela fantasia que era dos dois, quando oiço baby M. comentar de si para os seus botões: "Nunca mais chego à oficina, tenho a impressão de que estou a andar às voltas..."
16
Fev14

[vozes brancas] vamos fazer um piquenique!

beijo de mulata
Há algumas semanas, eu estava de saída de um banco de inverno particularmente chuvoso e griposo, em casa, exausta, a tomar conta do baby-de-mulata e de Baby M., o primo quase-gémeo do meu filho, à espera que a empregada chegasse para lhes dar o almoço, que eu sozinha nestas alturas não consigo....


Eles estavam divertidíssimos a brincar gatinhando num túnel, que ora era o acesso ao castelo, ora era o "túnel do tempo", que desembocava na piscina de bolas, pomposamente apelidada de Algarve: "Vamos para o Algarve, adeeeeeus!". Atividades estas que iam intervalando com miminhos à mamã/ titi (nomes que me dão indistintamente, dependendo que qual me chama primeiro. Ou para onde lhes dá, ainda não percebi bem).


Nisto, depois de uns beijinhos e festinhas particularmente carinhosos, adormeci consolada no sofá, embalada pelas gargalhadas felizes dos meus amores.


Dez minutos depois (conforta-me a consciência pensar que foram apenas dez minutos, mas não tenho qualquer argumento, mesmo circunstancial, que o prove), acordei com gargalhadas vindas de mais longe e com Baby M. a dizer qualquer coisa como: "Sim, mais!"


- Meninos, onde estão? - perguntei do sofá, ainda esperançada de que estivessem apenas a brincar noutro sítio. A resposta foi aquele "hihiiiii" nervoso, que eles fazem quando são apanhados com a boca na botija e que me faz sempre tremer quando o oiço... Desta vez vindo da cozinha. Pronto, não havia nada a fazer: estava o caos instalado, valesse-me São Brás!


Pois que chego à cozinha e vejo uma toalha no chão, os babies sentados à chinês, um de cada lado, e com uma quantidade incrível de comida espalhada pelo chão, as bocas sujas de uma amálgama quase indistinguível de Cerelac, cereais, frutos secos e doce de morango. Bancos colocados em frente ao frigorífico e às prateleiras da despensa denunciavam que os meus talibanzinhos tinham planeado deliberadamente o ato ilícito.


Pelo chão noto uma tentativa de bolo: pão, Cerelac, azeite e por cima, como meninos gourmet que são, umas ervinhas da Provença para temperar o cozinhado.


- Meninos, o que estão a fazer?
- Asneiras, mamã! Mas é um piquenique!


Alguém resiste? Ainda hoje estou a sorrir para dentro!
04
Jan13

[olha, também há babyshower blogosférico por aqui] obrigada, bê!

beijo de mulata


"In the light of the moon, a little egg lay on a leaf."

Começa assim o maravilhoso clássico para crianças que a minha querida Maria Bê, exímia caçadora de escorpiões americanos, uma mulher que se lembra de todo o tipo de cenas e acha isso um defeito, mãe de duas crias maravilhosas, enviou do Arizona para o meu baby-de-mulata! Ele adorou! Baby M., o seu primo pseudo-gémeo também não desgrudou do livro o dia todo. Com toda a propriedade, diz Maria Bê que foi esse o primeiro livro da filha mais velha. Eu digo que foi com este livro que descobri que o baby-de-mulata sabe contar até cinco!

Desde então tenho-lhe cantado a música da borboleta? para dormir:
 
Borboleta, borboleta
D'asa às cores e cara preta
Tu já foste uma lagarta
Verde e gorda, feia e farta...
 
Claro que ele, como futuro homem de barba rija que se preze, ao terceiro verso começa a gritar: "Não, não! O popó!" (Prefere a música do popó, humpf, como é possível?!) Mas é uma questão de tempo e de não perder o ritmo... Obrigada, Bê!
04
Nov12

[socorro! tenho uma mãe beata!] histórias do baby-de-mulata

beijo de mulata
O baby-de-mulata e baby M., seu primo pseudo-gémeo, andamnas aulas de música para bebés desde que aescola de música abriu em Setembro. Asaulas são muito dinâmicas e divertidas e assim sempre se apazigua o trauma dasua mãezinha, que já contava 17 primaveras bem passadas no dia em que, pormilagre, um professor de canto que não a conhecia de lado nenhum, na primeiraaula lhe colocou a voz em 5 minutos! (Rezei por ele durante anos, que o queaquele homem fez pela minha autoestima, nem uma estátua com o meu busto noMarquês de Pombal! E, portanto, ó gentes vos juro, no meu saber de experiênciafeito: "no peito dos desafinados também bate umcoração", é certo, mas estamos sempre a tempo de afinar!)

Nas aulas de música para bebés, depois de umacolhimento e do "Bom Dia", descalçam-se os meninos, e a aulainicia-se com pais e filhos de joelhos, mãos para cima e um"pá-pá-rá-rá-pááááá... pum!", num exercício de tónicas e dominantesalgo espalhafatoso para lhes captar a atenção e fazê-los rir!

Ora, no outro dia, na missa, o baby brincava no chão enquanto suamamãe cantava no coro, quando ele se deu conta de que se tinha feito silêncio eas pessoas estavam ajoelhadas. Largou os carrinhos, ajoelhou-se também e, emposição, vá de "pá-pá-rá-rá-pááááá... pum!"

E enquanto os meus amigos sorriam e desviavam o olhar para não se rirem, eumandava-o calar, babando discretamente. Sim, que o menino podia ainda não tercaptado a mística da religião, mas tinha apanhado a tónica e a dominante da música que tínhamos acabado de cantar! Cadaum é para o que nasce, já sabemos...

23
Jun12

[vozes brancas* #69] mr. b. e baby m.

beijo de mulata
Esta semana fui buscar Mr. B., o meu sobrinho de quatro anos, ao jardim infantil. Estava lá tão entretido com os amigos numa brincadeira urgente e inadiável, que não houve alegação de carro mal estacionado em segunda fila com os quatro piscas ligados que o arrancasse do recreio enquanto os polícias e o bando de ladrões não resolveram ali mesmo a questão do furto do tractor da quinta... Lá fiquei a babar-me a olhar para eles, tão compenetrados na brincadeira, tão polícias e tão ladrões, que eu própria me esqueci do carro mal estacionado em segunda fila, com os quatro piscas ligados e um carro da polícia por perto.

Por fim, chegámos a casa e passámos mais uma vez pela clínica veterinária na mesma rua, cujo aquário na recepção o deixa completamente hipnotizado... Os peixes mais antigos, o Patanisca, o Peixinho da Horta e o Jaquinzinho, protagonistas de intermináveis histórias de aventuras marítimas à hora da sesta, lá estavam, desta vez acompanhados por um peixe-manta com ar ameaçador.

- O que é aquilo, titi?
- É um peixe-manta.
- Como é que ele se chama?
- Er... Edredon...
- Titi, tenho medo do peixe-manta...
- Não tenha, meu querido, o peixe-manta é muito amigo, porque gosta muito dos outros peixinhos, brinca com eles e, quando têm frio à noite, ele tapa os peixinhos pequeninos e aquece-os.
- Ah... está bem, mas vamos para casa.

Em casa encontrámos Baby M., o irmão de 10 meses, sentado na cadeirinha a comer a papa. Mr. B. tratou logo de tomar conta da situação:

- Mano, olha, está ali um peixe-manta, mas não tenhas medo, eu estou aqui!

Quem tem um irmão mais velho assim tem tudo!

* Timbre da voz de uma criança antes da puberdade.
25
Dez11

[histórias de dentro de casa] uma ceia para o menino jesus

beijo de mulata


El Noi de la Mare
(Música tradicional de Natal da Catalunha)

Esta música ficou recentemente conhecida por integrar a banda sonora do filme Vicky Cristina Barcelona, de Woody Allen. No poema original os intérpretes perguntam-se o que poderão oferecer ao filho da Virgem. O que poderia agradar ao Deus menino? Passas? Figos? Mel? Requeijão?
Para a versão original, o link aqui.

Na noite de Natal, à uma e meia da manhã (que isto, meus amigos, um dia não são dias!), depois da missa do galo fomos todos para casa para a ceia... O dia já ia longo, mas Mr. B., o meu sobrinho de três anos, tinha fome novamente e queria esperar pelo menino Jesus, que já tinha nascido e sabia que vinha nessa noite para lhe deixar presentes na chaminé...

Enquanto a mamã dava de mamar ao mano e ele comia mais uma bolacha de gengibre, lá o conseguimos convencer de que o menino Jesus só viria muito à noite e quando já todos estivessem de dentes lavados, pijama vestido e a dormir. Mas se calhar podíamos deixar-lhe alguma coisa para ele comer no caso de ter fome, até porque ele ia trabalhar muito, coitadinho... "Boa!" Então o que lhe podíamos deixar? Fatias douradas? Uma fatia de Bolo Rei? Sonhos? "Não, não, para o menino Jesus não!"

- Então, Mr. B.? O que podemos deixar ao menino Jesus? Mousse de chocolate? Lampreia de ovos? Os biscoitos da avó?
- Não, isso não! Para o Jesus não!
- Mas porquê, querido?
- Porque ele é bebé! Ainda não tem dentes...
- [Toma lá que já almoçaste!] Ah, claro [que cabeça a minha, valha-me Nossa Senhora do Leite!], então, o que lhe deixamos? Leitinho?
- Siiiim!
- Óptimo, vamos buscar então leitinho para o menino Jesus!

Fui atrás dele, mas em vez de se dirigir para a cozinha, foi para o quarto da mãe. E eu ainda envergonhada... Como era possível que eu não me tivesse lembrado de que o menino Jesus era mesmo um bebé? Mr. B. ajoelhara-se e procurava algo dentro de uma mala...

- De que está à procura, Mr. B.?
- Da bomba do leite da mamã...

A bomba de tirar leite! Ai o orgulho de sua titi... Com apenas três anos Mr. B. já sabe que o leite materno é o melhor alimento para os bebés!

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