Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Beijo de Mulata

Beijo de Mulata

15
Out13

[outras palavras] portugal vs angola

beijo de mulata
 Diz a Bad Girl que vai a todo o lado:
Para mim ler "Angola anuncia fim de parceria estratégia com Portugal" é o mesmo que ler "Fanny termina relação amorosa com Hugh Jackman". 
Mais uma vez, deve ser das drogas.
Não faço a menor ideia de quem seja o Hugh Jackman ou sequer que tenha qualquer coisa a ver com a incontornável Fanny (que até eu conheço), mas é mesmo isto!
25
Nov12

[bloguismo] ontem conheci a patanisca!

beijo de mulata
Ontem fui ao evento "Há festa no Palácio", no Palácio Foz, lindo e cheio de gente... A minha editora tinha-me convidado para lá ir dar alguns autógrafos do meu livro e, ao mesmo tempo, chegou a Sónia Pereira, a autora d'As Receitas da Patanisca, que recentemente lançou um livro: 234 Receitas para Robôs de Cozinha...

Amorosa, recebeu-me como se já nos conhecêssemos há séculos! Falou-me da sua atividade profissional como psicóloga numa escola no [inegavelmente problemático!] bairro do Picapau Amarelo, na margem sul. Alunos com perturbações do comportamento, famílias disfuncionais, violência domestica, agressões a professores, tentativas de suicídio e o diabo a quatro (ou a sete, que já sabemos, e costumamos teorizar desde que este blogue é blogue, que um diabo nunca vem só, quanto mais quatro diabos e, bem vistas as coisas, começando com quatro diabos, se eles acabarem por ser só sete, já é muito bom, mas adiante), tudo o que se pode pensar que pode existir de mau numa escola num bairro problemático lhe tem vindo parar em mãos...

Contou-me que, apesar de ter um contrato de apenas um ano, iniciou um projeto fantástico com os alunos, que inclui workshops de culinária como prémio para os que não têm faltas disciplinares ou participações. Com o projeto (inteiramente financiado por ela, que um contrato a termo certo não se compadece com os tempos das burocracias e das respostas da Câmara Municipal) entretanto já conseguiu que os miúdos ganhassem imenso em termos de auto-estima, autonomia e organização. Alguns descobriram que afinal sabem fazer contas e regras de três, que na sala de aula não conseguiam aplicar. Muitos alunos melhoraram o comportamento para poderem ter acesso aos workshops.

E, melhor do que tudo, neste contexto, conseguiu chamar muitos pais para a escola, para revelarem segredos das cozinhas dos respetivos países. Para muitos, foi a primeira vez que entraram na escola dos filhos (a maioria recusa-se a comparecer se for chamada para "ouvir dizer mal dos meninos") e claro que ela aproveitou para os colocar ao corrente da situação das suas crianças e dos problemas que os incapacitam.

Uma ideia genial posta em prática por uma pessoa especial! Parabéns, Patanisca!
07
Nov12

[sentido de oportunidade] obama em angola!

beijo de mulata
 
Em tempos tivemos um post com uma imagem de um salão de cabeleireiro em Moçambique que anunciava, precisamente, que a cliente entrava feia (pronto, isso era ponto assente, a realidade não deve ofender ninguém), mas sairia garantidamente bonita! Mas esta barbearia em Luanda supera absolutamente tudo! No sentido de oportunidade, no marketing, na variedade de oferta (quem, no seu perfeito juízo, perderia uma oportunidade para carregar um telemóvel enquanto faz "barba e cabelo"?), na ortografia, na caligrafia e no sentido estético.
(G'amei do facebook, Luanda)

25
Ago12

[o mato em lisboa #10] a junta médica

beijo de mulata
E então, ainda íamos na história do Lázaro, não é verdade? Num post ali abaixo ficámos na parte em que, depois de um documento redigido pelo nosso serviço (e carimbado com tudo o que de remotamente oficial havia lá na enfermaria), o passaporte do seu irmão foi emitido para que viesse para Portugal doar medula óssea e assim salvá-lo de uma aplasia medular gravíssima...

Faltava que a Junta Médica desbloqueasse a verba para permitir a vinda do Lito-afinal-Alexandre para Lisboa. O missionário, que tinha conseguido a proeza de mandar emitir um passaporte em poucos dias, inicialmente pensou que seria rápido. Mas rapidamente voltámos à estaca zero. O pai não conseguia sequer chegar à fala com ninguém. Diariamente caminhava para o gabinete onde teria de expôr a situação, mas ninguém o recebia. Eficazmente instruído pelo senhor padre, ia sempre no seu uniforme de polícia, aprumadíssimo, formal, bem arranjado, mas em vão... Já calculávamos. Tudo o que implique dinheiro é lento em qualquer parte do mundo, quanto mais num país pejado de burocracia e corrupção...

Mas, que diabo!, naquele país onde falta tudo menos dinheiro? Que não nos viessem dizer que não conseguiam enviar o menino e o seu pai para Lisboa! Os dias somavam-se e o Lázaro, como que prevendo o que estava para acontecer, parecia que, por fim, estava a querer voltar a "ligar" a medula óssea. Pouco a pouco, a hemoglobina foi subindo, deixámos de precisar de lhe transfundir plaquetas. Nunca mais teve infecções porque os glóbulos brancos, mesmo sendo poucos, chegavam para toda a bicheza da enfermaria. Até passou a ter autorização para sair do quarto e brincar no corredor de máscara...

Mesmo assim achávamos prudente continuar as diligências em Angola. Era melhor o menino vir, pelo sim pelo não... As notícias que enviávamos omitiam propositadamente o facto de ele estar a melhorar: não sabíamos se não seria apenas um fenómeno fortuito e temporário...

O Padre Agostinho em resposta queixava-se que estava a ser difícil. Muito difícil. "Dos pobres ninguém se lembra... não têm voz nem peso..."

Foi então que ele se lembrou de uma estratégia. Não me perguntem como foi que ele teve aquela ideia genial, mas a verdade é que um padre nunca se atrapalha, que um padre atrapalhado é pior que um anestesista bêbado.

Depois de quase dois meses, descobriu quem lhe haveria de resolver o problema: teria de ser o Exmo. Sr. Director da Polícia do Cacuaco a falar com o mui alto e digníssimo Médico Prelsidente da Junta. O assunto assim passava a ser entre chefias. E entre chefias as coisas tinham de se resolver, ou ele não se chamasse Agostinho e não fosse confessor de meio mundo! E foi assim que o processo foi desbloqueado. Pouco mais de uma semana depois de ele ter tido aquele arranque de génio, fomos avisados que o menino já vinha a caminho, provando-nos, mais uma vez que, com muita vontade, os milagres lá vão acontecendo!

(E a história podia ter terminado aqui, mas não, meus amigos, não terminou...)
22
Ago12

[o mato em lisboa #9] fintar a burocracia

beijo de mulata


(continuando a história do Lázaro...)

Foi então que percebemos o que estava a bloquear a vinda do irmão do Lázaro de Angola para Portugal para lhe doar medula óssea. Até aí tudo nos tinha passado pela cabeça... A embaixada garantia que não havia problema nenhum, mas não tinha conhecimento de nada. Ainda nem sequer tinha sido formalizado o pedido do visto da criança. Seria então a família que estava a bloquear o processo? Será que o pai não podia ou não queria acompanhar o filho a Portugal? Será que pensavam que o procedimento podia pôr em risco a vida do irmão? Pensariam que o menino podia ficar sem ossos ou "contaminado" com a mesma doença?

Não, não era nada disso. O problema era muito mais simples, mas praticamente intransponível: o passaporte não tinha sido emitido porque o pai não tinha apresentado nenhum documento da Junta Médica dizendo que o menino precisava de vir. E a Junta Médica não emitia esse documento sem o passaporte. Ah, a burocracia no seu melhor!

Mas o missionário amigo da minha querida M., habituadíssimo a estes assados, no mesmo dia engendrou a solução: tínhamos de ser nós a emitir um documento a atestar a necessidade premente de enviar o Lito-aliás-Alexandre o mais rápido possível para Portugal.

Pronto, se era esse o problema, era para já! Documento nós fôssemos, que já lá estávamos! Escrevi o texto mais assertivo da minha vida (só faltou mencionar que o meu pai era o dono daquilo tudo) e enviámos o documento por mail no mesmo minuto.

Horas depois vinha a resposta: não, o documento não estava em conformidade! A pessoa que assinava não tinha título, não estava lá escrito que era director de nada e nestas coisas é sempre preciso um director. Não tinha carimbos suficientes nem selos bastantes. Podia ser verdadeiro mas, aos olhos da máquina burocrática, não era credível. Não passaria! Claro, mas que cabeça a nossa... Pedimos à secretária da enfermaria para carimbar o documento com tudo o que tivesse à mão (até os carimbos do centro de custo foram naquele documento!), digitalizámo-lo e enviámo-lo.

Agora estava tudo certo, respondia o Sr. Padre! Agora achava que sim, que já passaria. Pouco dias depois, o passaporte estava emitido.

Faltava a Junta Médica...

(continua...)
18
Ago12

[o mato em lisboa #8] catch-22

beijo de mulata

O double bind da burocracia...

Continuando a história do Lázaro, o menino de Angola internado no nosso hospital em Outubro de 2011, por uma aplasia medular... se bem se recordam, ele precisava de um transplante de medula óssea e tinha um irmão compatível em Luanda. O problema era que a burocracia para trazer o irmãozinho de Angola para Lisboa estava a tornar-se intransponível e o Lázaro piorava de dia para dia...

Foram semanas, que se transformaram em meses. Volta e meia contactávamos a embaixada e... nada. Nem sequer tinham conhecimento da vinda do menino. Não tinha entrado nenhum pedido de visto para Portugal com aquele nome, respondiam. Não sabiam de nada. Não podiam fazer nada. E nós não entendíamos. Pedíamos, questionávamos, enfurecíamo-nos, praguejávamos baixinho, mas em vão. De que é que nos servia ter tudo para tratar e voltar a dar vida ao nosso menino se o dador estava a milhares de quilómetros dali, sem meio de vir para salvar o irmão?

Ora então, estávamos na parte em que me lembrei que a minha querida amiga M. nos poderia ajudar e ela me respondeu que sim, que era amiga do bispo da diocese onde vivia a família dele.

Dias depois recebi o mail de um missionário que num fim-de-semana tórrido se meteu no carro e foi procurar a família para ver se conseguíamos perceber o que estava a bloquear a vinda do irmão. As referências que lhe tínhamos dado eram unicamente estas: viviam "no Cacuaco, ao pé da Praça do Kikolo". Fomos ao Google Earth espreitar o bairro para perceber se com aquelas coordenadas seria provável que os encontrasse, mas ficámos desolados. O bairro era intrincado demais, labiríntico demais, povoado demais... Só com um milagre. Mas pronto, já sabemos que é precisamente nestas circunstâncias que a magia acontece. E o missionário dizia-nos:

O pai ficou imensamente feliz por eu ter ido lá, ao fim do mundo, à procura da sua casa. Foi uma manhã inteira no meio do inferno de trânsito que Luanda se tornou, horas de perguntas aos transeuntes. Persegui todas as pistas como um louco. Mas valeu a pena. "Ainda bem que há gente que se interessa pelos pobres!", - foi a sua exclamação e agradecimento.

O missionário foi então aos serviços onde o passaporte do menino estava retido há meses. Os funcionários não o tinham emitido porque não lhes tinha sido apresentado um documento da Junta Médica dizendo que o menino iria para Portugal para doar medula óssea ao irmão. Mas a Junta Médica só podia emitir o tal documento em face do passaporte.

Pois... there was only one catch and that was Catch 22...

(continua...)
05
Ago12

[o mato em lisboa #7] vencer a distância

beijo de mulata
Já prometi que vos voltaria a dar notícias do Lázaro, o menino Angolano internado há meses e meses no meu hospital com uma aplasia medular. Tem a mesma doença que a Arina, a menina de Cabo Verde que mobilizou recentemente a sociedade civil natural de Cabo Verde e residente em Lisboa.

O Lázaro, porém, tinha a sorte milionária de ter um irmão compatível! E o seu pai percorreu durante meses os caminhos da burocracia, da humilhação e da indiferença para tentar trazer o irmão do mato para Lisboa. "Dos pobres ninguém se lembra", lamentava-se por telefone à mãe desolada que, impotente e aprisionada no quarto do filho, rezava e via o tempo passar, enquanto o marido desesperava no caminho...

Foi então que me lembrei da minha amiga M. Não sei se já vos falei dela, meus amigos. A minha amiga M. conhece toda a gente, sabe de tudo o que se passa, é amiga de toda a gente e toda a gente lhe pede e lhe deve favores. Estão a ver a Agência Reuters? É mais ou menos ela, mas para os países Lusófonos. É uma pessoa absolutamente fantástica. Sabe sempre quem vem e que parte. Como quando e onde. É a pessoa de quem me valho quando estou preocupada com os meus afilhados em Moçambique, quando preciso de lhes enviar alguma coisa, quando me pedem algum medicamento que não existe lá, quando quero saber como está alguém. É a pessoa que tenho por garantida e com quem sei que posso sempre contar!

E foi, portanto, assim que me lembrei de pedir ajuda à minha amiga M. O Lázaro já merecia que eu a fosse incomodar mais uma vez. Enviei-lhe um SMS a explicar a situação e ela respondeu-me, simplesmente: "Diz-me como se chamam, tenta saber onde é que vivem e um ponto de referência da casa dentro do bairro".

Fomos perguntar à mãe do Lázaro. A família Mandimba vivia no Cacuaco, ao pé da Praça do Kikolo... onde quer que isso fosse. A resposta não se fez esperar: "Bem, o Cacuaco pertence à Diocese do Caxito. O Bispo é meu amigo!" Ah... a M. no seu melhor!

O Bispo do Caxito era amigo da minha amiga M. Afinal havia esperança!

(continua...)
11
Mar12

[o mato em lisboa #5] o irmão do lázaro

beijo de mulata
(continuando...)

Ora então, o irmão do Lázaro, o Lito-aliás-Alexandre, não estava registado... Tinha-se dado o milagre de o Lázaro ter um irmão compatível. O milagre por que milhares de pessoas todos os dias anseiam: ter um dador de medula óssea! Mas o milagre permanecia longe, adiado... inacessível.

O Alexandre precisava de ser enviado para Lisboa o mais rapidamente possível para que o milagre se consumasse, mas os quase 6 mil quilómetros haveriam de se multiplicar por dez, por cem, por dez mil... a distância entre dois continentes tinha um oceano de burocracia cega e corrupta pelo meio, 6 mil quilómetros de calvário por entre desprezo, indiferença e desconhecimento. Sem dinheiro para fazer o processo andar, o pai do Lázaro só tinha a fé e o amor pelo filho para o animar no caminho monótono, diário, obstinado, para as filas intermináveis das repartições...

E o ritmo da burocracia, já o conhecemos... é sempre o mesmo. Descreveu-no-lo o André, do Tertúlia Africana, num texto genial, que já partilhei na íntegra convosco:
"Segunda-feira é o inicio da semana, ainda nada está pronto. Quinta-feira é véspera de sexta e amanhã já vai ser difícil. Sexta-feira é sexta-feira e agora só na segunda. Restam dois dias, terça e quarta, para servir, satisfazer e cumprir. Mas nesses dias o chefe ausentou, o sistema está em baixo ou, mortiferamente, como um punhal, «hoje não há-de ser possível»!
(continua... espero...)

Mais sobre mim

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2017
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2016
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2015
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2014
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2013
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2012
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2011
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2010
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub