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Beijo de Mulata

Beijo de Mulata

11
Mai17

[querido, vesti o miúdo] semana mundial do babywearing

beijo de mulata

Esta é a Semana Mundial do Babywearing!


[Ainda bem que os meus amigos moçambicanos não me leem habitualmente, de outro modo achariam tudo isto ridículo e estariam a olhar para mim com cara de "Duh, qualquer dia nós também fazemos a Semana Nacional de Comer a Sopa com Colher ou a Semana Mundial de Usar Roupa Interior só para gozar convosco! Há lá outra maneira de transportar as crianças!"]

Eu sou uma fervorosa adepta do babywearing, que tem inúmeras vantagens para as crianças e o seu desenvolvimento e usava sempre uma capulana moçambicana para transportar o baby-de-mulata. Era pro em colocar o menino às costas, num exercício africano de equilíbrio e destreza que deixava sempre a minha mãe sem respirar e a conter-se para não dizer "Cuidado que me deixas cair o desgraçado!", mas depois de o colocar nas costas (não há outra maneira, com uma capulana), trazia-o sempre para a frente porque prefiro olhar o meu filho nos olhos. Não o deixava nas costas, embora até achasse que ele não se importaria de ir a apreciar a paisagem. Depois rendi-me a uma solução mais prática, com panos que dão para colocar diretamente à frente. Quase tive pena de deixar a tradição moçambicana, mas as minhas costas e as coronárias da minha família (que, vá se lá saber porquê, não confia na minha fantástica agilidade e destreza corporal*) agradeceram.

* E têm razão, pronto...
08
Mai17

[iAgora na prática] presente do dia da mãe

beijo de mulata
Ontem foi o final da semana mundial sem ecrãs. No sábado o baby-de-mulata perguntou-me se, para além do presente da escola (que já me tinha dado na sexta-feira porque sim), haveria alguma coisa que pudesse fazer para eu me sentir feliz no dia da mãe.

Fiquei a babar-me. E respondi que o melhor que ele poderia fazer por mim era acordar e não ir ver televisão, como de costume e ficarmos a brincar, montar legos, desenhar. O que lhe apetecesse.

Acordou-me (ouch!) às 07:00 da madrugada (sim, mães de lactentes, eu sei que não me posso queixar, mas ainda assim...) com uma caixa de lego na mão, um sorriso de orelha a orelha e um: "Parabéns, mamã, vamos montar este?". Amor de sua mãe [ou isso ou sou mesmo uma fácil...]! O rapaz adora ver televisão aos fins de semana, pelo que lhe deve ter custado tanto como a mim me custa não tomar café, por exemplo, sacrifício valente!

26
Abr17

[a arte é para os leigos!] glossário de termos musicais

beijo de mulata




Meus caros amigos, poucos saberão que sou uma expert em música. Sobretudo em ópera. E posso prová-lo: assevero-vos que já dormi em quase todas as grandes óperas compostas nos últimos séculos. Umas proporcionaram-me um sono mais profundo do que outras, é certo, mas a admiração profunda é por Wagner. Certa vez, no São Carlos, eu dormia na última fila da plateia ao lado de um senhor que, por sua vez, também dormia. Íamos acordando à vez e virando-nos para o lado contrário e ele, volta e meia, olhava para mim e comentava: "Eles têm mesmo resistência!" E eu, que estava sem palavras, não respondia, mas pensava que aquela ópera, entrecortada por um sono com sonhos, era a metáfora perfeita da vida. O mundo avança enquanto nós vamos na nossa vidinha. Uns são protagonistas, outros, raros, seguem-nos atentamente, outros vão vendo, fazendo interpretações oníricas sobre o que se vai passando. Outros ainda, mais lá para os camarotes e frisas, completamente a leste do paraíso, namoram, dormem, comem, e tudo o que honestamente se possa fazer entre três paredes e um palco acontece...

E posso dizer, mãe babada, que o baby-de-mulata vai pelo mesmo caminho. Não há concerto nenhum em que não adormeça! Epigenética rules!

Posto isto, posso então dizer que a música, tal como a ópera, é para ser entendida e vivida. E que ninguém se atrapalhe!

Como muita gente se queixa que os termos musicais são herméticos e não são imediatamente compreensíveis por amadores resolvi aproveitar este espaço para construir um pequeno glossário que alguns poderão achar completamente básico mas que talvez ajude uma ou outra pessoa a compreender de forma mais esclarecida e assertiva algumas peças musicais.

- A cappella – Vamos tentar sem piano!
- Accellerando – Despachem-se, o maestro saltou uma página!
- Accopiato – Foi copiado!
- Acidente – Foi sem querer…
- Ad libitum – É como virar frangos…
- Adagio ma non troppo – Um iogurte apenas.
- Adagio molto – Um litro de iogurte.
- Afinado – Pelo menos vamos tentar começar na mesma nota…
- Al fine – Do inglês: Tudo bem.
- Allargando – Toquem devagar que o maestro está perdido…
- Appoggiatura – Desculpem, saltou-me um dedo…
- A prima vista – Para quem acredita no amor…
- A solo – No chão.
- A tempo – Mesmo em cima da hora.
- Baixo implícito – Um baixo que se insinua.
- Bocca chiusa – Como em “Tens a boca suja”.
- Bisbigliando – Meter o nariz, bisbilhotar.
- Brioso – Jogador do Académica.
- Brunette – Morena selvagem (valha-me Nossa Senhora do Google se com isto vêm cá parar mais horny bastards).
- Canon – Melhor que uma Sony (não confundir com Maria), mas pior que uma Nikon.
- Coloratura – Um desenho para colorir.
- Contratempo – Percalço, revés.
- Croma – Mais um elemento da caderneta.
- Da capo – Do princípio, mas desta vez sem erros!
- Dissonante – Nunca desafinado, ora essa!
- Flat – Sem ondas, como em “O mar hoje está flat.”
- Forte – Com algum excesso de peso.
- Fortissimo – Obeso.
- Gustoso – Saboroso.
- Harmonia – Quando atinamos com o acorde…
- Homofonia – Como diria o Bispo de Lichinga: “Tá mal!”
- Improvvisando – Não sei muito bem como era…
- Incalzando – “My shoes were killing me…”
- Legato – Herança.
- Mancando – Coxeando.
- Meno mosso – Homens, cantem mais baixo!
- Monofónico – Sem piadinha nenhuma…
- Ouvido absoluto – Sim, tenho a certeza de que foi aquilo que ele tocou!
- Órgão – Parte vital de um músico.
- Parafonia – Como diria o Bispo de Lichinga: “Tá mal!”
- Più mosso – Homens, cantem mais alto!
- Pizzicato – Uma com queijo, sem tomate.
- PochettinoO marido da outra senhora.
- Polifonia – Ou como diria o Bispo de Lichinga: “Tá mal!”
- Precipitando – Está a chover.
- Presto – Como em “Eu não presto”.
- Prima Donna – A Diva.
- Prima volta – A prima já vem.
- Recitativo – Não encontro a música, mas estou à procura…
- Semicroma – Menos croma que a outra…
- Silenzio – Calem-se!
- Simile – Do inglês: Sorriam!
- Síncope – Colapso.
- Soprano – Aquele que sopra…
- Sotto voce – Só vozes, mas muito baixinho…
- Tardo - … mas não falho!
- Tónico – Tudo o que puder ser tomado com Gin.
- Traste – Velhaco, desonesto. Nota do autor: Esta qualificação pode ter gradações subtis, sempre definidas segundo o critério da maestrina, como primeiro traste, segundo traste… Já segundo os critérios das Divas, quanto mais trastes melhor.
- Tremolo – Um pouco nervoso.
- Triângulo – De comum acordo ou, como diria mais uma vez o Bispo de Lichinga…
- Trio – Um a mais!
- Uníssono – Vai ser desta que começamos na mesma nota!
- Variação – Desculpem, enganei-me outra vez…
19
Abr17

[he was the forerunner] para bens atrasados!

beijo de mulata


O Senhor Mandará os Seus Anjos

Ontem fizeste anos... A passagem do tempo é tão neuroticamente precisa que os aniversários calham sempre em dias certos. Eu é que sou tudo menos neurótica. Mas hoje quero agradecer-te por teres nascido, e por me teres preparado os caminhos que percorri. E por me lembrares por vezes de que, em tempos, também já consegui acreditar em seis coisas impossíveis antes do pequeno-almoço.

Deixo-te uma pérola musical do meu primo João Andrade Nunes, de que tenho a certeza que vais gostar! Para bens! Por tudo, tudo! Que a fruta te esteja sempre madura no verão e que Aloysius nunca fique insuportável...
11
Abr17

[histórias para o baby-de-mulata] livros sobre adoção #3

beijo de mulata
As Famílias Não São Todas Iguais

Este é um livro que ajuda a aplacar angústias e a normalizar a diferença. Põe o dedo na ferida, mas mostra muitas outras, e o mal de muitos alívio é. Quando os meninos perguntam: porque é que o João tem duas casas, a da mãe e a do pai? Porque é que eu não vivo com o meu pai? Porque é que eu tenho uma cor diferente da cor dos meus pais? Porque é que tenho duas mães? Porque é que fui adotado e os outros meus colegas não?

"As Famílias Não São Todas Iguais" ajuda os pais a responderem a todas estas questões e ajuda a criança a chegar à conclusão simples de que família é quem dá amor e quem ajuda a criar esperança!

Divórcio, família reconstruída, adoção interracial, monoparentalidade e adoção homoafetiva são contempladas lado a lado no livro.

A questão punha-se-me mais há uns anos, na altura em que era mãe solteira e me imaginava a responder a questões sobre a ausência do pai. Comecei cedo a ler este livro ao baby e planeava responder simplesmente: "as famílias são todas diferentes. Tu tiveste um pai e uma mãe, como toda a gente, mas depois, como não puderam cuidar de ti, eu fui pedir ao juiz para ser tua mãe para sempre. E agora a família somos nós!" Mas como somos uma família mais tradicional agora ainda não fez grandes perguntas sobre as famílias. Já sobre as barrigas... mas essa é outra história.
09
Abr17

[histórias para o baby-de-mulata] livros sobre adoção #2

beijo de mulata


Os Ovos Misteriosos de Luísa Ducla Soares

"Os Ovos Misteriosos" é um livro maravilhoso, delicioso e absolutamente genial, ou não fosse da Luísa Ducla Soares. Faz parte do Plano Nacional de Leitura para leitura orientada no primeiro ano de escolaridade, mas da minha experiência pode ser lido a partir dos três anos. Mas, claro, nestas coisas não há como ler primeiro (ou ver o vídeo acima) e ver se o nível de desenvolvimento dos filhos se coaduna já com a compreensão do texto.

A história é de uma galinha órfã de filhos, a quem o dono roubava os ovos todas as manhãs. Até que, corajosa. decidiu ir para a floresta chocar um ovo sozinha. Passado pouco tempo, e de forma misteriosa, vários ovos apareceram no seu ninho: uns grandes, outros pequenos, uns mais claros, outros mais escuros. E todos os outros lhe perguntavam por que ia chocar ovos que não eram dela. E ela respondia. amorosamente, como todas as mães adotivas: estão no meu ninho, vão ser meus filhos! Embora admirada, chocou todos os ovos, dos quais viria a nascer uma insólita ninhada: um papagaio, uma serpente, uma avestruz, um crocodilo e também um pinto. Todos irmãos, e todos diferentes, formavam uma ninhada engraçada, que a mãe-galinha tinha dificuldade em controlar e em alimentar.

Mas no fim, numa grande aventura, todos, de modos também diferentes, defenderam o irmão pinto quando o viram ameaçado, dando sentido a todos os esforços da galinha.

Este é um livro em que a enorme ternura que o atravessa não impede o humor e o ritmo tão próprios desta autora. Para ser lido e relido e colocar e responder a perguntas sobre adoção, sobre as diferenças entre os irmãos e as necessidades de cada um e a forma como cada um deve ser tratado, não com igualdade, mas segundo as suas características. Pode ainda ser lido como uma abordagem à multiculturalidade ou à inclusão de crianças com necessidades especiais.
27
Mar17

[vozes brancas*] uma corrida de automóveis

beijo de mulata


Há poucos dias, na escola, chamei à atenção o baby-de-mulata porque não deveria tratar a diretora do colégio por tu. Delicadamente e meio na brincadeira, claro, que o caso não era para zangas e o baby é ultrassensível  aos meus estados de espírito:

- Querido, é "Onde vai, Irmã?" e não "Onde vais?".
- Ah, onde vai, Irmã?

Mudou de imediato o registo para a terceira pessoa e assim continuou, o que a deixou orgulhosa do seu "neto" (a diretora foi minha educadora quando eu era criança).

Horas depois, lá em casa, o baby falou-me no assunto. Pelos vistos, do alto dos seus cinco aninhos já fica a matutar em questões (mais parecido com sua mãezinha não poderia ser, caramba!, é isso e a tendência para inventar teorias sobre tudo... epigenética rules!):

- Mãe, desculpa ter tratado a Irmã por "tu".
- É normal, querido, ainda não estás habituado. Os crescidos estão mais habituados do que as crianças.
- Pois, eu sei que tenho de a tratar por "Irmã", mas é como se fosse uma corrida de carros... Eu vou explicar: o "tu" é um Ferrari mal-criado e "Irmã" é um carro normal. Por isso, quando eu falo, o Ferrari atropela o carro normal, faz batota e chega sempre primeiro.
- Sim, mas depois o carro normal chegou e tomou conta da corrida. E estiveste muito bem.
- [Sorriu, aliviado] Ah, está bem, mãe, então só tenho de praticar mais...

*Voz branca - Timbre da voz das crianças antes da puberdade.
19
Mar17

[histórias de amor] as visitas ao baby-de-mulata #3

beijo de mulata
(continuando a minha história de amor...)

Imagem obviamente da web...

Dias depois da saga na Santa Casa voltei ao centro de acolhimento temporário. O menino já tinha começado a frequentar o jardim de infância, mas nem por isso estava mais integrado, mais aberto a comunicar ou a confiar nas pessoas que o rodeavam... Já era mais fácil de cuidar, mas as preocupações continuavam as mesmas: não olhava nos olhos, não comunicava de forma nenhuma, não se interessava por brinquedos nem fazia qualquer esforço para os alcançar, parecia absorto no seu mundo, abria e fechava portas e janelas sempre que tinha oportunidade de as alcançar. Dessa vez e das vezes seguintes a cena da primeira visita repetia-se, deixando-me cada vez mais preocupada e triste.

Eu tinha estado a pensar e, já que o menino abria e fechava portas compulsivamente, talvez se interessasse por outro tipo de movimentos no ar, como o das bolas de sabão e dos balões, que quando os soltamos fazem movimentos irreverentes e imprevisíveis. Levava bolas, balões, brinquedos com luzes e música. Tudo para ver se o interessava noutra coisa que não a malfadada janela daquela sala de visitas. Mas eram frações de segundos... Tudo era demasiado intenso, demasiada informação, demasiado assustador. O calor era imenso, o que o deixava irritado, transpirado e a mim exausta. Afastava-se de mim ostensivamente, pesando-me cada vez mais no colo, por vezes aceitava água no biberão, mas não me deixava dar-lhe, tirava-mo da mão para beber sozinho. De todas as vezes fiz de tudo para captar a sua atenção, mas nada. Nem cantando, nem ficando calada, nem apontando para os carros que passavam na rua, nem fingindo que íamos cair...

Até que certa vez tenho ideia de ter começado a escurecer. Não sei bem como, se era julho e eu só tinha duas horas de visita (mais porque as funcionárias amorosamente fechavam os olhos), mas não eram horas de anoitecer, disso tenho a certeza... talvez uma nuvem tivesse tapado o sol, não me lembro. Sei que começou a escurecer. Eu já estava exaurida e ele cheio de sono, quando lhe peguei na mão e acendi a luz com os seus dedos moles e sem vontade... mostrei-lhe com entusiasmo que tinha sido ele a acender a luz, saltei e festejei aquele "feito". Miraculosamente, aqueles saltos e festejos tiveram o condão de o fazer sorrir pela primeira vez. Apaguei a luz com a mão dele. Mostrei-lhe que a luz se tinha apagado e depois acendemo-la novamente. O menino saltou-me no colo de imediato, como quem diz: "Então, salta, como fizeste há pouco!". Saltei novamente e ele sorriu de novo, agora numa gargalhada. Eu estava estupefacta! Como era possível um milagre destes, tão gratuito e tão simples? Ah... a força que um sorriso pode ter!

Então, mas... bastava saltar para o fazer rir?! Mas não tinha muito mais tempo, estavam quase a vir buscar o menino... continuei a abrir e a fechar a luz e a saltar com ele ao colo até que parei de propósito. Olhei para ele e, por um instante, cruzou os olhos com os meus. Pegou-me na mão e acedeu com ela o interruptor... Pela primeira vez parecia estar a dar conta da minha presença, a "instrumentalizar-me" eu sei, mas pelo menos a manifestar uma vontade... Pela primeira vez senti que afinal não era louca em ter esperança e em ignorar os cochichos das funcionárias: "Mas ela é médica, ela deve perceber que ele não é normal. Deve saber o que está a fazer e o que quer levar para casa..."

(Continua, pois, que não acabou mesmo!)
23
Fev17

[bullying no jardim de infância] histórias de fora de casa

beijo de mulata
Correu tudo bem, felizmente, obrigada pelo vosso apoio e preocupação. No dia seguinte estivemos a treinar o que fazer e o que responder em caso de novas investidas do pequeno bully lá da escola. Teatro cá em casa até à hora de dormir:

- Vá, baby, faz uma cara feliz. E agora uma cara triste. E agora uma cara de corajoso! Boa!

E ele lá ia fazendo as caras e nós quase nos desmanchávamos a rir.
- E que cara achas que poderias fazer se ele viesse outra vez para te bater?
- Uma cara de corajoso!
- Isso, vamos a isso! E agora o que podes dizer?
- Não me podes bater, ou nunca mais brincas comigo!
- Boa, mas desviaste os olhos, assim ele não te leva a sério. Tens de olhar para a cor dos olhos dele, vamos, olha para a cor dos meus olhos e diz!

E o papá tirava-lhe um brinquedo à má fila e ele olhava-o nos olhos com "cara de corajoso":
- Alto aí, aguenta os cavalos! Eu é que estava a brincar com isso!
- Boa, filho!

Quando o fui buscar à escola perguntei como lhe tinha corrido o dia.
- Correu bem, mãe, quando o B. veio para me bater eu olhei para a cor dos olhos dele e disse-lhe "as regras".
- [Fiquei espantada, não tínhamos falado em regras] - Que regras?
- Disse que se me batesse eu ia chamar o meu pai, que era o chefe das tropas e que nunca mais brincava comigo!
- [O chefe das tropas? Mas de onde é que isto veio?] E ele?
- Ele ficou a olhar e depois fugiu. Mas depois veio perguntar-me se eu queria brincar às preguiças.
- Ah... e tu?
- Eu fui brincar com ele.
- E depois?
- Brincámos às preguiças ao pé do escorrega. E depois às escondidas...

Ah, a beleza da infância! A vida é simples, felizmente... Ainda é cedo, eu sei, mas já se passaram dias e nem mais uma queixa!
07
Out16

[vozes brancas*] reforço positivo

beijo de mulata
Há dias, numa consulta de desenvolvimento, os pais de um menino com autismo manifestavam a sua perplexidade com o programa de treino intensivo [cujo nome obviamente não posso mencionar] em que tinham inscrito o filho:

- Sabe, doutora, eles fazem sempre o reforço positivo com comida. Mas em todas as sessões observam que ele responde muito melhor às palmas e aos elogios do que à comida.
- A na sessão seguinte?
- Como são sempre terapeutas diferentes, acabam por fazer o mesmo. Mas depois vêm dizer-nos que ele é muito sociável e que responde melhor aos elogios e palmas do que à comida, que ele tem muito boas características pessoais.
- Ah... e o que é que acham disso?
- Achamos que se calhar vamos procurar outro programa, o que acha, doutora?
- Claro! Onde é que já se viu um programa em que o terapeuta é sempre diferente e se vê que o menino responde melhor de uma maneira e não se ajusta nada ao menino na sessão seguinte? Ele quer ligar-se ao terapeuta e vai evoluir muito melhor de outro modo!

(E depois lembrei-me de uma cena familiar em casa dos meus pais: Há quase um ano, tinha o baby-de-mulata quatro anos e pouco. Depois de Mr. B, o meu sobrinho de sete anos, ter anunciado que queria ser engenheiro civil como o pai, o baby-de-mulata anunciou ao mundo em geral, e ao primo e a mim em especial que o estávamos a ouvir, que quando crescesse haveria de ser treinador de golfinhos. Já eu me perguntava quando tinha sido a última vez que tínhamos ido ao jardim zoológico ver golfinhos e nem me lembrava, e ele continuava:

- Sabes, é que eu já sei treinar golfinhos.
- Já sabes? - pergunta Mr. B, olhando para mim incrédulo.
- Sim, é muito fácil, queres que te ensine?
Fiz o mesmo olhar de espanto: - Sim, então como é que se treina um golfinho, filho?
- É canja! Quando ele faz bem, dás peixe!

E Mr. B, filho e neto de psicólogos, responde à letra ao que ele está a dizer:
- Tu não me digas que a tua mãe te dá chocolates quando tu fazes alguma coisa bem!

Ao que, muito ofendido, o baby-de-mulata responde:
- Claro que não, a minha mãe bate palmas e diz que está muito contente. Mas os golfinhos não percebem o que nós dizemos, por isso tens de dar peixe!

Pronto, era só um desabafo...)

* Voz branca - timbre da voz de uma criança antes da puberdade.

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