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Beijo de Mulata

Beijo de Mulata

08
Abr15

[a minha vida dava um filme cigano] e o cérebro todo apanhadinho...

beijo de mulata
Há dias, na urgência de pediatria, encontrei um menino de 8 anos de etnia cigana que sigo na consulta por dificuldades de aprendizagem e alterações do comportamento gravíssimas. Um menino para quem o simples exercício de 7 e 7 são 14 com mais 7 são 21, em calhando num dia mau, pode fazer despoletar uma batalha campal em plena sala de aula e certa vez deixou o meu gabinete de consulta revirado durante 3 dias tal foi a frustração que o menino sentiu quando ouviu uma pergunta que o obrigaria a concentrar-se e não estava capaz. Mas enfim, são vidas, contextos e famílias, e o menino lá andava a melhorar, devagarinho mas ia (a sério que ia), com alguma paciência e muito trabalho de sua mãe e dos professores da escola.


O problema foi que a dada altura, após a morte do avô, começou a regredir a olhos vistos e as alterações do comportamento atingiram patamares a raiar o nível do autoproclamado "estado islâmico", quer no recreio quer na sala de aula. A professora ligou-me, preocupada. A mãe ligara-me dias antes, desesperada. Concordei que seria então necessário marcar uma consulta de urgência e medicar o menino. A consulta teve lugar dias depois, em conjunto com a família e as professoras.


Duas semanas depois vi-o então na urgência.
- Então, mãe, o menino como está? Melhorou alguma coisa com a medicação?
- Não, doutora, nã teve melhoras nenhumas.
- Ai, não me diga, mas continua tudo na mesma?
- Sim, doutora, já nã sei o que fazer. Até me parece que está cada vez pior... Já viu a minha vida?
- Pior? Ai, valha-me Deus! Mas vamos lá ver, a que horas lhe dá o medicamento?
- Ah, doutora, nã lhe di...
- Não lhe deu? Mas porquê?
- Eu saí da consulta a achar que lhe ia dar, mas depois o mê marido chegou a casa e teve a ler o medicamento po dentro, e teve medo que o remédio lhe apanhasse o cérebro. Por isso nã lhe demos.


...
06
Jul14

[as melhores do serviço de urgência] a minha vida dava um filme cigano

beijo de mulata
Ontem, na urgência, um casal bem meu conhecido (aliás, conhecido de todos nós, que fazemos urgências de pediatria) vinha com o filho de dois anos e meio, bem disposto, cheio de vitalidade apesar da febre. Olho para o histórico enquanto o chamo pelo intercomunicador do meu gabinete: é a quarta vinda ao serviço de urgência no período de 24 horas (suspiro).

Mais de 60 vindas ao serviço de urgência no último ano. Motivo da presente vinda à urgência: febre. Das outras vezes também. Uma febre que não baixa, "tem tido 38, doutora, às vezes vai mesmo aos 38 e meio!" Replico, numa voz que pretende tranquilizar, que se trata de uma febre baixa. O pai responde-me, de súbito muito exaltado, que a temperatura normal dele é 35,9ºC, pelo que os 38 valem por quase 40, e com 37,8ºC já começa a ficar completamente de rastos e a tremer. (Suspiro) Enfim, um clássico. Vejo no processo que o menino tem história de convulsões febris. Daí o pânico dos pais, concluo.

Vejo também que já teve consultas de Neurologia por causa das convulsões, já fez exames que excluíram doenças graves e epilepsia. Que o pai também teve convulsões febris na infância. Está tudo escrito em todos os registos.

Tentei explicar que as convulsões febris são situações benignas, que o menino já estava medicado, que inclusivamente tinha mudado o antibiótico horas antes, da última vez que viera à urgência (certamente tinha feito a cabeça em água à minha antecessora) e que agora era preciso dar tempo ao tempo.

Nada feito. Do alto do seu metro e oitenta e muitos, o pai declarava-me que podia ser cigano, mas que também era médico de medicina chinesa, eu que não me atrevesse a contestar o que ele dizia. Que ele é que conhecia o menino. E sabia muito bem que quando o menino passava dos 38,2ºC, a parte do corpo do umbigo para baixo gelava, ao passo que a parte do corpo do umbigo para cima aquecia, e o cérebro ficava baralhado, sem saber se haveria de arrefecer a parte de cima ou aquecer a parte de baixo. E vai daí, pifava e fazia uma convulsão, capaz de o matar em dois minutos!

- Mas não adianta tentar evitar as convulsões, e as convulsões do seu menino são benignas e não deixam sequelas.
- Não são nada benignas, doutora, eu também as tive e chegaram a dizer à minha mãe que eu tinha morrido.
- Pois, mais me ajuda! E aqui está o senhor, saudável e sem problemas nenhuns. [Desta última parte não tenho tanta certeza, mas ficava bem na argumentação!]

Nada feito. O pai exigia que eu fizesse como os meus colegas costumavam fazer e que desse um medicamento na veia ao menino para lhe baixar a febre.

Mas eu, talvez por ter a parte do corpo acima do umbigo à mesma temperatura que a parte de baixo, não me deixei baralhar e afirmei-lhe que não iria agredir o menino com medicação na veia coisa nenhuma, que não havia razão para isso.

Levanta-se o pai e aproxima-se, com cara de quem me vai bater nos próximos segundos:

- Eu sou médico de medicina chinesa, mas também sou cigano, ouviu? Tenho a minha família ali fora! Vai ou não vai fazer o que eu lhe estou a pedir?
- Escute, o seu menino está bem, não há necessidade de o picar! E não nos resolve o problema, que daqui a quatro horas temos outra vez a febre a subir! Se calhar os senhores deviam ir novamente à consulta de Neurologia para se tranquilizarem. Temos centenas de meninos com convulsões febris e nenhuma família faz o que os senhores fazem. Não é normal, acreditem!  [Oh, valha-me Santa Rita de Cássia, estou mesmo a pedi-las, é desta que vou levar porrada dentro do hospital!]
- Está bem, doutora. Mas enquanto a febre não baixar não vamos embora daqui.
- Pronto, é convosco [Ufa...], mas então vão para o jardim, não fiquem na sala de espera que ainda levam daqui outro bicho. [Desisto, se ficarem à porta da sala de reanimação também é com eles...]

Ao fim do dia saíram dali com indicação para procurarem um psicólogo...
09
Set13

[vozes brancas*] anjo da guarda...

beijo de mulata
A propósito do post de ontem, e  falando sobre formas peculiares de rezar, na oração do Anjo da Guarda o baby-de-mulata também faz umas variações muito próprias.

É que "alma", enquanto elo entre o espírito e a matéria, fonte última responsável pela comunhão humana com Deus, é um conceito que penso que o baby ainda tem um pouco mal sedimentado. Por isso, ele substituiu-o por um conceito ligeiramente mais percetível e concreto, e pede todas as noites ao Anjo da Guarda: "Guardai a minha ÁGUA de noite e de dia." E a mãe do baby (esta que vos fala), senhora de uma consciência ecológica considerável e fervorosa defensora dos objetivos do milénio para o desenvolvimento, aprova! E de forma completamente acrítica, baba-se!

* Timbre da voz de uma criança antes da puberdade.
25
Jan12

[o erro em medicina] e tu, o que já fizeste por causa de um?

beijo de mulata
Há alguns anos atrás, ainda interna do primeiro ano, acabadinha de chegar ao hospital, durante uma urgência caótica de Inverno enganei-me na dose de um antibiótico. Lembro-me bem, era o Floxapen para uma celulite do tornozelo. Coisa simples. A dose não era muito mais elevada que a dose máxima e o antibiótico mais do que inócuo.

O meu problema é que eu só tinha prescrito duas embalagens e com aquela dose o antibiótico não ia dar nem para cinco dias. Com tão pouco tempo de tratamento, a infecção ia piorar a seguir de certeza. E era uma família cigana que me tinha parecido muito desorganizada, numerosa, com pouca capacidade de cuidar das crianças, condições de higiene no limiar do aceitável. Sabe Deus até se lhe iam dar o antibiótico mesmo. [Já aqui tivemos uma história parecida, sim, eu sei. A minha vida, definitivamente, dava um filme cigano...]

Fiquei preocupada. Fui buscar o processo e liguei para o número de telefone que lá estava. Atendeu-me uma mulher muito malcriada que me respondeu que não tinha filhos e que não tinha ido a hospital nenhum e que a antiga dona daquele número devia de certeza dinheiro a muita gente porque estava sempre a receber telefonemas estranhos. E que até já tinha recebido ameaças de morte. E que já estava arrependida de ter comprado aquele número. E que para a próxima ia era a uma agência autorizada e não voltava a comprar telefones na rua!

Desliguei o telefone sem me despedir. ["Mas onde é que eu me fui meter, valha-me Nossa Senhora Cigana?"] Olhei para a morada do menino: Quinta do Mocho. Pois... aquilo prometia! Liguei para a PT e expliquei a situação. Pedi o telefone correspondente à morada. Nada. Não tinha telefone atribuído. Fui ter com o polícia do hospital. Se ele me podia saber se haveria algum telemóvel associado àquela morada. Duas horas depois vinha a resposta: não, não havia telefone nenhum.

E agora, que fazer? Fui ter com a minha chefe de equipa. Eu continuava preocupada. O que é que ela achava que eu podia fazer?

- Mas estás preocupada porque disseste para fazer 8 mL de Floxapen em vez de 5 mL? Estás louca? Não tem problema nenhum!
- Sim, mas assim não vai conseguir terminar o tratamento e o miúdo vai piorar.
- Está bem, pronto. Se estás preocupada, o que podemos fazer é mandar a polícia lá a casa.
- E levar-lhes um recado?
- Não, eles não levam recados. Têm de os trazer e nós falamos com eles.
- Talvez seja melhor, então...

Duas horas depois, sou chamada à triagem. À porta estão dois polícias enormes acompanhando um homem com mau aspecto que mal reconheço, mas sim, era aquele o pai do menino. Ladeado por polícias em posição de alerta o homem ainda tinha mais ar de traficante do que antes... Vejo-lhe a expressão do rosto. Está aterrorizado!

- Boa tarde, fui eu que vi o seu filho há pouco. Tentei ligar-lhe mas não consegui, por isso mandei-o chamar aqui. A dose do antibiótico é 5 mL e não 8 mL.
- Hãn? É só isso?!
- Sim, peço desculpa...
- Está bem, está bem, doutora, não há problema - o homem só faltava pular de alegria... e virando-se para os polícias - então isso quer dizer que me posso ir embora?

[Assim como se dissesse: "Então eu tenho meio quilo de coca na minha casa, entram-me dois polícias por ali adentro, dizem-me para os acompanhar e nem mais uma palavra, metem-me no carro, trazem-me para o hospital e no fim de contas vem uma médica loira dizer-me que afinal tenho de dar 5 mL do xarope ao miúdo e não 8 ou lá o que é?! Esta gente não regula bem!"]

Pronto... A minha história é esta. Alguém quer partilhar mais alguma? O que é que já fizeram por causa de um erro médico?
05
Nov11

[a minha vida dava um filme cigano] celulite...

beijo de mulata
Serviço de Urgência na semana passada, um menino ciganito de 9 meses de idade, com um o pezito num trambolho, febre ininterrupta há dez dias, mas com o ar pacato de quem não é nada com ele, desde que, obviamente, ninguém lhe tocasse no pé, altura em que, se o seu olhar falasse, se tornava num misto entre o queixume miserável de quem sofre, e uma proto-linguagem de carroceiro indignado*... Os dois pais, muito jovens, provavelmente com menos de 18 anos, com um ar muito preocupado.

Eu, incrédula, perguntava: "Então mas só agora é que vêm ao médico?" Se há coisa que não é habitual é os meninos ciganos não serem protegidos na doença. Pelo contrário, uma criança doente mobiliza famílias inteiras. Alguma coisa de muito anormal se teria passado.

E os pais iam respondendo que sim, que já o tinham levado ao centro de saúde e que lhes tinham dito que o menino tinha uma celulite do pé.
- Precisamente, é isso mesmo. Mas então deram-lhes antibiótico para o menino tomar...
- Sim, Doutora - respondia o pai -, mas a médica disse que se o antibiótico não funcionasse o menino se calhar tinha de ser lancetado. E eu ganhei medo e então lhe dei...
- Mas isso faz algum sentido?
- Não, Doutora, eu sei que já fiz asneira... Mas depois a minha mulher foi pedir uma segunda opinião.
- Então?
- Eu depois fui à farmácia pedir tratamentos para a celulite - continuava a mãe -, e eles venderam-me uns cremes para pôr ao menino. Caríssimos, Doutora, e não lhe fizeram nada!
- Cremes para a celulite? Mas isso é para a celulite das senhoras, não é para este tipo de celulite! Isto é uma infecção!
- Pois, eles também acharam estranho que o menino tão pequenino já tivesse celulite, mas eu então disse que era para mim.

Mais uma história tragico-cómica, valha-me Nossa Senhora Cigana...
- Mas há quanto tempo é que isso foi?
- Foi há oito dias. Mas como o menino não melhorava, nós decidimos vir aqui - defendia-se o pai.
- Mas ele não melhorava porque também não deixava muito bem pôr os cremes - explicava a mãe -, os cremes eram frescos e ele até se sentia bem ao princípio, mas depois deixou de fazer efeito.
- Os senhores têm é muita sorte, que o menino é rijo, se não a estas horas a infecção já lhe tinha atacado os ossos!
- Sim, Doutora.
- Bem, então vamos lá ver se nos entendemos. Têm aqui a receita do antibiótico, mas vão fazer mesmo? É preciso ter muita atenção. Qual dos dois é que sabe ler bem?
- A minha mulher.
- Sim, Doutora, eu não sou cigana!

Pronto, estava tudo explicado! Era um casal de miúdos e o pai tinha sido expulso da família de certeza, por ter casado fora da tradição. Daí aquela desprotecção do menino e os disparates atrás de disparates sem que ninguém tivesse vindo atrás para defender a criança e obrigar os pais a ir ao médico.
- Vamos lá, então, é uma colher cheia de 8/8 horas. Sabe como é que se faz um medicamento de 8/8 horas?
- Então... É às oito da noite... e às oito da manhã.
- Bem... se calhar é melhor o menino ficar internado aqui connosco, o que é que acham?

* Quer dizer, nós já tivemos algures esta conversa... Já não existem carroceiros, eu sei, mas a língua portuguesa evolui mais lentamente do que os meios de transporte.
08
Abr11

[a minha vida dava um filme cigano] ...não tinha as cédulas necessárias

beijo de mulata
Ontem encontrei no corredor do hospital a mãe de uma menina cigana, já muito minha conhecida de "outros carnavais", que tinha sido internada no dia anterior para uma cirurgia programada.

- Boa tarde, então a sua menina já foi operada?
[Desconsolada] - Não, Doutora, foi...
- Então?
- Disseram que não tinha cédulas...
- Não tinha cédula? Mas não está registada a menina?!
- sei, Doutora, disseram que tinha as cédulas necessárias para ser operada...
- Mas isso é muito estranho...
- Pois, Doutora, eles também disseram que era estranho e por isso mudaram-na de enfermaria...
- Mudaram-na de enfermaria?!
- Sim, porque tinha as cédulas baixas não podia estar ali, tinha de ficar no isolamento...

[Ai, valha-me Santo Inácio, que já percebi tudo...]
- Então foi transferida porque tinha as células do sangue baixas?
- Isso, Doutora. Eles até achavam que tinha uma dulcemia, mas afinal parece que é nada disso! Já está melhor...
- Ah... Ainda bem... Então as melhoras.
07
Abr11

[a minha vida dava um filme cigano] aprender a falar...

beijo de mulata
No corredor do hospital no mês passado, um colega meu Neuropediatra encontrou o pai de um menino cigano de cinco anos, que tinha ido à sua consulta no ano anterior por um atraso gravíssimo da linguagem. Nunca mais regressara à consulta apesar dos esforços do médico em contactar a família, já que a situação era muito preocupante (um clássico: os números de telefone nestes casos nunca são verdadeiros...). O Neuropediatra, senhor de uma memória fotográfica de fazer inveja, faz parar o pai, que assobiava para o lado, tentando passar de fininho...

- Então o senhor nunca mais me apareceu na consulta com o menino?
- [Olhando para baixo...] Hã... Doutori... Pois foi. Nunca mais... [E, de repente, com a face iluminada por um sorriso...] Mas é que ele está muito melhori!
- Está melhor? Então? Mas já diz alguma coisa?
- [Com um grande entusiasmo!] Sim, Doutori, vêja lá que o cabr*** já diz fi*** da p***!

Enfim, como diria o Lépido, tem de se começar por algum lado...
23
Nov10

[a minha vida dava um filme cigano] os doentes devem estar loucos

beijo de mulata
Esta tarde na consulta com um adolescente cigano e a sua família (felizmente apenas os pais e dois irmãos mais novos):
- Então, Mário, como é que tens passado das tuas alergias e das faltas de ar?
- [Com um ar de enfado] Estou naaa mesma!
- Na mesma?
- [Com o mesmo ar de que aquilo era uma seca que não tinha nada a ver com ele] Sim, naaa mesma!
- É mesmo verdade, mãe?
- [Com uma cara igualzinha à do filho] Sim, Sotôra, ele está na mesma, teve melhoras nenhumas desde que cá veio...
- Mas fez bem a medicação que eu lhe passei?
- Não, Sotôra, ele não tomou nada!

(Is it just me or...)

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