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Beijo de Mulata

Beijo de Mulata

27
Jan15

[a força que um sorriso pode ter!] rápidas melhoras...

beijo de mulata

 
A minha querida Irmã Lurdes (quem conhece este blogue há algum tempo, quem leu o meu livro ou quem me conhece sabe certamente de quem estou a falar), está internada, depois de mais de um ano de doença crónica e debilitante. Nunca me saíram da mente as suas palavras, num dia em que a médica lhe disse: "A Irmã tem fé, mas sabe... Deus às vezes não é para todos...". Ao que ela respondeu: "O que quer dizer com isso? Acha que não tenho coração para aceitar tudo aquilo que Deus me quiser dar?"
 
Eu tenho inveja desta fé, desta força de amar tudo e todos, sempre sem desanimar. As melhoras, Irmã... Fique com estas imagens, que a poderão animar um pouco das saudades que certamente terá das danças de África. Coragem e confiança!
16
Jan13

[welcome to mozambique] os feiticeiros de tete

beijo de mulata
 
Ritual de Feitiçaria.
(África do Sul, foto daqui)

Vem de muito longe esta notícia partilhada pelo Professor. Deliciosa para mim! Mas sei bem que fica distante demais esta África profunda, de curandeiros, feiticeiros e médicos tradicionais. É quase inacessível à compreensão dos europeus não só o significado daquela pequena trouxa que se despenhou num quintal como também o tempo de antena absurdo dedicado à cobertura de uma notícia deste calibre, sem qualquer perspetiva crítica ou orientação etnográfica para o leitor. Os comentários são ilustrativos de que isto se passou mesmo em outro ponto do planeta...

Mas se alguém se interessar pelos fenómenos antropológicos de Moçambique, siga os links do Prof. Paulo Granjo (Antropocoiso para os amigos).
30
Jan12

[tabus e tradições] a cerimónia da gazela

beijo de mulata

Instante no Kruger Park
(África do Sul, foto da R.)


– Mas... e no meio disso tudo não há ninguém que fale claramente do que aconteceu, não há ninguém que clarifique os sentimentos ou que explique como é que se deve fazer para a próxima?
– Não, ninguém fala. Só às vezes os homens quando bebem.

– Mas não há ninguém com ética nesta terra? Ninguém que dê o exemplo?
– Há, claro! Muita gente. O que eu acho é que é muito injusto para as pessoas. Sobretudo para os jovens e para os adolescentes. Eles têm uma consciência e sofrem como toda a gente. Só que têm de aprender às próprias custas que sofrem menos se não fizerem certas coisas. Mesmo que essas acções não sejam condenadas pela sociedade. Ou mesmo que ninguém saiba.

– Pois!
– É isso que eu tento explicar às meninas todos os dias. Que podem evitar o “muru tokotokho”, ou os remorsos, como tu dizes, e vão sofrer muito menos se não brincarem com os afectos, se não se envolverem com alguém de quem não gostam, se não prejudicarem os outros, se não roubarem…

– E elas entendem isso?
– Acho que só entendem quando passam por isso.

– E o que é que faz quando elas apanham a tal “cabeça grande”?
– Eu mando-as fazer cerimónia, claro, senão não passa nunca mais…

– Mas isso é reforçar esse comportamento e essa tradição. Não se consegue mesmo desmontar estas crenças?
– Eu nem tento. Elas vão um fim de semana a casa fazer a cerimónia, têm colinho da família e vêm geralmente mais bem-dispostas. Mas depois falo muito com elas, tento fazer uma reflexão sobre o que fizeram e o que sentem.

– Mas elas dizem-lhe o que foi?
– Não, claro! Mas eu geralmente sei. Ou foi um namorado que as deixou, ou foi alguém de família que faleceu e com quem elas tinham discutido sem fazer as pazes, ou foi alguma coisa grave com as amigas… enfim… geralmente não é muito difícil de perceber.

– Pois, os adolescentes são iguais em todo o lado.
– Sim, só que acho que estes são mais frágeis… Têm de aprender muita coisa às suas próprias custas. E é preciso ser muito inteligente para perceber o que se passa e ter crítica sobre a sociedade e a cultura. Não é fácil ter crítica quando não se pode falar com medo do que possa acontecer…

– Pois… não deve ser fácil. Mas nessas cerimónias vem mesmo a família toda?
– Vêm os que podem. Mas sim, geralmente vêm todos.

– E deixam tudo o que têm a fazer porque a menina teve um namorico, está envergonhada e portanto é preciso ir matar uma gazela?
– Bem, se pões as coisas dessa forma…

(continua...)
31
Ago11

[estado em que se encontra este blog] de trombas!

beijo de mulata

Um elefante. Literalmente de trombas.
(Kruger Park, África do Sul)

"Entre falar e calar, um elefante preferirá sempre o silêncio, por isso é que lhe cresceu tanto a tromba que, além de transportar troncos de árvores e trabalhar de ascensor para o cornaca, tem a vantagem de representar um obstáculo sério para qualquer descontrolada loquacidade."
José Saramago in A Viagem do Elefante
15
Mar11

[anita na savana] o rinoceronte culpado pelo engarrafamento e outros instantes

beijo de mulata


Vida selvagem, olé!, y sus mirones. A autora dos disparos fotográficos [a R.] declina qualquer inclinação voyerista na maioria dos instantes captados. De facto, foram quase sempre os próprios animais selvagens a manifestar um interesse inusitado pelos olhos que os admiravam...
(Kruger Park, África do Sul)
13
Mar11

[instantes] a vida a andar para trás

beijo de mulata
Um safari até então totalmente sem história.
(Kruger Park, África do Sul)

Ou melhor, sem história com enredo, mas com imagens fantásticas. Um nascer do sol arrebatador, girafas, crocodilos, hipopótamos, hienas malcheirosas, rinocerontes indolentes a atravessar a estrada provocando um engarrafamento na selva, birdwatching até mais não, macacos que numa dança hilariante nos atacaram o brunch e que a contragosto tivemos de afugentar (regras da vida selvagem e da selecção natural), elefantes a beber água do rio...

E eis que uma família de elefantes, com três fêmeas, um macho e várias crias se aproxima e atravessa a estrada à nossa frente. Paramos o carro para as fotografias. Que fotogénicos podem ser estes simpáticos bicharocos... Acabam de atravessar a estrada. Avançamos novamente, que já é tarde. Temos mais um selvático engarrafamento atrás de nós (nem na savana nos livramos do trânsito, valha-me São Cristóvão) e ainda há que regressar hoje para o Maputo... Pois... cedo demais...

Os elefantes ainda estavam muito próximos e o macho não gostou que nos aproximássemos dos seus infantes. Infâmia! Volta-se e vem em direcção a nós. Lentamente. Recuamos também lentamente mas temos mais quatro ou cinco carros atrás de nós [que se há pouco lamentavam ter o nosso carro à frente a tirar-lhes ângulo de visão para as fotografias, agora devem estar a dar graças a Deus por não serem os primeiros na linha de ataque]. Acenamos-lhes que também têm de recuar rapidamente. Estamos praticamente encurraladas... O elefante não nos dá tréguas. Não temos muita margem para recuar rapidamente e também temos receio de que se acelerarmos ele possa lançar-se e correr contra nós. Vai urinando pelas pernas abaixo (sinal inequívoco de que está no cio, foi por isso que reagiu desta forma violenta a uma aproximação tão ligeira). Um riso nervoso invade-nos. Duas donzelas ameaçadas por um paquiderme no cio, nunca tal se viu! Um ataque em câmara lenta, de pôr metodicamente os cabelos em pé e os nervos em farrapos. O carro desastradamente faz, de repente, mais barulho. [Fugiu o pé da embraiagem. A R. sussura-me que isto não está a correr nada bem, que foi muito má ideia. Este ruído de motor pode enfurecer o macho. É que nem pensar em desafiá-lo*! Desculpa, R., não foi de propósito...] O ruído, de facto, enfurece o elefante adamastor, metido em brios. Olha-nos de frente, afasta as orelhas parecendo subitamente maior e muito mais ameaçador. Acelera um pouco contra nós. Ai, valha-nos Nossa Senhora dos Aflitos. Um esforço para não recuarmos muito mais rápido. Ele acaba por não acelerar mais. Apesar de tudo não somos uma ameaça assim tão perigosa com que valha a pena gastar energias. Bem... isto até podia ter corrido muito pior. Continuamos a recuar. Os outros carros também recuam. Alguns mais atrás até já fizeram inversão de marcha. O mostrengo há-de desistir. A família continua a afastar-se e ele tem de os acompanhar... É isso que acaba finalmente por fazer. Depois de quase meia hora em que vimos - literalmente - a nossa vida a andar para trás entra novamente na savana. Aceleramos a todo o gás. Ainda faz menção de vir atrás de nós, mas agora não tem hipótese nenhuma, já vamos muito mais rápido do que ele. Um cheiro intensíssimo a urina de elefante macho invade-nos as narinas quando aceleramos. O guia já graceja novamente: "Sentem este cheiro? Desculpem, fui eu..."

Ai, ai... Como dizia uma freira alemã, abanando a cabeça perante os noviços que tiritavam de frio e angústia com crises de malária: "Áfrrica... não é parra todos."

* Já dizia o Senhor de La Mancha que quer seja a pedra a bater no vaso ou o vaso a bater na pedra... quem se magoa é sempre o vaso, portanto vamos lá com calma, juizinho.

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