25
Ago12
[o mato em lisboa #10] a junta médica
beijo de mulata
E então, ainda íamos na história do Lázaro, não é verdade? Num post ali abaixo ficámos na parte em que, depois de um documento redigido pelo nosso serviço (e carimbado com tudo o que de remotamente oficial havia lá na enfermaria), o passaporte do seu irmão foi emitido para que viesse para Portugal doar medula óssea e assim salvá-lo de uma aplasia medular gravíssima...
Faltava que a Junta Médica desbloqueasse a verba para permitir a vinda do Lito-afinal-Alexandre para Lisboa. O missionário, que tinha conseguido a proeza de mandar emitir um passaporte em poucos dias, inicialmente pensou que seria rápido. Mas rapidamente voltámos à estaca zero. O pai não conseguia sequer chegar à fala com ninguém. Diariamente caminhava para o gabinete onde teria de expôr a situação, mas ninguém o recebia. Eficazmente instruído pelo senhor padre, ia sempre no seu uniforme de polícia, aprumadíssimo, formal, bem arranjado, mas em vão... Já calculávamos. Tudo o que implique dinheiro é lento em qualquer parte do mundo, quanto mais num país pejado de burocracia e corrupção...
Mas, que diabo!, naquele país onde falta tudo menos dinheiro? Que não nos viessem dizer que não conseguiam enviar o menino e o seu pai para Lisboa! Os dias somavam-se e o Lázaro, como que prevendo o que estava para acontecer, parecia que, por fim, estava a querer voltar a "ligar" a medula óssea. Pouco a pouco, a hemoglobina foi subindo, deixámos de precisar de lhe transfundir plaquetas. Nunca mais teve infecções porque os glóbulos brancos, mesmo sendo poucos, chegavam para toda a bicheza da enfermaria. Até passou a ter autorização para sair do quarto e brincar no corredor de máscara...
Mesmo assim achávamos prudente continuar as diligências em Angola. Era melhor o menino vir, pelo sim pelo não... As notícias que enviávamos omitiam propositadamente o facto de ele estar a melhorar: não sabíamos se não seria apenas um fenómeno fortuito e temporário...
O Padre Agostinho em resposta queixava-se que estava a ser difícil. Muito difícil. "Dos pobres ninguém se lembra... não têm voz nem peso..."
Foi então que ele se lembrou de uma estratégia. Não me perguntem como foi que ele teve aquela ideia genial, mas a verdade é que um padre nunca se atrapalha, que um padre atrapalhado é pior que um anestesista bêbado.
Depois de quase dois meses, descobriu quem lhe haveria de resolver o problema: teria de ser o Exmo. Sr. Director da Polícia do Cacuaco a falar com o mui alto e digníssimo Médico Prelsidente da Junta. O assunto assim passava a ser entre chefias. E entre chefias as coisas tinham de se resolver, ou ele não se chamasse Agostinho e não fosse confessor de meio mundo! E foi assim que o processo foi desbloqueado. Pouco mais de uma semana depois de ele ter tido aquele arranque de génio, fomos avisados que o menino já vinha a caminho, provando-nos, mais uma vez que, com muita vontade, os milagres lá vão acontecendo!
(E a história podia ter terminado aqui, mas não, meus amigos, não terminou...)
Faltava que a Junta Médica desbloqueasse a verba para permitir a vinda do Lito-afinal-Alexandre para Lisboa. O missionário, que tinha conseguido a proeza de mandar emitir um passaporte em poucos dias, inicialmente pensou que seria rápido. Mas rapidamente voltámos à estaca zero. O pai não conseguia sequer chegar à fala com ninguém. Diariamente caminhava para o gabinete onde teria de expôr a situação, mas ninguém o recebia. Eficazmente instruído pelo senhor padre, ia sempre no seu uniforme de polícia, aprumadíssimo, formal, bem arranjado, mas em vão... Já calculávamos. Tudo o que implique dinheiro é lento em qualquer parte do mundo, quanto mais num país pejado de burocracia e corrupção...
Mas, que diabo!, naquele país onde falta tudo menos dinheiro? Que não nos viessem dizer que não conseguiam enviar o menino e o seu pai para Lisboa! Os dias somavam-se e o Lázaro, como que prevendo o que estava para acontecer, parecia que, por fim, estava a querer voltar a "ligar" a medula óssea. Pouco a pouco, a hemoglobina foi subindo, deixámos de precisar de lhe transfundir plaquetas. Nunca mais teve infecções porque os glóbulos brancos, mesmo sendo poucos, chegavam para toda a bicheza da enfermaria. Até passou a ter autorização para sair do quarto e brincar no corredor de máscara...
Mesmo assim achávamos prudente continuar as diligências em Angola. Era melhor o menino vir, pelo sim pelo não... As notícias que enviávamos omitiam propositadamente o facto de ele estar a melhorar: não sabíamos se não seria apenas um fenómeno fortuito e temporário...
O Padre Agostinho em resposta queixava-se que estava a ser difícil. Muito difícil. "Dos pobres ninguém se lembra... não têm voz nem peso..."
Foi então que ele se lembrou de uma estratégia. Não me perguntem como foi que ele teve aquela ideia genial, mas a verdade é que um padre nunca se atrapalha, que um padre atrapalhado é pior que um anestesista bêbado.
Depois de quase dois meses, descobriu quem lhe haveria de resolver o problema: teria de ser o Exmo. Sr. Director da Polícia do Cacuaco a falar com o mui alto e digníssimo Médico Prelsidente da Junta. O assunto assim passava a ser entre chefias. E entre chefias as coisas tinham de se resolver, ou ele não se chamasse Agostinho e não fosse confessor de meio mundo! E foi assim que o processo foi desbloqueado. Pouco mais de uma semana depois de ele ter tido aquele arranque de génio, fomos avisados que o menino já vinha a caminho, provando-nos, mais uma vez que, com muita vontade, os milagres lá vão acontecendo!
(E a história podia ter terminado aqui, mas não, meus amigos, não terminou...)