25
Jan12
[o erro em medicina] e tu, o que já fizeste por causa de um?
beijo de mulata
Há alguns anos atrás, ainda interna do primeiro ano, acabadinha de chegar ao hospital, durante uma urgência caótica de Inverno enganei-me na dose de um antibiótico. Lembro-me bem, era o Floxapen para uma celulite do tornozelo. Coisa simples. A dose não era muito mais elevada que a dose máxima e o antibiótico mais do que inócuo.
O meu problema é que eu só tinha prescrito duas embalagens e com aquela dose o antibiótico não ia dar nem para cinco dias. Com tão pouco tempo de tratamento, a infecção ia piorar a seguir de certeza. E era uma família cigana que me tinha parecido muito desorganizada, numerosa, com pouca capacidade de cuidar das crianças, condições de higiene no limiar do aceitável. Sabe Deus até se lhe iam dar o antibiótico mesmo. [Já aqui tivemos uma história parecida, sim, eu sei. A minha vida, definitivamente, dava um filme cigano...]
Fiquei preocupada. Fui buscar o processo e liguei para o número de telefone que lá estava. Atendeu-me uma mulher muito malcriada que me respondeu que não tinha filhos e que não tinha ido a hospital nenhum e que a antiga dona daquele número devia de certeza dinheiro a muita gente porque estava sempre a receber telefonemas estranhos. E que até já tinha recebido ameaças de morte. E que já estava arrependida de ter comprado aquele número. E que para a próxima ia era a uma agência autorizada e não voltava a comprar telefones na rua!
Desliguei o telefone sem me despedir. ["Mas onde é que eu me fui meter, valha-me Nossa Senhora Cigana?"] Olhei para a morada do menino: Quinta do Mocho. Pois... aquilo prometia! Liguei para a PT e expliquei a situação. Pedi o telefone correspondente à morada. Nada. Não tinha telefone atribuído. Fui ter com o polícia do hospital. Se ele me podia saber se haveria algum telemóvel associado àquela morada. Duas horas depois vinha a resposta: não, não havia telefone nenhum.
E agora, que fazer? Fui ter com a minha chefe de equipa. Eu continuava preocupada. O que é que ela achava que eu podia fazer?
- Mas estás preocupada porque disseste para fazer 8 mL de Floxapen em vez de 5 mL? Estás louca? Não tem problema nenhum!
- Sim, mas assim não vai conseguir terminar o tratamento e o miúdo vai piorar.
- Está bem, pronto. Se estás preocupada, o que podemos fazer é mandar a polícia lá a casa.
- E levar-lhes um recado?
- Não, eles não levam recados. Têm de os trazer e nós falamos com eles.
- Talvez seja melhor, então...
Duas horas depois, sou chamada à triagem. À porta estão dois polícias enormes acompanhando um homem com mau aspecto que mal reconheço, mas sim, era aquele o pai do menino. Ladeado por polícias em posição de alerta o homem ainda tinha mais ar de traficante do que antes... Vejo-lhe a expressão do rosto. Está aterrorizado!
- Boa tarde, fui eu que vi o seu filho há pouco. Tentei ligar-lhe mas não consegui, por isso mandei-o chamar aqui. A dose do antibiótico é 5 mL e não 8 mL.
- Hãn? É só isso?!
- Sim, peço desculpa...
- Está bem, está bem, doutora, não há problema - o homem só faltava pular de alegria... e virando-se para os polícias - então isso quer dizer que me posso ir embora?
[Assim como se dissesse: "Então eu tenho meio quilo de coca na minha casa, entram-me dois polícias por ali adentro, dizem-me para os acompanhar e nem mais uma palavra, metem-me no carro, trazem-me para o hospital e no fim de contas vem uma médica loira dizer-me que afinal tenho de dar 5 mL do xarope ao miúdo e não 8 ou lá o que é?! Esta gente não regula bem!"]
Pronto... A minha história é esta. Alguém quer partilhar mais alguma? O que é que já fizeram por causa de um erro médico?
O meu problema é que eu só tinha prescrito duas embalagens e com aquela dose o antibiótico não ia dar nem para cinco dias. Com tão pouco tempo de tratamento, a infecção ia piorar a seguir de certeza. E era uma família cigana que me tinha parecido muito desorganizada, numerosa, com pouca capacidade de cuidar das crianças, condições de higiene no limiar do aceitável. Sabe Deus até se lhe iam dar o antibiótico mesmo. [Já aqui tivemos uma história parecida, sim, eu sei. A minha vida, definitivamente, dava um filme cigano...]
Fiquei preocupada. Fui buscar o processo e liguei para o número de telefone que lá estava. Atendeu-me uma mulher muito malcriada que me respondeu que não tinha filhos e que não tinha ido a hospital nenhum e que a antiga dona daquele número devia de certeza dinheiro a muita gente porque estava sempre a receber telefonemas estranhos. E que até já tinha recebido ameaças de morte. E que já estava arrependida de ter comprado aquele número. E que para a próxima ia era a uma agência autorizada e não voltava a comprar telefones na rua!
Desliguei o telefone sem me despedir. ["Mas onde é que eu me fui meter, valha-me Nossa Senhora Cigana?"] Olhei para a morada do menino: Quinta do Mocho. Pois... aquilo prometia! Liguei para a PT e expliquei a situação. Pedi o telefone correspondente à morada. Nada. Não tinha telefone atribuído. Fui ter com o polícia do hospital. Se ele me podia saber se haveria algum telemóvel associado àquela morada. Duas horas depois vinha a resposta: não, não havia telefone nenhum.
E agora, que fazer? Fui ter com a minha chefe de equipa. Eu continuava preocupada. O que é que ela achava que eu podia fazer?
- Mas estás preocupada porque disseste para fazer 8 mL de Floxapen em vez de 5 mL? Estás louca? Não tem problema nenhum!
- Sim, mas assim não vai conseguir terminar o tratamento e o miúdo vai piorar.
- Está bem, pronto. Se estás preocupada, o que podemos fazer é mandar a polícia lá a casa.
- E levar-lhes um recado?
- Não, eles não levam recados. Têm de os trazer e nós falamos com eles.
- Talvez seja melhor, então...
Duas horas depois, sou chamada à triagem. À porta estão dois polícias enormes acompanhando um homem com mau aspecto que mal reconheço, mas sim, era aquele o pai do menino. Ladeado por polícias em posição de alerta o homem ainda tinha mais ar de traficante do que antes... Vejo-lhe a expressão do rosto. Está aterrorizado!
- Boa tarde, fui eu que vi o seu filho há pouco. Tentei ligar-lhe mas não consegui, por isso mandei-o chamar aqui. A dose do antibiótico é 5 mL e não 8 mL.
- Hãn? É só isso?!
- Sim, peço desculpa...
- Está bem, está bem, doutora, não há problema - o homem só faltava pular de alegria... e virando-se para os polícias - então isso quer dizer que me posso ir embora?
[Assim como se dissesse: "Então eu tenho meio quilo de coca na minha casa, entram-me dois polícias por ali adentro, dizem-me para os acompanhar e nem mais uma palavra, metem-me no carro, trazem-me para o hospital e no fim de contas vem uma médica loira dizer-me que afinal tenho de dar 5 mL do xarope ao miúdo e não 8 ou lá o que é?! Esta gente não regula bem!"]
Pronto... A minha história é esta. Alguém quer partilhar mais alguma? O que é que já fizeram por causa de um erro médico?