17
Out15
[nomes que dizem tudo] mas, caramba, não deviam!
beijo de mulata
No outro dia, quase no final de uma reunião de trabalho bem disposta no hospital, a psicóloga que trabalha connosco levantou-se para ir atender um menino em consulta de primeira vez.
- Quem vai ver - perguntei, interessada -, algum dos meus?
- Não, vou ver um menino de primeira vez que vem referenciado de outra consulta por suspeita de atraso da linguagem.
Olhámos para o nome escrito no processo: Samir Semedo Tavares*, e o brainstorming começou: Um nome tão invulgar com apelidos tão portuguesinhos-da-silva... Eu disse que me parecia um nome de origem africana, mais porque valorizei os apelidos e não o nome próprio, outra colega apostava na etnia cigana, onde abundam nomes invulgares, outra colega mais versada em onomástica, dizia que um Samir teria necessariamente raízes ou inspiração asiática, que Samir em árabe queria dizer "jovial, bom companheiro" e que em Sânscrito queria dizer "ar e vento"...
No dia seguinte alguém se lembrou do Samir:
- Então, percebeu qual era a origem da família?
- Ah, sim, lamento mas ninguém acertou! Eram de Santarém. Portuguesíssimos!
- Mas perguntou a origem do nome?
- Perguntei, pois! Eles eram um bocado desconcertantes, com uma diferença de idades grande, a mãe com 40 anos e o pai com 23 anos, ele com um ar magro, vestido de preto, muito calado e sinistro e ela cheia de piercings, muito exuberante. Eles lá contaram então que o menino se chamava Samir em memória ao rio Sabor, "onde nos conhecemos pela primeira vez, doutora", disse-me a mãe com sorriso malicioso... E eu já arrependida de ter perguntado, não fosse a mãe desembrulhar ainda mais pormenores da intimidade. "Nós queríamos chamar-lhe Sabor, como o rio, mas no registo não aceitaram e, portanto, o mais parecido que havia era Samir".
[Acho que esta rubrica "Nomes que dizem tudo" qualquer dia vai ter uma subrubrica intitulada "Nomes que desbobinam tudo, tudo, mas mesmo tudo!"]
* Nome obviamente fictício: o primeiro nome tem uma letra trocada e os apelidos são equivalentes do ponto de vista da sua frequência e origem.
- Quem vai ver - perguntei, interessada -, algum dos meus?
- Não, vou ver um menino de primeira vez que vem referenciado de outra consulta por suspeita de atraso da linguagem.
Olhámos para o nome escrito no processo: Samir Semedo Tavares*, e o brainstorming começou: Um nome tão invulgar com apelidos tão portuguesinhos-da-silva... Eu disse que me parecia um nome de origem africana, mais porque valorizei os apelidos e não o nome próprio, outra colega apostava na etnia cigana, onde abundam nomes invulgares, outra colega mais versada em onomástica, dizia que um Samir teria necessariamente raízes ou inspiração asiática, que Samir em árabe queria dizer "jovial, bom companheiro" e que em Sânscrito queria dizer "ar e vento"...
No dia seguinte alguém se lembrou do Samir:
- Então, percebeu qual era a origem da família?
- Ah, sim, lamento mas ninguém acertou! Eram de Santarém. Portuguesíssimos!
- Mas perguntou a origem do nome?
- Perguntei, pois! Eles eram um bocado desconcertantes, com uma diferença de idades grande, a mãe com 40 anos e o pai com 23 anos, ele com um ar magro, vestido de preto, muito calado e sinistro e ela cheia de piercings, muito exuberante. Eles lá contaram então que o menino se chamava Samir em memória ao rio Sabor, "onde nos conhecemos pela primeira vez, doutora", disse-me a mãe com sorriso malicioso... E eu já arrependida de ter perguntado, não fosse a mãe desembrulhar ainda mais pormenores da intimidade. "Nós queríamos chamar-lhe Sabor, como o rio, mas no registo não aceitaram e, portanto, o mais parecido que havia era Samir".
[Acho que esta rubrica "Nomes que dizem tudo" qualquer dia vai ter uma subrubrica intitulada "Nomes que desbobinam tudo, tudo, mas mesmo tudo!"]
* Nome obviamente fictício: o primeiro nome tem uma letra trocada e os apelidos são equivalentes do ponto de vista da sua frequência e origem.