02
Fev12
[iapala] os dilemas e a minha própria consciência
beijo de mulata
(continuando a história que começou aqui...)
A Irmã Lurdes esperava-me em casa.
– Que cara é essa? Não está melhor?
– Não, Irmã…
– Paciência, amiga. Fizemos tudo o que pudemos, tudo oresto está nas mãos de Deus.
– Mas é muito pior do que isso, Irmã. O menino se calharvai sobreviver, mas vai ficar com sequelas muito graves. Se calhar até vaicontinuar em coma até ao fim da vida.
– Bem… resta-nos esperar…
– Nem sei o que fazer…
– Temos de apoiar os pais e consolar a família…
– É que nem sei se vale a pena continuar o tratamentonestas condições. O menino ou vai morrer ou fica com sequelas graves.
– É assim tão grave?
– Provavelmente não vai voltar a ver, a andar, a falar,a ouvir, comunicar. Nada. É grave! Se eu soubesse que isto ia acontecer…
– Que horror… Mas não digas isso, fizemos o que era onosso dever. O menino era um menino saudável antes, era preciso tratá-lo. Nãopodíamos adivinhar.
– Mas agora tenho de lhes dizer. Não é justo dar aospais esperanças e no final entregar-lhes uma criança totalmente dependente esem esperança nenhuma de recuperar.
– Agora não! Não é correcto prever o futuro efazer prognósticos. Temos de ter respeito por esta cultura. Isso é uma intrusãono terreno dos espíritos e dos antepassados. De qualquer forma eles têm sempreesperança até ao fim.
– Mas se eu lhes disser agora, se calhar vão quererlevá-lo para casa e é melhor que termine os dias em casa ao colo da família enão no hospital. E se ficar no hospital se calhar vai sobreviver e ficar comsequelas horríveis.
(continua...)
E agora? Mas o que é que eu fui fazer? Para que é que eutinha embarcado naquela loucura de ir a Ribáuè com uma criança tão obviamenteem sofrimento cerebral? Mais valia ter assumido que havia pouco a fazer porela, no estado em que tinha chegado… A mãe começou a chorarquando percebeu a minha reacção. Eu nem tinha disfarçado. Quando sei que não hánada a fazer acho sempre que é melhor demonstrar que também estou triste… Nemsabia o que dizer. Abracei-a, dei um beijo ao bebé e despedi-me. Já todosestavam a dormir àquela hora. Era tarde demais para estar acordar a famíliatoda com aquelas notícias…
A Irmã Lurdes esperava-me em casa.
– Que cara é essa? Não está melhor?
– Não, Irmã…
– Paciência, amiga. Fizemos tudo o que pudemos, tudo oresto está nas mãos de Deus.
– Mas é muito pior do que isso, Irmã. O menino se calharvai sobreviver, mas vai ficar com sequelas muito graves. Se calhar até vaicontinuar em coma até ao fim da vida.
– Bem… resta-nos esperar…
– Nem sei o que fazer…
– Temos de apoiar os pais e consolar a família…
– É que nem sei se vale a pena continuar o tratamentonestas condições. O menino ou vai morrer ou fica com sequelas graves.
– É assim tão grave?
– Provavelmente não vai voltar a ver, a andar, a falar,a ouvir, comunicar. Nada. É grave! Se eu soubesse que isto ia acontecer…
– Que horror… Mas não digas isso, fizemos o que era onosso dever. O menino era um menino saudável antes, era preciso tratá-lo. Nãopodíamos adivinhar.
– Mas agora tenho de lhes dizer. Não é justo dar aospais esperanças e no final entregar-lhes uma criança totalmente dependente esem esperança nenhuma de recuperar.
– Agora não! Não é correcto prever o futuro efazer prognósticos. Temos de ter respeito por esta cultura. Isso é uma intrusãono terreno dos espíritos e dos antepassados. De qualquer forma eles têm sempreesperança até ao fim.
– Mas se eu lhes disser agora, se calhar vão quererlevá-lo para casa e é melhor que termine os dias em casa ao colo da família enão no hospital. E se ficar no hospital se calhar vai sobreviver e ficar comsequelas horríveis.
(continua...)