01
Fev12
[iapala] de volta ao hospital...
beijo de mulata
(continuando, já que insistem...)
– Mas as pessoas não têm mais nadaque fazer? Aceitam ir a todas as cerimónias? Isso acontece muitas vezes?
– Para aí uma vez por ano paracada menina…
– Bem, com estas famílias grandesas pessoas não devem fazer mais nada! Se morre alguém são três dias, sealguém está doente podem ser semanas no hospital, se uma menina acaba onamorico, são mais dois dias…– Sim, mas isto é geralmente aofim de semana. Não interfere muitocom a vida das pessoas. Pior é mesmo quando têm de ir para o hospital longe decasa. Isso é que desloca a família toda muitos dias e não conseguem mesmotrabalhar nada nessa altura… Chegam a perder as colheitas todas por causadisso, infelizmente…
– Por isso mesmo, deviam trabalharsempre que fosse possível.
– Mas eles trabalham. As pessoasaqui são trabalhadoras. Mas pensa assim: a cerimónia do “muru tokotokho” é como se fosse um pretexto para reunir a famíliapor causa de alguém. Nós também fazemos isso. Nos aniversários, por exemplo. Ébonito. Faz bem. Dá uma sensação de união, uma noção de que se é importante… Muita gente me critica por mandar as meninas fazercerimónia a casa, mas eu acho importante que elas tenham o apoio da família.
– Tem razão, realmente… Mas deveser difícil lidar com tudo isto.
– Às vezes é difícil, sim, amiga…Todos temos a nossa cruz e eu tenho a minha, que é ajudar estas meninas… Mas é preciso ter muita fé e acreditar muito que vai tudo correr bem. Écomo o teu menino de hoje.
– Ah, ele só se houver um milagre…Ele está muito mal, Irmã. Nem sei se fizemos bem em dar esperanças à família.Por falar nisso, já passou uma hora, tenho de lá ir outra vez ver se pelo menosainda está vivo.
– Está de certeza, não se ouviramgritos…
Nem de propósito, naquele momentoouviu-se um alarido enorme vindo do hospital…
– Ai… foi ele, de certeza, Irmã!
– Não… deixa ouvir… Ah, foi umamenina que nasceu! Não foi o teu menino. Os gritos são diferentes…
– Bem, tenho de lá ir…
Voltei para o hospital. O meninocontinuava deitado no berço, sem se mover. A respiração estava mais tranquila,o coração batia mais certo, mas continuava em coma. Olhei melhor para ele... Alguma coisa na face se tinha alterado... Belisquei-o para ver sepelo menos reagia à dor e fiquei horrorizada! Em resposta à dor ele tinhamexido levemente apenas um dos braços… Tinha metade do corpo paralisada! As lágrimas começarama correr-me. Tinha sofrido danos cerebrais graves…
(continua...)