20
Ago13
[welcome to mozambique] a música é a alma de um povo!
beijo de mulata
Já vos falei disto dezenas de vezes. Assistir a uma cerimónia ou uma celebração em Moçambique é coisa para nos deixar sem ar de tal forma os nossos sentidos são intensamente invadidos. Pelas cores vivas das capulanas das mulheres e das flores que dão vida ao espaço (onde nunca faltam os ubíquos beijos-de-mulata, que, como sabemos, nascem em qualquer degredo e se criam em qualquer chão!) e que parecem flutuar, suspensos nos fios que cruzam o espaço bem acima das nossas cabeças. Somos quase impercetivelmente inebriados pelo suave perfume das flores do frangipani que nos evoca o cheiro exótico da noite africana e pelo cheiro da terra, da erva, dos rios que correm próximo e das flores silvestres, a que se mistura o odor a corpos, que longe de ser desagradável, subitamente faz sentido naquela mescla de sensações que nos prende com toda a força à realidade!
E a música é arrebatadora! O ritmo quente dos batuques e a harmonia espontânea das várias vozes preenche-nos a mente e instiga-nos a dançar, nem que seja em fantasias, numa energia que nos sacode a alma. Tudo parece um milagre, de tão fácil e intuitivo que aparenta. Quase diríamos que não era possível haver quem cantasse ou tocasse assim sem nunca ter tido aulas de música. Mas várias vezes assisti ao prodígio de ensinar uma música às meninas que viviam com as irmãs e, à quarta ou quinta vez que a cantavam, já havia duas ou três que entoavam uma segunda voz, criada no momento, acrescentando à melodia cores e profundidades anteriormente insuspeitadas. São dons de quem, "desde a capulana de sua mãe"*, foi ensinado a que saber cantar e dançar é tão importante como saber falar ou ter boas maneiras em sociedade.
* Expressão equivalente a "desde o berço".