19
Nov16
[oh happy day!] então, beijo-de-mulata, não falas do casamento?
beijo de mulata
É verdade, meus queridos amigos... casei-me com Mr. Shaka no dia 12 de novembro. Ganhei toda uma nova credibilidade, um anel de noivado, uma aliança de casada, dois apelidos novos (agora chamo-me Senhora Dona beijo-de-mulata-de-Shaka-Zulu, valha-me Deus, beijo-de-mulata Maria, onde é que tu estavas com a cabeça?), uma despedida de solteira de sonho e um dia de princesa! E quinze dias (just say it!, quinze!) de licença!
Eu nunca tinha sonhado com esse dia. A minha felicidade não passava por aí... É verdade, meus amigos, garanto-vos. Mas enfim, os milagres acontecem na minha vida e tenho de os aceitar... O dia foi simplesmente perfeito para mim... foi quase mágico entrar mais uma vez na Basílica da Estrela, onde ia à missa em criança e ouvir o órgão histórico que acompanhava as missas da minha infância. E onde Mr. Shaka foi organista durante anos. E recordar que foi ali que eu e Mr. Shaka nos reconhecemos, vários anos depois de nos termos visto apenas uma vez... Ouvir a música de entrada, que era a pièce de resistance do concerto em que nos conhecemos (traduzida e adaptada por mim, claro, porque eu não queria que se falasse nos moinhos satânicos de Inglaterra no casamento, valha-me Nossa Senhora da Língua Portuguesa), cantada pelo melhor coro feminino que alguma vez poderíamos ter. E foi uma quase-surpresa ouvir as músicas que Mr. Shaka escreveu e orquestrou para a missa do casamento (não tenho autorização para as divulgar, que são apenas para consumo doméstico, um quase-segredo de família, diz ele).
Também o meu amigo João Andrade Nunes, para mim o melhor compositor da atualidade, não me desiludiu. Como aliás, nunca desilude em nada do que faz ou escreve. Já tinha escrito a ação de graças para o batismo do meu sobrinho, Baby M., com a letra da canção de embalar que eu ouvia cantar às mamãs macuas no hospital em Moçambique. Lembram-se?
Quero agradecer-te por teres nascido
Dorme, meu amor, fica tranquilo
Porque enquanto estiveres a dormir
eu fico aqui a repetir o teu nome
E Deus vela por todos nós...
Desta vez escreveu-nos uma ação de graças de ir às lágrimas. Podem ouvi-la aqui, desde que a ouçam até ao fim...
E perguntam vocês, e o baby-de-mulata, como se portou? Ah, esse foi um querido! Quer-se dizer... foi um querido depois de passado o choque inicial, semanas antes. O drama e o horror aconteceram quando descobriu que o tal de vestido de noiva com cauda, de que tanto se falava, tinha uma cauda sim, mas não como os dragões ou os dinossauros. Era de renda, acredite-se! E ele que estava tão entusiasmado... Como era possível? Traição! De renda, mãe? E... branco?! Ai valesse-lhe São Jorge...
Mas como eu dizia, passado o choque inicial, ainda demorou a aceitar que não podia ir vestido de dragãozinho, a fazer pendant com sua mãe. Mas, por fim, depois de várias negociações (e de alguns subornos, confesso, que nestes casos não há que olhar a meios), lá aceitou ir à baixa experimentar um fato a condizer com o papá. Mas sempre a ameaçar que só entrava na igreja se fosse ao meu colo. Menino das alianças é que ele não queria ser. Ainda por cima para me dar de mão beijada ao pai... Como se sabe, Freud pode ter dito muitos disparates, mas nisto não falhou!
Passou-me de tudo pela cabeça, que fugisse da basílica, que se me atirasse para o colo, que se borrifasse para as alianças e fosse jogar à bola para o adro da igreja. Tudo menos a forma irrepreensível como se portou! No momento certo olhou para mim e para o avô, que me dava o braço, e lá foi à minha frente, no compasso certo, ao lado dos primos, Mr. B. e Baby M., com a salva de prata na mão, direitinho até ao altar. Só vacilou no consentimento, quando eu e Mr. Shaka trocámos as alianças. Vi bem na cara dele que ficou triste quando percebeu que a mãe só se casou com o pai. Mas bastou sairmos do nosso lugar, mesmo a meio da missa, para lhe irmos dar um abraço e o baby lá se animou outra vez.
Não me apetecia despegar dali no fim, ao ouvir mais um cântico de Mr. Shaka, o cântico de vida nova... Mas lá fora aguardavam-me aqueles que amo incondicionalmente. Não estavam todos, é certo, porque não é possível nunca que venham todos os que queremos, por variadíssimas razões. Mas todos os que estavam eram muito, muito especiais. E isso basta.
Eu nunca tinha sonhado com esse dia. A minha felicidade não passava por aí... É verdade, meus amigos, garanto-vos. Mas enfim, os milagres acontecem na minha vida e tenho de os aceitar... O dia foi simplesmente perfeito para mim... foi quase mágico entrar mais uma vez na Basílica da Estrela, onde ia à missa em criança e ouvir o órgão histórico que acompanhava as missas da minha infância. E onde Mr. Shaka foi organista durante anos. E recordar que foi ali que eu e Mr. Shaka nos reconhecemos, vários anos depois de nos termos visto apenas uma vez... Ouvir a música de entrada, que era a pièce de resistance do concerto em que nos conhecemos (traduzida e adaptada por mim, claro, porque eu não queria que se falasse nos moinhos satânicos de Inglaterra no casamento, valha-me Nossa Senhora da Língua Portuguesa), cantada pelo melhor coro feminino que alguma vez poderíamos ter. E foi uma quase-surpresa ouvir as músicas que Mr. Shaka escreveu e orquestrou para a missa do casamento (não tenho autorização para as divulgar, que são apenas para consumo doméstico, um quase-segredo de família, diz ele).
Também o meu amigo João Andrade Nunes, para mim o melhor compositor da atualidade, não me desiludiu. Como aliás, nunca desilude em nada do que faz ou escreve. Já tinha escrito a ação de graças para o batismo do meu sobrinho, Baby M., com a letra da canção de embalar que eu ouvia cantar às mamãs macuas no hospital em Moçambique. Lembram-se?
Quero agradecer-te por teres nascido
Dorme, meu amor, fica tranquilo
Porque enquanto estiveres a dormir
eu fico aqui a repetir o teu nome
E Deus vela por todos nós...
Desta vez escreveu-nos uma ação de graças de ir às lágrimas. Podem ouvi-la aqui, desde que a ouçam até ao fim...
E perguntam vocês, e o baby-de-mulata, como se portou? Ah, esse foi um querido! Quer-se dizer... foi um querido depois de passado o choque inicial, semanas antes. O drama e o horror aconteceram quando descobriu que o tal de vestido de noiva com cauda, de que tanto se falava, tinha uma cauda sim, mas não como os dragões ou os dinossauros. Era de renda, acredite-se! E ele que estava tão entusiasmado... Como era possível? Traição! De renda, mãe? E... branco?! Ai valesse-lhe São Jorge...
Mas como eu dizia, passado o choque inicial, ainda demorou a aceitar que não podia ir vestido de dragãozinho, a fazer pendant com sua mãe. Mas, por fim, depois de várias negociações (e de alguns subornos, confesso, que nestes casos não há que olhar a meios), lá aceitou ir à baixa experimentar um fato a condizer com o papá. Mas sempre a ameaçar que só entrava na igreja se fosse ao meu colo. Menino das alianças é que ele não queria ser. Ainda por cima para me dar de mão beijada ao pai... Como se sabe, Freud pode ter dito muitos disparates, mas nisto não falhou!
Passou-me de tudo pela cabeça, que fugisse da basílica, que se me atirasse para o colo, que se borrifasse para as alianças e fosse jogar à bola para o adro da igreja. Tudo menos a forma irrepreensível como se portou! No momento certo olhou para mim e para o avô, que me dava o braço, e lá foi à minha frente, no compasso certo, ao lado dos primos, Mr. B. e Baby M., com a salva de prata na mão, direitinho até ao altar. Só vacilou no consentimento, quando eu e Mr. Shaka trocámos as alianças. Vi bem na cara dele que ficou triste quando percebeu que a mãe só se casou com o pai. Mas bastou sairmos do nosso lugar, mesmo a meio da missa, para lhe irmos dar um abraço e o baby lá se animou outra vez.
Não me apetecia despegar dali no fim, ao ouvir mais um cântico de Mr. Shaka, o cântico de vida nova... Mas lá fora aguardavam-me aqueles que amo incondicionalmente. Não estavam todos, é certo, porque não é possível nunca que venham todos os que queremos, por variadíssimas razões. Mas todos os que estavam eram muito, muito especiais. E isso basta.