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Beijo de Mulata

Beijo de Mulata

15
Ago12

[outras palavras] inspiração para uma despedida

beijo de mulata


Também este crepúsculo nós perdemos.
Ninguém nos viu hoje à tarde de mãos dadas
enquanto a noite azul caía sobre o mundo.

Olhei da minha janela
a festa do poente nas encostas ao longe.

Às vezes, como uma moeda,
acendia-se um pedaço de sol nas minhas mãos.

Eu recordava-te com a alma apertada
por essa tristeza que só tu me conheces.

Onde estavas então?
Entre que gentes?
Dizendo que palavras?
E porque vem até mim todo o amor de repente
quando me sinto triste, e te sinto tão longe?

Caiu o livro que sempre escolhíamos ao crepúsculo
e como um cão ferido rolou a meus pés a minha capa.

Sempre, sempre te afastas nas tardes
para onde o crepúsculo corre, apagando as estátuas.

Pablo Neruda in Vinte Poemas de Amor e uma Canção Desesperada
14
Ago12

[zambézia] mais um momento arrebatador!

beijo de mulata


Mais um momento para quem, como eu, ama a língua Macua e se encanta com as músicas e as danças... E, já rendidos a esta alegria, ao minuto 04:38, eis que vemos o bispo a dançar e um albino adulto (adulto!) a dançar também no meio do povo! [Para os que não entenderam de imediato o que isto tem de raro e extraordinário, sugiro que vão um pouco mais às profundezas deste mato.] Quem pode dizer que a Zambézia não é uma província maravilhosa?
(Gurué, Zambézia)
12
Ago12

[das coisas realmente importantes] um sorriso

beijo de mulata
Eu sou uma pessoa que acredita piamente que a boa disposição é determinante para sobreviver às provações da vida, acredito que o sorriso e o bom-humor melhoram o prognóstico de qualquer doença, acredito que um sorriso ou, nos mais afoitos, uma gargalhada, liberta, refocaliza e aumenta a produção de endorfinas*. Um sorriso fortalece o sistema imunitário e dá-nos força anímica para lutar! Aliás, de que serve vencer o que quer que seja, se não for com um sorriso nos lábios?

Uma das coisas que sempre fiz, mesmo quando ainda não era médica, foi tentar fazer rir as pessoas mais tristes. Se estivesse algum doente em fase terminal, aproximava-me dele, e ia ver de que precisava. Na altura tinha mais tempo, claro, porque não contavam comigo para trabalhar e portanto estava por minha conta. Eram estes os doentes de que ninguém queria cuidar por estarem a morrer. Não é fácil lidar com os próprios sentimentos e com os dos outros. E é difícil descortinar um sentido no fim da vida. Mas, por pior que estivessem, conseguia quase sempre fazê-los rir com qualquer coisa e apaziguá-los no meio da angústia final. Sem desrespeito pelo momento, claro. É uma questão de sentir o outro e intuir a oportunidade.

Ontem descobri que felizmente ainda não perdi essa capacidade. Ontem, no funeral de uma doente minha, uma menina que eu conhecia há seis anos, depois de um abraço e de rezar com a mãe, consegui dizer-lhe uma frase que a fez sorrir. E depois de lhe arrancar um sorriso, via-a levantar a cabeça e encarar novamente as pessoas ali presentes...

* Assim uma espécie de anticorpos contra a dor, quer da alma quer do corpo.
21
Jun12

[a força que um povo pode ter!] valha-nos santo antónio do esférico...

beijo de mulata
Sofrida, mas foi uma vitória mais do que merecida. Grande equipa e grande jogo, este Portugal-República Checa! Ver os jogos da Selecção Nacional é um prazer tão compensador que já nem lhe chamo guilty pleasure... E este prazer devo-o em grande parte à Cadeira de Anatomia II da faculdade (valeu a bem pena o tempo que lhe dispensei!), já que foi durante a época de exames do segundo ano que a vontade fervorosa de estudar, a curiosidade científica sobre o corpo humano e o interesse da cadeira em geral não me deixavam despegar do ecrã. Até um França-Turquia eu vi do princípio ao fim, com os livros no colo e a prometer a mim própria que estudava no intervalo...
14
Jun12

[sabes que estás a precisar de férias quando...]

beijo de mulata
Há dias, no corredor do hospital, encontrei a mãe de uma menina de cinco anos que eu tratei no serviço de urgência com uma pneumonia grave e que, no final de todo o processo, acabei por enviar para a consulta de obesidade. A mãe era uma cozinheira à moda antiga, que fazia comida em casa para dois restaurantes e a filha, muito solícita, passava metade do dia com ela na cozinha. A ajudar a comer, obviamente.

Perguntei-lhe como estava, dei-lhe os parabéns porque ela própria e a filha estavam visivelmente mais magras.
- Sim, doutora, agora estamos todos a fazer dieta lá em casa!
- Muito bem, é isso que se quer, e a menina não voltou a ter mais doença nenhuma?
- Não, ela agora está óptima!
- Muito bem, então adeus e as melhoras...
- Obrigada, doutora, bom apetite!

Não sei quanto a vocês, mas para mim a silly season já começou!

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