Três da manhã, Urgência de Pediatria ainda muito movimentada. A avó de um menino de quatro anos que conheço desde que nasceu, com múltiplos problemas de saúde e que em tempos difíceis reanimei duas vezes na mesma noite, entra-me, esbaforida, no gabinete.
- Mais uma convulsão, doutora. - Boa noite, avó, não há meio de uma pessoa se habituar a isto, não é verdade? - Pois não, doutora, coitadinho do meu menino. Desta vez foram dois minutos. - Mas passou sozinha desta vez? - resposta afirmativa da avó - Que medicamento é que o menino está a tomar para a epilepsia? [Baixinho, a medo] - É o "Dá práqui". [Pausa para reflexão fonética]- O Depakine? - Arrisquei. [Sorriso de orelha a orelha, aliviado, voz muito mais assertiva] - Isso, o "Dê práqui"! Afinal era fácil!
Isso! É só uma questão de tratar o medicamento por você em vez de o tratar por tu.
- A Chica foi ao Centro de Saúde à consulta homeopática. - Não sabia que havia disso no Centro de Saúde. - No caso dela sim. É só estar 5 minutos a falar com o médico que fica logo boa das doenças todas. - Mas isso não é consulta homeopática, isso é consulta psicossomática. Homeopática era se ela fosse ao centro de saúde só para ler o nome do médico na porta e voltasse para casa curada.
Ontem, o baby-de-mulata mais uma vez foi comigo e com Mr. Shaka, seu papá, ao ecoponto mais próximo levar o lixo reciclável. Para ele, tudo o que envolva sair de casa e ajudar os seus papás a fazer coisas de crescidos é um programão! E, claro, é sempre uma atividade pedagógica que promove o conhecimento dos materiais de utilização corrente ("isto é papel, isto é vidro, isto é plástico"). E a minha convicção pessoal é que em matéria de ambiente, educação para a cidadania e resíduos sólidos urbanos nunca é cedo demais para começar!
E lá íamos nós: - E como se chama um caixote do lixo para colocar... vidro? - É um vidrão. - Que lindo, baby, tu sabes muitas coisas! E um caixote do lixo para pôr papel? - É um papelão. - E um caixote do lixo para pôr embalagens? - É um embalão.
E foi então que a coisa começou a descambar... - E um caixote do lixo para pôr colchas? - ... É um colchão! [Um sorriso e depois uma gargalhada de quem percebeu o trocadilho...]
- E um caixote do lixo para pôr... trambolhos? - É um t'ambolhão! Ahahaha!
- E um caixote do lixo para pôr... Carrilhos? - É um carrilhão!
- E um caixote do lixo para pôr... túbaros? - É um tubarão! Ahahaha!
- E um caixote do lixo para pôr caixas? - É um caixão!
- E um caixote do lixo para pôr... calças? - É um calção!
- E um caixote do lixo para pôr boias? - É um boião!
- E um caixote do lixo para pôr... diversos? - É uma diversão! - ...um ar confuso... - Pois é, mãe?
- Sim, meu amor! E um caixote do lixo para pôr confusos? - É uma confusão! Ahahaha!
- E um caixote do lixo para pôr fogos? - É um fogão!
- E um caixote do lixo para pôr... solteiras? - É um solteirão! [Esta ele não percebeu, mas pode ser que se vá entranhando...]
O baby ria, nós desfazíamo-nos à gargalhada com ele, e eu fiquei mesmo feliz porque o meu menino já consegue manipular sílabas, derivar palavras e ainda por cima tem sentido de humor e consciência fonológica. Mais um passo para o conhecimento metalinguístico e preparar a leitura e escrita. Também para isso nunca é cedo demais...
... também não foi em 2014 que nasceu outro Cristiano Ronaldo. Aliás, desde 2012 que não nasce nenhum. O Cristiano Ronaldo mais novo do país já vai fazer 3 anos dentro de dois meses, por contraponto aos seis Cristianos Ronaldos de 2008 que já vão fazer sete anos. Acho que estamos a perder o otimismo.
A minha querida Irmã Lurdes (quem conhece este blogue há algum tempo, quem leu o meu livro ou quem me conhece sabe certamente de quem estou a falar), está internada, depois de mais de um ano de doença crónica e debilitante. Nunca me saíram da mente as suas palavras, num dia em que a médica lhe disse: "A Irmã tem fé, mas sabe... Deus às vezes não é para todos...". Ao que ela respondeu: "O que quer dizer com isso? Acha que não tenho coração para aceitar tudo aquilo que Deus me quiser dar?"
Eu tenho inveja desta fé, desta força de amar tudo e todos, sempre sem desanimar. As melhoras, Irmã... Fique com estas imagens, que a poderão animar um pouco das saudades que certamente terá das danças de África. Coragem e confiança!
... estar à espera da segunda filha, passar toda a gestação a inventar estratégias para preparar o nascimento de forma a que não afete a mais velha e... chegar à hora da verdade e ver-lhe um sorriso de felicidade estampado no rosto. Passado uns dias, a babada irmã mais velha olhava embevecida para a bebé e comentou com a mãe:
- Sabes, mãe, estou tão contente... era mesmo esta mana que eu queria!
(E eu, que tenho a melhor profissão do mundo, comovi-me...)
E a quadra de Natal começou! Cá em casa treinamos afincadamente para a festa de Natal do colégio do baby-de-mulata, e cantamos ainda esta música que vos deixo, provavelmente a melhor canção de Natal infantil escrita nos últimos anos! Ensinem aos vossos filhos, que a vida é simples, e o Natal também!
Que comecem as festas! E que, com este pretexto, as mais belas canções de embalar de Natal voltem ao leito do baby-de-mulata e à hora do adormecer que é só nossa...