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Beijo de Mulata

Beijo de Mulata

11
Jan13

[vozes brancas*] dar e receber...

beijo de mulata

Ontem, a propósito de um dia muito importante que se avizinha, o diretor da minha ONG foi convidado para falar numa escola, a pedido dos alunos de uma turma do 3º ano. Eles estavam sobretudo interessados em saber como era a vida em África, que doenças tratávamos, como eram as escolas, as casas, os transportes, a internet... Em que consistiam os projetos.

Por fim, houve um que lhe perguntou como poderiam ajudar também e ele respondeu que poderiam ficar com um mealheiro da ONG e recolher pequenas contribuições de familiares, amigos e vizinhos. "Porque ninguém é tão pobre que não possa ajudar com a moeda mais pequenina."
- E ninguém é tão rico que não possa também receber - apressou-se a acrescentar a professora.

Nisto, o tal aluno, com pouco mais de 8 anos acrescentou, meio pensativo:
- Nem ninguém é tão feliz que não precise de dar alguma coisa...

Fiquei derretida e impressionada com a clarividência desta frase...

* Timbre da voz das crianças antes da puberdade.
04
Jan13

[olha, também há babyshower blogosférico por aqui] obrigada, bê!

beijo de mulata


"In the light of the moon, a little egg lay on a leaf."

Começa assim o maravilhoso clássico para crianças que a minha querida Maria Bê, exímia caçadora de escorpiões americanos, uma mulher que se lembra de todo o tipo de cenas e acha isso um defeito, mãe de duas crias maravilhosas, enviou do Arizona para o meu baby-de-mulata! Ele adorou! Baby M., o seu primo pseudo-gémeo também não desgrudou do livro o dia todo. Com toda a propriedade, diz Maria Bê que foi esse o primeiro livro da filha mais velha. Eu digo que foi com este livro que descobri que o baby-de-mulata sabe contar até cinco!

Desde então tenho-lhe cantado a música da borboleta? para dormir:
 
Borboleta, borboleta
D'asa às cores e cara preta
Tu já foste uma lagarta
Verde e gorda, feia e farta...
 
Claro que ele, como futuro homem de barba rija que se preze, ao terceiro verso começa a gritar: "Não, não! O popó!" (Prefere a música do popó, humpf, como é possível?!) Mas é uma questão de tempo e de não perder o ritmo... Obrigada, Bê!
27
Out12

[sem palavras] embora venham por aí certamente umas quantas!

beijo de mulata
Ontem foi um dia tão rápido. Talvez rápido demais para o ter sentido passar por mim! Um dia cheio de milagres.

De manhã adoro ouvir o baby no quarto ao lado acordar, senti-lo dar-se conta uma vez mais de que tem um cãozinho na cabeceira e começar a palrar com ele, num discurso com muitos ão-ão-ãos e muitos pa-pa-pas, que só ele sabe o que quererão dizer... Depois conversa mais um pouco com o urso e só depois, para aí meia hora depois, é que me chama... (Sim, eu sei que isto é um discurso um bocado mete-nojo, mas ando mesmo babada e a achar que o baby é perfeito, pelo que peço desculpa aos pais cujos filhos acordam antes das seis da matina, retemperados por cinco horas de sono e fazem soar a sirene para que todos se apercebam do facto...)

Mas ontem quase nem tive tempo de o ficar a ouvir. Levantei-o assim que acordou porque havia que estar pronto a tempo. Era o dia em que íamos conhecer a Sónia Morais Santos, a blogger mais querida da blogosfera nacional, que me deixou boquiaberta há uns dias, ao me convidar para uma entrevista! E sim, é tão simpática ao vivo como parece no blogue! O baby colaborou e dormiu o tempo todo que durou a entrevista. Mesmo quando me tive de "disfarçar" de africana (num estilo afro-chic, que se não existia acabou de ser inventado) e sair para tirar fotos, ele continuou a dormir placidamente.

Eu não gosto de tirar fotos, não gosto de me expor, nunca gosto de me ver depois, e fico desconfortável, sobretudo ao pé de profissionais, mas já que tinha de ser, que agarrasse o toiro pelos cornos... E lá tentei fazer o meu melhor.

Mas o melhor ainda estava para vir... A sala do Colombo estava cheia de pessoas maravilhosas que me encheram o coração! Alguns amigos de sempre, muitos colegas e amigos que sempre admirei mas que, no caso de alguns, não via há séculos, outras pessoas que quase não tinha esperança que viessem... Estava o missionário a quem devo a minha primeira ida e o inicio da minha paixão por Moçambique, as amigas R. e F., que embarcaram comigo para Moçambique, nesta aventura que é viver com quase nada, os digníssimos representantes da APARF, sem os quais talvez não tivesse tido a coragem de ir tantas vezes... As pessoas da clínica fantástica onde trabalho, desde o segurança até aos recepcionistas, passando pela directora, os colegas da Estefânia... E, calculem, estavam também a Ursa Maior, o que me deixou incrédula (e, confirma-se, pode carregar as culpas de toda a humanidade no peito!), a São João, a Cocó na Fralda, a Zu e alguns leitores anónimos deste mato!

E a minha querida Helena Marujo, ja anteriormente linkada, teceu-me um elogio tão rasgado que provavelmente só vou receber um elogio maior no meu funeral... Milagres que eu um dia gostava de fazer por merecer...

Obrigada a todos!
29
Set12

[uma história de amor] e é quando o baby-de-mulata entra no blogue

beijo de mulata
Meus queridos amigos, tenho adizer-vos que vamos ter de regressar do mato para Lisboa durante uns tempos.É que este blogue é capaz de se transformar num familyblog dentro em breve...
Estive a pensar se haveria de vos falar doamor que me tem ocupado os dias e cheguei à conclusão que sim. Que tinha deser. Porque neste momento não tenho outro assunto. Vocês sabem que eu souaquela que fala, fala, fala, mas não fala sobre si própria. Conta muitashistórias, mas não conta história nenhuma de dentro de casa. Mas hoje, depoisde ter conhecido tantas pessoas que gentilmente me vieram e continuam a virvisitar ao mato, depois de tantas pessoas me terem dito que sabem a razão pelaqual não se deve passar por debaixo de um cajueiro se não se ouvirempassarinhos a cantar, acho que faz todo o sentido partilhar convosco a alegriaque tive!
A história começa há quasedez anos. As pessoas que me conhecem bem sabem que em tempos tive umquase-filho. Um menino moçambicano que conheci na Casa do Gaiato e que veiopara Portugal porque tinha um tumor no cérebro. Fui eu que tomei conta deleenquanto esteve em Portugal e foi até por causa dele que decidi ir paraPediatria, que antes nem sequer me tinha passado pela cabeça que pudesse teralgum jeito para crianças...

Depois de ele morrer, fiqueicom uma tristeza enorme. Mas, durante todos estes anos, tive a convicção, umpouco nas traseiras da mente, de que me haveria de voltar a cair um filho nosbraços... Acreditava que só tinha de olhar bem para todos os lados, para ver deonde é que ele podia vir, e agarrá-lo bem quando ele chegasse. Claro que tinhade ser um menino que mais ninguém quisesse. Há tanta gente a querer adotar,que não seria justo passar à frente de quem quer que fosse. Sempre imaginei queseria um menino africano... Mas, pronto, era um devaneio, não era nada emconcreto, não era um plano estruturado.

Pois... E sabem aquela coisa do "amor à primeira vista",em que eu nunca acreditei? Aconteceu... Foi por alturas da Páscoa, no meuhospital, num banco trocado com outra colega, em que fui chamada a umaenfermaria onde quase nunca entro... O baby-de-mulata,na altura com 11 meses, estava na sala das enfermeiras, sentado numa cadeirinhaa olhar para mim. Achei-o lindo! E era tão simpático, tão tranquilo ali sentadoa olhar para quem passava, já na altura com um ar meio gozão...

Perguntei quemera e o que tinha, o que fazia ali. E disseram-me que era um menino que tinhasido abandonado pela mãe à nascença e que tinha tudo para ser adotado, mas queprovavelmente nunca iria ter uma família que o quisesse porque tinha uma doençagrave e já tinha tido mil complicações. Operado várias vezes, internado desde odia em que nascera. Já tinha havido um casal, amigo dos pais de outra criançainternada naquela enfermaria, que se mostrara interessado, mas ele entretantotinha piorado novamente e o casal desistira. Que estava estável naquele momentoe que estava para ir para uma instituição, mas não tinha vaga ainda...

Perguntei-lhe: "Queres ir lá para casa? Tens vaga lá em casa!E mais dois meninos para brincar." E foi então que me caiu o que tinha dito.O meu coração disparou... "Será que é este?" E o baby continuava a sorrir-me.[Ah, a força que um sorriso pode ter!]

Tentei afastar aquela ideia impossível da minha cabeça. Tentei não me lembrar daquele sorriso. Não era o timing certo. Ainda não tinhauma vida definida, o meu futuro profissional estava cada vez mais umaincógnita... solteira... Tudo contra, portanto...

Mas ele não me saía dacabeça. Como é que eu podia deixar assim um menino sozinho? Não era o meumenino africano, é certo, mas seria justodiscriminar uma criança só porque era loira?, gracejava eu, de mim para comigo.

Perguntei à minha mãe o queela achava e ela respondeu-me que eu é que sabia, que me apoiariaincondicionalmente na minha decisão. Que também achava que não era o timing, mas eu é que sabia...Perguntei à minha amiga de infância, mãe de dois filhos, sensata e meiga e quepassou por um processo destes na primeira pessoa. E ela disse-me que ia ser umaexperiência muito dura e demasiado exigente para uma pessoa só, que pensasse bem.E que amadurecesse a ideia. Disse-me ainda que isto não podia ser uma"ideia brilhante", tinha de ser um projeto de vida! E aquilo que sequer é que uma ideia brilhante para um projeto de vida continue a ser uma ideiabrilhante para sempre.

Vacilei. Fiquei a mastigar aideia. Demorei a decidir-me. Mas em Maio, na despedida de solteira de uma amigaminha, já não aguentava mais. No jantar, por coincidência, estava umaenfermeira que trabalhava na enfermaria onde ele estava internado e disse-lheque andava a pensar em propor-me para adotar o baby-de-mulata.

Ela não me conhecia de ladonenhum, mas deu-me imensa força e foi ela que depois me deu os contactos docentro de acolhimento para onde ele foi e me disse o que fazer para ir até lá.Fui falar com a assistente social, que também me apoiou e explicou-me como éque podia dar início ao processo. Ainda demorei mais um bocado a decidir-me efui várias vezes visitar o menino à instituição para onde acabou por ir. E então lá me decidi.

Nofinal de Junho inscrevi-me na Santa Casa da Misericórdia para o adotar. Milcoisas para entregar, documentos, formações, entrevistas, questionários, umescrutínio da minha vida toda... Mas, felizmente (ou por milagre, já nem sei),elas perceberam rapidamente que o babynão ia mesmo ter mais ninguém e que era melhor apressarem o meu processo paraele não sofrer mais.

Meses depois recebi uma cartadizendo que tinha sido considerada apta como candidata à adoção do menino!Fiquei louca de alegria! O menino podia ter um atraso de desenvolvimento, umintestino que era um "molho de bróculos", outros problemas de váriasordens, mas era o meu menino! O meu baby-de-mulataentrava finalmente na minha história!

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