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Beijo de Mulata

Beijo de Mulata

21
Jan13

[eu juro que ia ficar calada] mas ainda estou com o nervos!

beijo de mulata
Meus queridos amigos, eu sei que sou uma baby-blogger, uma mato-blogger, uma mozambique-blogger, uma portuguesa loira que está ironicamente prestes a tornar-se numa moçambicana mulata por usocapião (Armando Guebuza, mi aguardje!). Sou uma pessoa com bom feitio que acredita até à evidência última que a maioria das pessoas com quem se cruza tem boas intenções. Há poucas pessoas que me fazem zangar e ainda menos as que me conseguem enfurecer.

E não sou nenhuma santa, felizmente. Aliás, para que conste em ata, um dos primeiros posts deste mato e motto da minha vida assevera que "Todos os santos têm um passado, só os pecadores têm futuro."

Por isso estou espantada comigo mesma por ainda não me ter passado a fúria que me assolou quando li este artigo. Mas, sinceramente, a pediatra que habita em mim acordou e está chocada. E envergonhada. E dececionada. Eu, que nem conhecia o senhor que o escreveu. Continuo a não saber nada sobre ele para além do facto de que possui uma crónica no Expresso...

Eu até percebo a ideia geral. O autor pretendeu transmitir desagrado com a ausência de limites e incapacidade de contenção de alguns pais de hoje, mas adotou um discurso simplista e, na ânsia de demonstrar alguma utilização abusiva do termo médico de "hiperatividade", acabou por denunciar a sua própria falta de preparação para discutir o tema, evidenciando zero de documentação sobre o assunto. E zero de empatia para com os pais. Os comentários de alguns professores só me deixaram ainda mais triste ao constatar mais uma vez as dificuldades por que os pais têm de passar quando os filhos têm esse diagnóstico e confirmar mais uma vez que faço bem em recomendar-lhes que mantenham o diagnóstico para si e não o revelem aos professores porque o  preconceito é ainda enorme... Desculpem mas não consigo ficar calada. Nem como desabafo na mesa de um café eu seria capaz de tolerar este discurso.
20
Jan13

[welcome to mozambique] o som de áfrica...

beijo de mulata

 
Para todos os que, como eu, têm saudades e gostariam de estar neste momento no meio de uma dança e de uma harmonia como esta, só com batuques, vozes, língua macua e menear de ancas. Para os que não conhecem, apreciem o pulsar das gentes, a inesperada harmonia espontânea criada só com vozes e aprendam como se faz o "Elulu" (alarido) das mulheres (2:40). Bom domingo!
(Gurué, Zambézia)
19
Jan13

[comentários que valem um post] nódulos, tumores, cancros e afins...

beijo de mulata
 
Comentário ao post anterior escrito pela minha querida Ruiva-da-cidade-das-acácias, futura companheira de viagem à Gorongosa com o baby-de-mulata:
Sou historiadora, ou tento ser vá, mas lembro-me daquela vez em que fui a correr às urgências do hospital de Braga, certa de que tinha encontrado um nódulo no meu corpo, de tamanho enorme e seguramente já num estádio avançado de cancro... A médica que me atendeu, amorosamente auscultou, palpou, fungou e depois afastou-se com o seguinte veredicto e cara de seriedade total: "Parabéns, descobriu os seus nódulos linfáticos!... E deixe-me que lhe diga estão no sítio, de perfeita saúde e com as dimensões normais... Agora por favor diga-me como raio conseguiu descobri-los? É que nós temos tanta dificuldade para os encontrar por palpação, inclusivé nas crianças..."
18
Jan13

[hipocondria] tão bom que já me tinha esquecido como era!

beijo de mulata


Durante o curso de Medicina, não há estudante que se preze que não tenha tido uma preocupação grave com a sua própria saúde, por curta que fosse, sobretudo no terceiro ou quarto ano, em que as doenças e os doentes começaram a surgir em catadupa nas nossas vidas.

Mas, como em tudo, há os que abusam. Eu fui uma delas. E desde cedo! Ao todo umas cento e tal doenças ligeiras, quinze graves e dez fatais! Ele era aneurismas da aorta abdominal, ele era cancros em vários orgãos e sistemas, ele era todo o tipo de doenças infecciosas e parasitárias, incuindo as que existem exclusivamente em locais recônditos de África ou da América do Sul. Recordo-me particularmente de uma insuficiência renal aguda no segundo ano, que durou dois dias, altura em que terminei de estudar o aparelho urinário e passei a ter uma azia de caixão à cova porque me meti (assim à maluca!) a estudar o aparelho digestivo. Recordo-me também de um linfoma no terceiro ano, que só passou com uma autoridade em Hematologia a dar um murro na mesa e dizer-me que não me fazia biópsia nenhuma porque não tinha indicação. Rezei por ele durante anos!

A verdade é que todos passámos por isso. E à medida que o tempo passava, os sintomas tornavam-se cada vez mais sofisticados e consistentes. Qualquer dormência que surgisse, seguia uma distribuição por dermátomos, as dores abdominais exacerbavam-se sempre à descompressão, como na apendicite aguda... Mas claro que tínhamos crítica. Claro que minutos ou, na pior das hipóteses, horas depois fazíamos o percurso mental inverso e desmontávamos os sintomas e somatizações. Riamos de nós próprios, que é sempre o melhor remédio. O problema é que também este processo falhava por vezes. Tenho inclusivamente uma colega que só se rendeu à evidência de que tinha mesmo uma apendicite aguda e não uma somatização (estávamos no estágio de Cirurgia II) quando chegou à fase de "ventre em tábua"...

Depois tudo passou, felizmente! Não tenho saudades, confesso. Muitos dos meus colegas ficaram alérgicos e não suportam doentes hipocondríacos. Eu, pelo menos, continuo sensível ao tema. E achei delicioso ler no outro dia a São João, que dizia com imensa graça: "Não sou hipocondríaca. Eu somatizo é muito!" E responde a Mariana, logo ali, com o mesmo sentido de humor: "Eu também nunca invento sintomas, tenho é muitos. E geralmente todos graves!" Benza-vos Deus, minhas queridas, que não há doença que vos resista à boa disposição!
16
Jan13

[welcome to mozambique] os feiticeiros de tete

beijo de mulata
 
Ritual de Feitiçaria.
(África do Sul, foto daqui)

Vem de muito longe esta notícia partilhada pelo Professor. Deliciosa para mim! Mas sei bem que fica distante demais esta África profunda, de curandeiros, feiticeiros e médicos tradicionais. É quase inacessível à compreensão dos europeus não só o significado daquela pequena trouxa que se despenhou num quintal como também o tempo de antena absurdo dedicado à cobertura de uma notícia deste calibre, sem qualquer perspetiva crítica ou orientação etnográfica para o leitor. Os comentários são ilustrativos de que isto se passou mesmo em outro ponto do planeta...

Mas se alguém se interessar pelos fenómenos antropológicos de Moçambique, siga os links do Prof. Paulo Granjo (Antropocoiso para os amigos).
16
Jan13

[ganhar forças e coragem] destino moçambique

beijo de mulata
Lido no mural da minha amiga que vai brevemente em voluntariado para Moçambique.

Parafraseando São Francisco:
Senhor, fazei-me instrumento da vossa messe.
Onde houver desidratação, que eu leve agua purificada e soros;
Onde houver fome, que eu leve pão;
Onde houver dor, que eu leve ao menos um paracetamol;
Onde houver febre, que eu leve testes rápidos de malária e quinino;
Onde houver desespero, que eu leve a esperança;
Onde houver crianças, que eu leve rebuçados;
Onde houver sordidez, que eu leve sabão.
Onde houver lepra, que eu leve tratamento e muita paciência;
Fazei que eu procure mais:
Consolar os ostracizados, que ser consolada pela impotência perante a vontade dos antepassados;
Compreender as doenças tradicionais, que ser compreendida pelos curandeiros;
Amar, que ser amada.
Pois, é dando tudo isto que se recebe a maior riqueza do nosso mundo.
 
Que oração tão bonita e que atitude tão positiva... Força, linda! Não sabes no que estás metida, é certo, mas se alguém soubesse o que quer que seja de antemão nunca arriscaria sequer o canal do parto, quanto mais uma viagem para outro mundo com um bilhete só de ida... Mas vai em frente, que tenho a certeza de que vale a pena!
14
Jan13

[a nova seleção de esperanças] destino moçambique!

beijo de mulata
 
A represa da Namaíta.
(Nampula, Moçambique)
 
Tenho uma amiga que vai partir em missão para Moçambique dentro de pouco tempo. Ou pelo menos assim o esperamos, que as burocracias são terríveis, lentas e imprevisíveis. E são muitos os chamados, mas poucos os escolhidos...?
 
Vai para um lugar mágico, lindíssimo, próximo de Nampula, a Namaíta. Foi em tempos local onde se albergaram todos os leprosos de uma província, desterrados da família e dos antepassados, doentes de medo e de vergonha. Pobres de tudo, sobretudo de si mesmos. Muitos sucumbiram ao nojo e ao luto da própria vida. Outros reconstruiram a vida naquela paisagem de sonho, cultivaram campos, construiram casas, geraram filhos. Até que a guerra civil democratizou a vergonha e a morte em plena vida. Ter guerrilheiros e bandidos na família, parentes em parte incerta, mortos em desonra longe da terra dos antepassados, talvez tudo isto fosse tão mau como ser leproso. Deixou de haver leprosarias porque, pura e simplesmente, deixou de haver organização para desterrar os doentes e afastá-los das famílias. 
 
Mas ainda hoje a Namaíta é sinónimo de doença e não tanto de ostracismo. Ainda hoje quase todos os residentes são filhos ou netos de ex-doentes. São sensíveis ao tema. Gostam de ajudar os atingidos pela doença que teima em não abandonar aquele chão. A minha amiga não vai só para lá, como é óbvio, porque é o local onde vai ser menos necessária: lepra sem estigma é menos lepra! Mas é certamente lá que vai retemperar forças quando encontrar um homem são a apertar a mão sem medo nem nojo a um doente... E sim, meus amigos, perceberam bem: há lepra em Moçambique.
12
Jan13

[deve ser pecado] janela indiscreta...

beijo de mulata
Deve ser pecado partilhar ainda mais isto convosco, valha-me São Paulo do cavalo bravo... Mas não não vou deixar de o fazer... Como dizia um padre amigo meu, não preciso de ir para o céu, que os meus amigos também não vão para lá! Ontem tive uma surpresa agradável quando uma amiga me ligou a dizer que fosse depressa ouvir a Antena 1. Não fui, que o baby-de-mulata estava a acordar do seu sono de beleza. Mas ouvi depois em Podcast. Obrigada, Pedro Rolo Duarte!

Bom fim de semana!
11
Jan13

[vozes brancas*] dar e receber...

beijo de mulata

Ontem, a propósito de um dia muito importante que se avizinha, o diretor da minha ONG foi convidado para falar numa escola, a pedido dos alunos de uma turma do 3º ano. Eles estavam sobretudo interessados em saber como era a vida em África, que doenças tratávamos, como eram as escolas, as casas, os transportes, a internet... Em que consistiam os projetos.

Por fim, houve um que lhe perguntou como poderiam ajudar também e ele respondeu que poderiam ficar com um mealheiro da ONG e recolher pequenas contribuições de familiares, amigos e vizinhos. "Porque ninguém é tão pobre que não possa ajudar com a moeda mais pequenina."
- E ninguém é tão rico que não possa também receber - apressou-se a acrescentar a professora.

Nisto, o tal aluno, com pouco mais de 8 anos acrescentou, meio pensativo:
- Nem ninguém é tão feliz que não precise de dar alguma coisa...

Fiquei derretida e impressionada com a clarividência desta frase...

* Timbre da voz das crianças antes da puberdade.
10
Jan13

[educar para o futuro] resiliência e esperança...

beijo de mulata

 
A decisão de batizar o meu filho nem sequer foi ponderada, foi sempre algo de evidente que soube que iria fazer desde sempre... Porque é bonito e estruturante o sentido que a fé pode dar à nossa vida. Se ele depois optar por não ser praticante ou mesmo crente, será uma decisão dele... Agora tornar-se sócio do Sporting é coisa que só o deixarei fazer já com os 18 anos feitos e depois de me provar que tem maturidade, auto-estima e resiliência suficientes para aguentar com esperança as provações diárias de um adepto.

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