O double bind da burocracia...
Continuando a história do
Lázaro, o menino de Angola internado no nosso hospital em Outubro de 2011, por uma aplasia medular... se bem se recordam, ele precisava de um transplante de medula óssea e tinha um irmão compatível em Luanda. O problema era que a burocracia para trazer o irmãozinho de Angola para Lisboa estava a tornar-se intransponível e o Lázaro piorava de dia para dia...
Foram semanas, que se transformaram em meses. Volta e meia contactávamos a embaixada e... nada. Nem sequer tinham conhecimento da vinda do menino. Não tinha entrado nenhum pedido de visto para Portugal com aquele nome, respondiam. Não sabiam de nada. Não podiam fazer nada. E nós não entendíamos. Pedíamos, questionávamos, enfurecíamo-nos, praguejávamos baixinho, mas em vão. De que é que nos servia ter tudo para tratar e voltar a dar vida ao nosso menino se o dador estava a milhares de quilómetros dali, sem meio de vir para salvar o irmão?
Ora então, estávamos na parte em que me lembrei que
a minha querida amiga M. nos poderia ajudar e ela me respondeu que sim, que era amiga do bispo da diocese onde vivia a família dele.
Dias depois recebi o
mail de um missionário que num fim-de-semana tórrido se meteu no carro e foi procurar a família para ver se conseguíamos perceber o que estava a bloquear a vinda do irmão. As referências que lhe tínhamos dado eram unicamente estas: viviam "no Cacuaco, ao pé da Praça do Kikolo". Fomos ao
Google Earth espreitar o bairro para perceber se com aquelas coordenadas seria provável que os encontrasse, mas ficámos desolados. O bairro era intrincado demais, labiríntico demais, povoado demais... Só com um milagre. Mas pronto, já sabemos que é precisamente nestas circunstâncias que a magia acontece. E o missionário dizia-nos:
O pai ficou imensamente feliz por eu ter ido lá, ao fim do mundo, à procura da sua casa. Foi uma manhã inteira no meio do inferno de trânsito que Luanda se tornou, horas de perguntas aos transeuntes. Persegui todas as pistas como um louco. Mas valeu a pena. "Ainda bem que há gente que se interessa pelos pobres!", - foi a sua exclamação e agradecimento.O missionário foi então aos serviços onde o passaporte do menino estava retido há meses. Os funcionários não o tinham emitido porque não lhes tinha sido apresentado um documento da Junta Médica dizendo que o menino iria para Portugal para doar medula óssea ao irmão. Mas a Junta Médica só podia emitir o tal documento em face do passaporte.
Pois...
there was only one catch and that was Catch 22...(continua...)