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Beijo de Mulata

Beijo de Mulata

28
Ago12

[vozes brancas* #76] traição!

beijo de mulata
Foto da net. Site não identificado.

Há tempos, uma colega minha, pediatra de mão-cheia, num dia em que a empregada adoeceu, não tendo com quem deixar o filho mais novo, na altura com três anos e meio, levou-o para o consultório. O menino adorava a recepcionista, amiga da família e frequentadora assídua da sua casa. Era uma companheira de brincadeiras que lhe fazia as vontades todas e lhe amparava todas as quedas. Estar ali era uma festa, sobretudo porque podia ir para a enorme sala de brincadeiras e fazer o que bem lhe apetecia: "A minha mãe é que manda aqui!", respondia aos meninos que o queriam destronar das brincadeiras.

De súbito, no gabinete médico, a porta abriu-se para uma das crianças ir à casa de banho com o pai. Curioso, foi espreitar quem lá tinha ficado dentro e foi então que, deu de caras com a mãe, a sua própria mãe!, com um estetoscópio ao pescoço e de otoscópio em punho a observar os ouvidos da criança que lhe sorria da marquesa. Traição! Não era possível! Traição!

E de olhos arregalados, mão à frente da boca e olhar indignado, encarou a mãe, infamemente trajada com a vestimenta mais visceralmente odiada pelas crianças:

- Mãe! Tu és "ménica"!

* Timbre da voz de uma criança antes da puberdade.
26
Ago12

[arina] temos de acreditar!

beijo de mulata


Temos de continuar a  acreditar! O improvável não é impossível, já tive mil vezes a experiência disso. Não nos podemos esquecer da nossa menina. Nem desistir. A campanha já foi, mas a vida continua.

Ontem a minha amiga M. lançou-me um desafio: temos de acreditar que existe um dador compatível. E vamos procurá-lo! Só temos de olhar bem à nossa volta, olhar bem para o nosso lado e tentar perceber onde é que ele está, de que lado é que vem a solução para dar vida a esta criança! Vamos procurar pessoas naturais de Cabo Verde, pessoas que tenham ascendência cabo-verdiana, entre os 18 e os 45 anos e conduzi-las à Estefânia ou ao Centro de Histocompatibilidade.

Muita força e obrigada a todos!
25
Ago12

[o mato em lisboa #10] a junta médica

beijo de mulata
E então, ainda íamos na história do Lázaro, não é verdade? Num post ali abaixo ficámos na parte em que, depois de um documento redigido pelo nosso serviço (e carimbado com tudo o que de remotamente oficial havia lá na enfermaria), o passaporte do seu irmão foi emitido para que viesse para Portugal doar medula óssea e assim salvá-lo de uma aplasia medular gravíssima...

Faltava que a Junta Médica desbloqueasse a verba para permitir a vinda do Lito-afinal-Alexandre para Lisboa. O missionário, que tinha conseguido a proeza de mandar emitir um passaporte em poucos dias, inicialmente pensou que seria rápido. Mas rapidamente voltámos à estaca zero. O pai não conseguia sequer chegar à fala com ninguém. Diariamente caminhava para o gabinete onde teria de expôr a situação, mas ninguém o recebia. Eficazmente instruído pelo senhor padre, ia sempre no seu uniforme de polícia, aprumadíssimo, formal, bem arranjado, mas em vão... Já calculávamos. Tudo o que implique dinheiro é lento em qualquer parte do mundo, quanto mais num país pejado de burocracia e corrupção...

Mas, que diabo!, naquele país onde falta tudo menos dinheiro? Que não nos viessem dizer que não conseguiam enviar o menino e o seu pai para Lisboa! Os dias somavam-se e o Lázaro, como que prevendo o que estava para acontecer, parecia que, por fim, estava a querer voltar a "ligar" a medula óssea. Pouco a pouco, a hemoglobina foi subindo, deixámos de precisar de lhe transfundir plaquetas. Nunca mais teve infecções porque os glóbulos brancos, mesmo sendo poucos, chegavam para toda a bicheza da enfermaria. Até passou a ter autorização para sair do quarto e brincar no corredor de máscara...

Mesmo assim achávamos prudente continuar as diligências em Angola. Era melhor o menino vir, pelo sim pelo não... As notícias que enviávamos omitiam propositadamente o facto de ele estar a melhorar: não sabíamos se não seria apenas um fenómeno fortuito e temporário...

O Padre Agostinho em resposta queixava-se que estava a ser difícil. Muito difícil. "Dos pobres ninguém se lembra... não têm voz nem peso..."

Foi então que ele se lembrou de uma estratégia. Não me perguntem como foi que ele teve aquela ideia genial, mas a verdade é que um padre nunca se atrapalha, que um padre atrapalhado é pior que um anestesista bêbado.

Depois de quase dois meses, descobriu quem lhe haveria de resolver o problema: teria de ser o Exmo. Sr. Director da Polícia do Cacuaco a falar com o mui alto e digníssimo Médico Prelsidente da Junta. O assunto assim passava a ser entre chefias. E entre chefias as coisas tinham de se resolver, ou ele não se chamasse Agostinho e não fosse confessor de meio mundo! E foi assim que o processo foi desbloqueado. Pouco mais de uma semana depois de ele ter tido aquele arranque de génio, fomos avisados que o menino já vinha a caminho, provando-nos, mais uma vez que, com muita vontade, os milagres lá vão acontecendo!

(E a história podia ter terminado aqui, mas não, meus amigos, não terminou...)
22
Ago12

[o mato em lisboa #9] fintar a burocracia

beijo de mulata


(continuando a história do Lázaro...)

Foi então que percebemos o que estava a bloquear a vinda do irmão do Lázaro de Angola para Portugal para lhe doar medula óssea. Até aí tudo nos tinha passado pela cabeça... A embaixada garantia que não havia problema nenhum, mas não tinha conhecimento de nada. Ainda nem sequer tinha sido formalizado o pedido do visto da criança. Seria então a família que estava a bloquear o processo? Será que o pai não podia ou não queria acompanhar o filho a Portugal? Será que pensavam que o procedimento podia pôr em risco a vida do irmão? Pensariam que o menino podia ficar sem ossos ou "contaminado" com a mesma doença?

Não, não era nada disso. O problema era muito mais simples, mas praticamente intransponível: o passaporte não tinha sido emitido porque o pai não tinha apresentado nenhum documento da Junta Médica dizendo que o menino precisava de vir. E a Junta Médica não emitia esse documento sem o passaporte. Ah, a burocracia no seu melhor!

Mas o missionário amigo da minha querida M., habituadíssimo a estes assados, no mesmo dia engendrou a solução: tínhamos de ser nós a emitir um documento a atestar a necessidade premente de enviar o Lito-aliás-Alexandre o mais rápido possível para Portugal.

Pronto, se era esse o problema, era para já! Documento nós fôssemos, que já lá estávamos! Escrevi o texto mais assertivo da minha vida (só faltou mencionar que o meu pai era o dono daquilo tudo) e enviámos o documento por mail no mesmo minuto.

Horas depois vinha a resposta: não, o documento não estava em conformidade! A pessoa que assinava não tinha título, não estava lá escrito que era director de nada e nestas coisas é sempre preciso um director. Não tinha carimbos suficientes nem selos bastantes. Podia ser verdadeiro mas, aos olhos da máquina burocrática, não era credível. Não passaria! Claro, mas que cabeça a nossa... Pedimos à secretária da enfermaria para carimbar o documento com tudo o que tivesse à mão (até os carimbos do centro de custo foram naquele documento!), digitalizámo-lo e enviámo-lo.

Agora estava tudo certo, respondia o Sr. Padre! Agora achava que sim, que já passaria. Pouco dias depois, o passaporte estava emitido.

Faltava a Junta Médica...

(continua...)
21
Ago12

[nomes que dizem tudo #30] uma dupla imbatível

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Missa dominical na Comunidade de Oito Quilómetros... Reparem no pormenor dos beijos-de-mulata suspensos no tecto, alegrando o ambiente!
(Ribáuè, Nampula)


Há alguns anos, na comunidade de Nossa Senhora da Imaculada Conceição de Oito Quilómetros*, em Ribáuè (Nampula), o Padre Gasolina nomeou como animador paroquial o Sr. Cinco Litros.

E durante os anos em que Gasolina e Cinco Litros foram parceiros, a paróquia de Oito Quilómetros foi de vento em popa e floresceu como nenhuma outra na província. Dezenas de jovens descobriram em Oito Quilómetros a sua vocação religiosa. É bonito ver como podem coexistir a harmonia, a fé, a esperança e a concordância sintáctica numa mesma comunidade...

* Uma aldeia assim designada por se situar ao quilómetro 8 da estrada que liga Iapala a Ribáuè. O nome da paróquia pode ler-se inscrito na parede atrás do altar na primeira foto. Para não pensarem que invento nomes e situações... É o problema do costume: a realidade não tem a menor obrigação de ser verosímil.

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