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Beijo de Mulata

Beijo de Mulata

04
Jul12

[acreditar no milagre] coragem, mãe coragem!

beijo de mulata
Já vos falei da nossa princesa, a Arina, a menina Cabo-Verdiana de quatro anos que está internada desde Outubro no nosso hospital. Que mais vos posso contar sobre ela?

 A mãe, ainda jovem, era educadora de infância em São Nicolau. O pai, igualmente jovem é fotógrafo e continua em Cabo Verde com o filho mais velho, a trabalhar para o poder sustentar e ainda ajudar um pouco a mulher e a filha em Lisboa. A filha adoeceu em Agosto do ano passado, e perceberam rapidamente que algo de muito grave se passava com ela. Cheia de nódoas negras, com pouca energia para brincar... Os médicos não lhes deram esperança nenhuma em Cabo Verde. Se ficasse não conseguiria sobreviver. Tinha de ser transferida para Lisboa. Era a única esperança.

E a mãe continua agarrada a essa esperança. Eu pessoalmente não sei o que faria nessas circunstâncias. Sabendo que a probabilidade de a minha filha sobreviver era assim tão escassa, o mais provável seria que a mimasse até à exaustão. Que lhe fizesse as vontades todas. Que fizesse questão de gozar o mais intensamente possível o tempo que passava com ela. Todos os dias. E que chorasse, que desesperasse, que vivesse naquele eterno dilema: se lhe imponho limites e castigos, depois posso arrepender-me de ter sido demasiado severa, se não lhe imponho limites, corro o risco de não a preparar para viver no mundo real.

Não é o que esta mãe faz! Não há uma hesitação. Todos os dias nos olha com um sorriso. Todos os dias inventa jogos didácticos para a filha, ensina-lhe as letras e os números, faz desenhos, puxa por ela. Desde o início do internamento que a nossa princesa já aprendeu poemas e canções, largou as fraldas à noite, fala Português tão bem como Crioulo sem se enganar em que língua se deve dirigir a quem, come correctamente com os talheres à mesa... No outro dia ouvi-a repreender a filha por não ter agradecido à enfermeira que lhe foi medir a tensão à noite.

É assim que se reconhecem os optimistas! É assim que se percebe que esta mãe não perdeu a esperança e acredita a cada momento que a filha vai conseguir. Como podemos nós não acreditar?

Seja como for, em qualquer circunstância, vai sempre valer a pena ter lutado!

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