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Beijo de Mulata

Beijo de Mulata

13
Mai12

[inspiração para uma despedida] bernardo

beijo de mulata
 «Pareceu-te um dia bom para nos deixares, Bernardo. O sol apetecia e as fotos, que tanto amavas, chamavam-te para a beira da falésia. Como viveste, também foi no precipício que derradeiramete te apeteceram os imensos dons com que brilhaste. (...) Sempre te achei um pequeno génio escondido num corpo grande e numa bondade estonteante. Diferente de tudo, de todos, da Música que eras por dentro, foste diferente ao nos deixares tão sós, tão perto do medo, tão frágeis. Diferente foste ao partir tão cedo, Bernardo. Esperar-te-ei sempre (...) a ocupares com as tuas imensas mãos o piano que nunca soou tão bem, a inundares de vida e ruptura este mundo que tanto necessitava agora de ti. Descansa enfim, meu amigo. Há pianos onde estás, tenho a certeza»
Pedro Abrunhosa
13
Mai12

[iapala] a convalescença...

beijo de mulata

 A beber soro...
(Iapala, Nampula)


(continuando...)

Ao fim do dia o menino jáestava melhor. Ainda não tinha forças para se sentar, mas começou a pedircomida e já tinha conseguido comer um pouco de arroz e feijão. Ia ser uma noitemais tranquila para mim.

Pouco dias depois, omenino estava pronto para ter alta. O avô veio ter comigo: “Irmã, menino estávivo, graças a Deus!” Eu estava, se possível, ainda mais grata. Estava felizporque tinha conseguido impedir que o único filho daquele casal morresse eporque tinha aprendido muita coisa com aquela família. Só agora, por fim,compreendia que o facto de o avô me ter dirigido a palavra e se ter disposto aexpor-me os seus pontos de vista, tinha sido afinal um momento raro eextraordinário. Mais do que um confronto, mais do que um pedido de explicações,mais do que o questionar do tratamento e dos meus métodos, o que ele me tinhavindo fazer tinha sido um voto de confiança. Foi assim que a irmã Lurdesinterpretou a conversa que depois lhe relatei. Ele fizera-o certamente e apenasporque tinha percebido que eu me interessara pelo neto e soubera que eu tinhaido visitar o menino várias vezes no dia anterior, até mesmo durante a noite, einsistido no tratamento. De outro modo teria fugido com a família assim que euvoltasse costas, sem me dar qualquer explicação e o menino teria morrido. 

Nas semanas seguintespassou a ser muito mais fácil tratar as crianças com diarreia grave. Graçasàquele avô, eu tinha percebido alguns vícios de raciocínio enraizados nacultura macua e comecei a conseguir antecipar algumas dificuldades. E depois,havia um outro fator facilitador: é que as mães, quando entravam na enfermariaviam sempre uma ou outra mãe a dar soro aos filhos com um sorriso nos lábios ecertamente falavam umas com as outras, portanto, era muito mais fácilconvencê-las de que o soro não era “choro”, que as crianças choravam porquequeriam mais e que não era o soro que provocava a diarreia. Também nunca maishouve fugas durante a noite…

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