08
Mai12
[iapala] e a terceira lei de murphy
beijo de mulata
(continuando...)
(continua...)
[Terceira lei de Murphy:se duas coisas puderem potencialmente correr mal e você conseguiu evitar ambas,então ocorrerá invariavelmente uma terceira, muito mais complexa... Bem, tenhode ir ver o que se passa.]
– Até já, mamã, que vouali perguntar uma coisa...
Fui ter com o enfermeiroque era o mesmo que tinha estado de serviço no dia anterior.
– Sr. Enfermeiro, o meninodo berço 3 tomou mesmo a medicação ontem?
– Sim, tomou.
– Mas ele ainda não estámelhor... Ele tomou mesmo à sua frente? Não terá cuspido os medicamentos?
– Não. Ele tomou à minhafrente.
– Então se calhar eramelhor dar-lhe mais uma dose de ciprofloxacina...
– Ciprofloxacina não tem…
– Não tem? Como assim, nãotem?
– Não tem. Não temciprofloxacina...
– Mas disse-me que eletomou a medicação!
– Sim, tomou o que havia.O que não havia não tomou.
– Então o que é que eletomou ontem?
– Tomou multivitamina eparacetamol.
– Mas ontem, quandointernei o menino, perguntei-lhe se tinha e disse-me que sim.
– Sim, tem.
– Então? – aquilo não mepodia estar a acontecer, valesse-me Santa Rita de Cássia!
– Mas hoje não tem...
– E ontem?
– Ontem também não.
– Mas porque é que não medisse?!
– Irmã?
– Pronto, deixe estar.Obrigada, já percebi. Então tem tetraciclina?– Tem sim.
– Hoje tem?
– Sim, tem, doutora!
– Vamos então dar aomenino. Não se importa de ir buscar?
– Doutora, tetraciclinanós não damos a criança.
– Está a brincar comigo?
– Não, doutora.Tetraciclina é prejudicial para criança.
– Por favor! Isso sãomariquices da Europa!
– Irmã?
– O máximo que lhe podeacontecer por causa da tetraciclina é ficar com manchas amareladas nos dentes.
– Af’nal? Mancha nos denti?E então?
– E então pergunto eu! Eleestá a morrer. Os pais de certeza que preferem um filho vivo com pequenasmanchas nos dentes do que um filho morto com dentes perfeitos!
Olhava para mim como se eufosse de outro planeta…
– Pois… tetraciclina, é?
– Sim, pode ir buscar, porfavor?
– Ah, mas está no armazém.Só quem tem a chave é o Sr. Agostinho.
– E onde está o Sr.Agostinho?
– Está em casa.
– Pronto, está bem, eudesisto. Eu devo ter cipro em casa!
Senhor, dai-me paciência,que eu não sei onde foi que deixei a minha… e sabedoria para entender estepovo. Ou, como diria o meu melhor amigo: “Senhor, dai-me paciência, que se mederdes força, vou acabar por lhes bater!”
Fui buscar ciprofloxacinaa casa e voltei para a enfermaria. A mãe desta vez entregou-me ela própria aseringa, com um sorriso meio cúmplice. Finalmente já não achava que eu estava afazer mal ao seu menino. O comprimido que lhe dei fê-la ficar muito maisbem-disposta. Sim, afinal havia um comprimido que ajudaria a tratar o menino.Só o soro nunca seria suficiente aos seus olhos.
(continua...)