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Beijo de Mulata

Beijo de Mulata

17
Abr12

[a guiné-bissau] o que poderemos fazer?

beijo de mulata
A hora do polvo espero que para mim ainda esteja longe...

A Helena Ferro de Gouveia, ilustre Domadora de Camaleões da blogosfera tem-nos mantido a par do que se passa na Guiné-Bissau e das dificuldades por que passam os doentes e pessoal técnico no Hospital Simão Mendes, na capital... Se já é arrepiante imaginar o que será aquele hospital num período de funcionamento normal, acho que estive estes dias a tentar afastar da ideia a imagem daquele mesmo hospital sem medicamentos, sem comida, sem água ou electricidade. Hoje, felizmente, o post aliviou-me um pouco a angústia...
Nos pequenos gestos encontramos a diferença que nos leva a continuar a ter esperança na condição humana. Os apelos do Hospital Simão Mendes em Bissau, de que fiz eco aqui, foram sendo respondidos pelos próprios guineenses. Num dos países mais pobres do mundo a generosidade foi esmagadora. Cidadãos comuns, jovens, farmacêuticos e empresários uniram esforços que tornaram possível que a alimentação esteja garantida até sexta-feira e o material de emergência médica até quarta-feira.
Bem hajam. 
17
Abr12

[no hospital de iapala] as meninas das irmãs

beijo de mulata



As "meninas das irmãs"...
(Iapala, Nampula)


(continuando...)



Ao início da tarde eu já estavasozinha a trabalhar, os enfermeiros e serventes tinham desaparecido da urgênciaquando perceberam que eu tinha mesmo intenção de atender as pessoas,deixando-me ali sem apoio nenhum.
A língua era uma barreira, mas de uma maneiraou de outra, com a ajuda de alguns familiares que falavam português e com umalinguagem gestual improvisada, já tinha orientado os mais de trinta doentes deforma mais ou menos satisfatória. Foi quando duas meninas me apareceram na salade urgência para me dizer que a irmã Lurdes me chamava para almoçar. Nessepreciso momento chegou uma outra criança de dois anos trazida pelos jovenspais, que ostentavam a face mais desesperada que vira o dia todo.

– O que se passa com o menino?
– Tem diarreia, irmã.
– Eu não sou irmã, sou só médica –expliquei, sorrindo, pela enésima vez nesse dia.
– Sim, irmã médica.

A criança estava desidratada, masnão era muito grave. Não tinha outros sinais de doença. Ainda estava a seramamentada pela mãe e não tinha vomitado o leite materno.

– Há quanto tempo está com diarreia?– peço às meninas para me traduzirem, já que neste momento não está mesmo maisninguém por ali.

Ao que parece, desde hoje. São deuma aldeia a 20 quilómetros daqui onde na semana passada houve um surto decólera e morreram algumas pessoas, na sua maioria crianças. Pergunto se algumadas pessoas afectadas pela cólera está agora internada no hospital, mas dizem-meque não. Ninguém veio ao hospital! Vieram com esta criança porque estãoassustados. Já viram morrer muita gente com esta doença e estão ali para tentarfugir ao mesmo destino. Mando chamar o enfermeiro. Pergunto se tem umdeterminado antibiótico, se lhe pode colocar um soro na veia, se temos sorooral para lhe dar. Diz-me a tudo que sim. O menino só precisa de fazer o testeda malária, nada mais. A criança fica entregue.

As adolescentes que tinham vindo ter comigo eram duas das sessentameninas que viviam com as irmãs, num lar anexo à casa, para poderem estudar naescola secundária durante o ano lectivo. Muitas eram órfãs, a maioria comfamílias demasiado pobres para conseguirem pagar sequer um décimo daestadia, quase todas com histórias de vida tão terríveis que podiamfazer qualquer adolescente perder a vontade de se levantar da cama todasas manhãs, quanto mais de continuar a estudar. Só iam a casa nas férias evoltavam sempre mais magras, com doenças por tratar e com mais históriastristes para contar... Mas tinham uma força e uma alegria de vivercontagiantes. E se dançavam entusiasticamente todos os dias na missa,imaginem o que era às vezes aquela casa depois da missa... Uma animaçãoindescritível que atraía metade da vizinhança!
 
 

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