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Beijo de Mulata

Beijo de Mulata

05
Mar12

[keep calm] e vamos andando...

beijo de mulata

É engraçado como a geração que tem agora mais de 65 anos não se deixa abater pela crise. Estão preocupados, sinto-os preocupados, mas estão serenos. Eles já passaram por várias crises, já viram o filme do FMI, do desemprego, dos crashs da Bolsa, das ameaças à ordem pública, dos confrontos na rua... sabem que tudo se reconstrói e não há mal que sempre dure.

Podemos não falar em optimismo. Falemos de História.
05
Mar12

[aviso à navegação] ignore este aviso

beijo de mulata



Imagens da Casa do Gaiato...

Ontem comecei a contar uma história. Uma das mais importantes e dolorosas da minha vida... e ao mesmo tempo a mais bonita. Vinha na sequência da história da tia Cármen. Mas depois olhei para o que tinha escrito, entre um post sobre vestuário suburbano e outro sobre musicoterapia e cabrito assado e tive pudor de continuar. Achei que não queria ver essa história derramada aqui nestas páginas, onde tantas histórias e tantos disparates a podem tornar indigna... E cheguei à conclusão de que prefiro guardá-la para mim e para quem faz parte da minha vida. Pelo menos por enquanto. Os meus amigos sabem o que se passou depois e como isso mudou a minha vida. Às pessoas que não me conhecem peço desculpa: a história da Casa do Gaiato afinal não continua... é minha.

Outras histórias virão...
03
Mar12

[anatomias improváveis] search human upgrade, diria a rita maria

beijo de mulata


Para variar, não me lembro de onde foi que gravei esta imagem. As minhas desculpas, mas está genial! 

Aliás, o que se perde em força e agilidade, ganha-se em capacidade de armazenamento, com muito maior eficiência no trabalho, nomeadamente reduzindo o número de pausas para refeições ou necessidades fisiológicas! I rest my case.

Boa noite e continuação de bom fim de semana!
03
Mar12

[o mato em lisboa #3] o lázaro "ressuscitado"

beijo de mulata
Já vos falei do Lázaro, o menino angolano internado há 132 dias no meu hospital por uma aplasia medular grave e irreversível. Ele e a mãe, vindos directamente de uma localidade na periferia de Luanda, aguardam pacientemente por um transplante de medula óssea que lhe renove a fonte do sangue que, por qualquer razão inexplicável e injusta, se lhe secou há meses.

No entretantos, o Lázaro teve de fazer nova análise da medula óssea. No nosso hospital, felizmente, estas análises são feitas sob anestesia geral no bloco operatório. Nenhuma criança deve passar por um procedimento doloroso desta natureza sem uma anestesia. A dor não pode fazer parte da vida das crianças!

E, há umas semanas, de manhãzinha, lá foi o Lázaro para o bloco operatório, deixando a sua mãe pálida de tanta preocupação, agarrada ao seu terço e à bíblia, sentada do lado de fora, a vê-lo desaparecer numa sala tenebrosa, onde todos andavam de face coberta como os bandidos, vestidos de um verde horrível, e sem sapatos. Como era possível que alguém se atrevesse a trabalhar num hospital de crianças vestido com aquele verde, a cor da decadência e da inveja? Como era possível que lhe tivessem recusado a entrada na sala para estar junto do filho apenas porque se negara a vestir aquela vestimenta que só podia trazer má sorte e maus-olhados?

O procedimento foi rápido e sem complicações. Em menos de meia hora o Lázaro estava novamente no quarto, acompanhado pela sua mãe. Dormia sob o efeito dos tranquilizantes, mas teve um despertar turbulento: as crianças por vezes têm uma reacção paradoxal aos tranquilizantes e, em vez de ficarem calmas, ficam agitadas e irritáveis!

Minutos depois foram dar com eles no quarto, no meio do maior estardalhaço. O Lázaro, ainda meio a dormir, gritava que o estavam a matar, debatia-se, quase a atirar-se da cama, e chamava os nomes mais horrendos à mãe, enquanto esta o segurava com uma mão, para que não caísse da cama, e com a outra brandia a bíblia sobre a cabeça do filho, tentando expulsar-lhe os demónios do corpo: "Sai, Satanás! Sai!"

Felizmente a reacção também passou rápido. Acabou por acordar completamente e ficou meio envergonhado quando se deu conta do que tinha estado a dizer: "Desculpe, Doutora, foi aquele medicamento que me deram que me deixou louco!" E depois, adivinhando que a mãe não tinha percebido nada do que se passara com ele, virou-se para ela e disse-lhe: "Obrigado, mamãe, demónio já saiu!"

Vai longe este menino! Queira Deus que o dador venha a tempo...

(continua...)
02
Mar12

[momentos selvagens] wilde thoughts

beijo de mulata
A propósito dos muitos que me chamam de santa por essa blogosfera acima*, uma das citações com que abri as hostilidades aqui no mato foi a incrivelmente verdadeira frase de Oscar Wilde:

"Todos os santos têm um passado! Só os pecadores têm futuro!"

* Ou "por essa blogosfera adentro", nunca me consigo decidir, mas tivemos esta conversa... E as aliterações arrepiam-me demasiado para conseguir escrever "por essa blogosfera afora".
02
Mar12

[bodas beijo-de-mulata] mais um ano!

beijo de mulata

A flor beijo-de-mulata.

Por entre Brufenes e Ben-u-rons, dores de cabeça e no resto do corpo (descansem que não é malária!), mais os medicamentos dos meus sobrinhos, que estão iguais a mim (ou eu é que estou igual a eles, melhor dizendo), quase me esquecia de que hoje faz dois anos que me instalei, de armas e bagagens, aqui no mato, para tentar sanar um pouco as saudades de África!

Chamei beijo-de-mulata a este longe, em honra à história do Levítico, que gosto de recordar. Obrigada a todos os que não me deixam aqui sozinha, em especial aos que vêm também matar saudades e partilhar histórias comigo!

(um) beijo de mulata


Um Chá de Beijo-de-Mulata

"Há alguns anos, ainda quase recém-licenciada emMedicina, quando estava em missão de voluntariado em Moçambique, vieram trazer-meum adolescente de 15 anos. Estávamos em Naheche, uma aldeia perdida no meio dasavana, onde nos tínhamos deslocado para a campanha de vacinação. O jovemimpressionava pelos olhos tristes de quem não dormia há muitos dias e pela faceemagrecida, profundamente escavada pela ausência do apetite próprio de quemestá a crescer. Vinha acompanhado por uma senhora idosa e afável, de olhosbaços, que se movia com a desenvoltura dos que há muitos anos se habituaram àescuridão permanente da cegueira. Alguma coisa de muito grave se passava comele, dizia-me aquela avó, num sorriso tão triste que quase parecia um pranto.Estendeu a mão para a minha e guiou-me para a face do neto, percorrendo comigocada relevo, detendo-se, certeira, em cada uma das suas inquietações…

– Esta criança não está bem – sussurrava-me –, está aficar sem corpo e a pele já sobra em toda a parte… O problema está aqui.

Os gânglios do pescoço e por cima da clavícula estavammuito aumentados, duros, aderentes às estruturas vizinhas… assustadoramentemalignos! Era possivelmente um cancro do sistema linfático, um linfoma daquelesque se for tratado a tempo não tem mau prognóstico mas que, se não se tratar, odesfecho é fatal em pouco tempo… Um linfoma de Hodgkin, se quiserem muitosaber-lhe o nome. Fiquei muito preocupada. A imagem do menino correu pelosmeios que tínhamos à disposição e uma onda de solidariedade na cidade natal deum dos padres daquela missão conseguiu angariar o dinheiro suficiente para oenviar para Maputo, a milhares de quilómetros dali, para ser tratado.

Duas semanas depois, ainda a tentar organizar a suatransferência para o Hospital Central de Maputo, observei-o novamente e noteique os gânglios se tinham praticamente reduzido a metade. Nos entretantos afamília tinha obviamente ido procurar um médico tradicional, que lhe dera abeber chá de beijo-de-mulata. Evidentemente duvidei do curandeiro. Duvidei demim própria. Não confiei na prova que os meus olhos podiam testemunhar. Acrediteisó no prognóstico que vinha nos meus livros e, com o acordo da família, transferio menino para o Maputo.

Anos depois, inteiramente por acaso, vim a descobrir quedesta flor selvagem, que cresce quase como erva daninha por todo o país, seextrai a vincristina, um agente de quimioterapia activo contra o linfoma...

A lição não veio a tempo de intervir em seu favor. Dequalquer modo hoje voltaria a fazer tudo da mesma forma. O chá debeijo-de-mulata, isoladamente, nunca o poderia ter curado. São precisos váriosagentes de quimioterapia, num cocktailinjectado veias adentro para se conseguir modificar o curso terrível do linfomade Hodgkin. Mas foi nesse momento que percebi o quanto há ainda a aprender comÁfrica."

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