20
Fev12
[casa do gaiato] a tia cármen...
beijo de mulata
As aulas de pintura e a tia Cármen...
(Casa do Gaiato, Maputo)
(continuando...)
E, entre o trabalho no centro de saúde e as noites com os meninos, havia ojantar com o senhor padre, os outros voluntários da casa e um ou outroconvidado. Todos eles eram pessoas fascinantes e que me acolheram desde aprimeira hora.
Acabei por fazer uma amizade especial com a tia Cármen, uma entusiásticavoluntária espanhola, antiga empresária e viúva de um português, que há dois anos deixava os filhos e os netos durante o ano lectivo para ir para a Casado Gaiato dar aulas de pintura e expressão plástica.
Na minha perspectiva, a tia Cármen tinha vindo para ser a avó da casa, afigura de referência que os meninos, sendo órfãos, não tinham. Uma avó autêntica,com uma insuficiência cardíaca ligeira, uma doença pulmonar obstrutiva crónicaque me deu trabalho a controlar e, sobretudo, com uma enorme paixão pelos maispequenos e com uma missão autoproclamada, que era deixá-los ser meninos eajudá-los a brincar.
Afirmava com muita graça que havia dois tipos devoluntários em África: os que se dedicavam ao ensino, à saúde e aodesenvolvimento económico-social e os que se dedicavam a construirinfraestruturas. Mas ela não tinha vindo para uma coisa nem para outra. Tinhavindo para incentivar os seus meninos a sonhar e apoiar os seus sonhos, porqueacreditava piamente que só a expressão dos sentimentos fazia crescer. Sobretudopara aqueles meninos tão pequenos e que já tinham sofrido tanto. “Porque semsonhos não há desenvolvimento e sem entusiasmo não há trabalho!”, terminava.
(continua...)