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Beijo de Mulata

Beijo de Mulata

18
Fev12

[onde dormem as crianças] uma janela para o quarto...

beijo de mulata

Não, meus queridos amigos, eu sou pediatra mas não venho aqui falar de perturbações do sono na criança...

Quer dizer, se quiserem muito também falo, pronto, mas o que eu tinha planeado para hoje era mostrar-vos um trabalho absolutamente fantástico do fotógrafo James Mollison, que nos entreabre, para um pequeno vislumbre, o dia-a-dia de várias crianças no mundo, através das imagens dos seus quartos... Mostro-vos alguns exemplos para terem mais vontade de viajar até aqui.




18
Fev12

[casa do gaiato] o portão do centro de saúde

beijo de mulata

(continuando...)

Mas voltando ao centro de saúde onde passava os meus dias: não resisto afalar de um outro trabalhador muito importante. Ao portão do recinto ondeficava o centro de saúde estava sempre o segurança, o tio Vasco*. E tenho dereconhecer que a irmã Quitéria, que o tinha colocado naquele posto, só podiaser uma pessoa com uma criatividade e um poder de observação notáveis. Possopedir-vos para fazerem um exercício comigo? Imaginem que têm à vossa disposiçãotodas as pessoas da aldeia, pois não há praticamente emprego, mas não podemexigir qualificações, uma vez que poucos têm sequer a escolaridade mínima...Numa zona já desminada, sem grande violência no dia-a-dia, para além dasocasionais rixas de homens bem avinhados, qual o perfil que escolheriam para umsegurança de um centro de saúde? Controlador? Intimidante, com capacidade paraproteger os trabalhadores e os equipamentos? Correcto e incorruptível?

Bem, eu digo, a sua principal característica da personalidade era ser umcoscuvilheiro de primeira apanha, daqueles mesmo do tiponão-há-nada-que-eu-não-saiba-ou-não-venha-a-saber! Aquele homem era umautêntico agente infiltrado! Perdoem-me o preconceito. Se calhar a potencialutilidade desta perturbação da personalidade foi imediatamente evocada portodos os estimados leitores, mas a mim não me tinha passado pela cabeça. E jáagora perdoem-me também o abuso de linguagem, que este blogue pretende-se assimmais para o científico do que para o comezinho e ser "cusco" não é,evidentemente, perturbação mental nenhuma, ou pelo menos é aquela história desempre, não vem classificada no DSM, a bíblia das perturbações mentais...

Mas, como eu ia dizendo, o tio Vasco era absolutamente extraordinário! Nunca mais voltei a teralguém que me desse parte dos doentes que eu tinha visto depois de os termandado para casa ou de os ter enviado para outro hospital. Era melhor que umaequipa domiciliária de follow-up: sabia tudo sobre os doentes que tinhampassado por ali – como estavam, como se estavam a dar com a medicação, se osmeninos já tinham voltado à escola ou se os adultos já tinham voltado atrabalhar. Foi ele quem um dia deu o alerta de que umasenhora viúva que tinha estado no centro de saúde no dia anterior com umagastroenterite aguda não tinha passado por ali. Pouco tempo depois foram a sua casa, onde a encontraramcaída e muito desidratada. Como passava o dia ao portão, toda a gente tinhaobrigatoriamente de falar com ele. Sempre que ficava preocupada com um doente,bastava lembrar-me do nome dele e perguntar por ele ao tio Vasco:

Tio Vasco, que é feito da D. Eugénia?
Começou a tomar o antibiótico há dois dias eesta tarde saiu para a machamba. Já estava melhor.
E como está o professor Sebastião?
Estava com malária de três cruzes e ainda nãoconsegue sair de casa, mas a filha foi levar-lhe comida e diz que hoje já tinhaapetite de comer...


(continua...)


* Nome fictício. Não é por nada, é que não me lembro mesmo do nome verdadeiro...

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