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Beijo de Mulata

Beijo de Mulata

23
Dez11

[as melhores do serviço de urgência] ainda não teve alta...

beijo de mulata
Serviço de Urgência. Um bebé de doze meses, lindo e bem disposto, com uma infecção respiratória ligeira.

Eu - O seu menino tem sido saudável?
Mãe - Sim, Doutora, só está a ser seguido na consulta de Ortopedia porque nasceu com os pés para dentro.
Eu - Nasceu com pé boto?
Mãe - Sim, exactamente!
Eu - Ah, mas já está muito bem! Já deve ter tido alta da consulta, ou não?
Mãe - Ele está bem e até já anda sem apoio, mas ainda tem ali uma coisita e o Doutor não lhe quis dar alta do pé esquerdo...
21
Dez11

[os hipopótamos da zambézia] e agora também crocodilos!

beijo de mulata




Imagens do Rio Chire [daqui]
(Zambézia, Moçambique)

Ainda a propósito do régulo defunto que reencarnou em hipopótamo na Zambézia, encontrei esta história fantástica num comentário do facebook, onde mais uma vez se confirma que a Zambézia só pode ser a província mais africana de Moçambique:

O rio Chire, em Pinda, na Zambézia tem ainda uma outra história deliciosa de uma velha que comandava um batalhão de crocodilos, tipo chicundas*, que raptavam e escravizavam os homens para trabalhar na machamba da velha. Os homens navegavam o rio no dorso dos crocodilos e eram por eles guardados. Terá sido contada por um "desaparecido" que conseguiu fugir da escravidão e voltar Pinda quando a guerra acabou. Essa história é dos anos da "última" guerra. O sistema Zambeze e as suas infinitas estórias!
* Chicunda - escravo soldado. Os chicundas acabaram por se tornar um grupo étnico à parte, com as sua própria língua, trajes e tradições, e especializaram-se, como homens livres, como carregadores e remadores nas viagens no Zambeze. Definição do Glossário de Moçambicanismos de V. L. Lindegaard.
20
Dez11

[welcome to mozambique] moçambique é fotogénico!

beijo de mulata


Esta é uma foto da exposição de um colega meu (Martino Gliozzi) no King's College. Foi tirada na praia do Wimbe, em Pemba e deu-lhe o título de "Os Capitães da Areia". 

Eu e o Martino trabalhávamos juntos há meses quando nos apercebemos pela primeira vez da paixão romântica comum por Moçambique e que até já tínhamos estado nos mesmos locais. Vão lá ver, meus amigos! Vão lá ver que vale a pena.
20
Dez11

[improbabilidades] sinceramente, eu até tenho bom feitio, mas...

beijo de mulata
Na semana passada uma senhora pediu-me para lhe passar uma nova receita, que a anterior não tinha sido aceite na farmácia. O médico tinha escrito "Solução oral manipulada" mas na farmácia disseram-lhe que, para ser comparticipada, a receita tinha de estar no masculino: "Manipulado". Pronto. Era só Isto. Tenham uma boa noite.
18
Dez11

[caderneta de cromos] as peta zetas e a bronquiolite aguda

beijo de mulata
E porque tivemos reclamações de pessoas que afirmavam desconhecer o que era afinal isso de Peta Zetas (inclusivamente de uma médica pediatra!), a bem da cultura dos cromos-anos-eighties dos leitores deste blogue e para alargar a cultura pediátrica de pais e profissionais de saúde, que passam a ter um novo recurso para descrever os sons que fazem os bebés com bronquiolite ao respirar: aqui têm uma verdadeira ode às Peta Zetas e o som das mesmas! Por Nuno Markl. Vejam lá se os pais do post ali de baixo não são geniais!
17
Dez11

[caderneta de cromos] as melhores do serviço de urgência

beijo de mulata
Serviço de Urgência em plena estação de Outono-Inverno, com o usual bazar de quinquilharias respiratórias. Um bebé com seis semanas de vida, pequeno o suficiente para se considerar um quase recém-nascido, mas maduro o suficiente para quase jurar que não ia ter complicações. Tinha uma infecção respiratória que me deixou preocupada e pedi aos pais para me telefonarem horas depois para me informarem da evolução do menino.

Nessa tarde os pais telefonam, preocupados, mas optimistas, bem dispostos e ambos perdidamente apaixonados pelo milagre que lhes tinha acontecido: o menino continuava a conseguir mamar, mas não tão bem como antes e às vezes fazia um barulho diferente a respirar.

Eu - É um barulho assim como se fosse um assobio?
Mãe - Não... não o que eu chamaria de assobio...
Eu - Então? É mais assim um fervilhar?
Mãe - Também não é bem um fervilhar, não sei se isto é normal, Doutora.
Eu - Mas é muito diferente do barulho que fazia há pouco?
Mãe - Mais ou menos, o timbre é parecido mas mais agudo, o ritmo é que é diferente...
Eu - É mais lento, como se fosse um ronronar? Ou mais rápido?
Mãe - Não é bem isso, é mais agudo...
Pai [com voz de quem está ali mesmo ao lado] - É assim como se tivesse Peta Zetas nos pulmões!
Mãe [voz triunfante] - É isso! É como se tivesse Peta Zetas!
Eu [com um sorriso] - Ah, pronto, já percebi! Tem, uma bronquiolite, era o que eu esperava...

(Peta Zetas... Muito bom! Os pais de hoje são tão filhos dos anos 80!)
16
Dez11

[improbabilidades] os hipopótamos da zambézia

beijo de mulata

Um hipopótamo mansinho...

A propósito da notícia da improvável reencarnação do defunto régulo de Morrumbala em hipopótamo [de que já vos falei], o post genial de António Cabrita no Raposas a Sul fez-me lembrar a mulher que certa vez internámos no Hospital do Gilé com uma doença inflamatória pélvica muito grave. O marido explicava-nos que ela tinha ficado doente quando tinha dado à luz um peixe-gato, depois de uma gravidez complicadíssima, cheia de hemorragias e de outros sinais de maldição. "Um peixe-gato? Como assim um peixe-gato?" perguntávamos. Mas o marido era irredutível, ele tinha visto com os seus próprios olhos o peixe ainda vivo, mas agónico, e os bigodes que comprovavam a sua natureza felina. O curandeiro tinha-lhes dado uma explicação complexa para o sucedido, mas fora incapaz de a tratar, por isso acabaram por recorrer ao hospital e pedir-nos ajuda... No Raposas a Sul falou-se de ago parecido...
Se bem me lembro, foi em 2007 que a STV fez uma reportagem sobre a mulher que supostamente teria dado à luz um bule e três chávenas de chá. Durante essa semana, nas aulas da universidade, tive que debater as dúvidas dos alunos sobre se tal seria possível, porque na verdade a metade deles queria crer nessa possibilidade.


A mim o que me espantava era a falta de ambição da parturiente. Se se pode ser mãe de um serviço inteiro da Vista Alegre, porquê ficar-se por um bule e três chávenas? E parecia-me até um óptimo princípio para uma economia no casamento, as nubentes primeiro pariam o recheio da casa, mobílias, candelabros, carpetes, panelas e tachos, depois a própria casa, e só depois casariam.

Há coisas que não são do domínio das antinomias, de ser-se racionalista ou crédulo, mas simplesmente da ordem da sensatez e do conhecimento das coisas naturais: o adn humano e o “adn” da cerâmica não comportam qualquer tipo de coincidência ou de transitividade.

Não obstante, suponhamos que sim – também para os gregos do tempo do Aristóteles as mulheres podiam parir qualquer coisa, ostras ou ouriços, pois nunca se sabia que partidas podiam os deuses pregar – que uma mulher podia parir um bule. Onde foi registado? Como se chama a criatura? E como é que a STV abandonou um caso destes, não acompanhando a educação e infância do bule, vendendo para as televisões de fora um exclusivo desta monta? Que falta de inteligência comercial.

Agora há semanas que não ouço falar senão do régulo encarnado no hipopótamo. E que ouço quadros técnicos deste país porem as mãos no fogo em como é verdade… pois se o hipopótamo mudou de regime alimentar e agora come o picapau que fazia as delícias do régulo e encharca-se com o bom vinhito, pelo qual até o Santo Agostinho se pelava.

E eis-me na mesma encruzilhada: se comento, sou um racionalista desatado, se não comento sinto-me a observar os efeitos perniciosos uma alucinação colectiva.

Acontece, por outro lado, que literalmente acredito em tudo. Eu acredito piamente que o facto do régulo ter encarnado no hipopótamo constitui uma demonstração de vanidade total dos poderes sobrenaturais do régulo. Na cadeia evolutiva dos seres, para citar Pascal, estando o homem encravado entre a besta e o anjo (para dar o nome de uma figura ao espírito), qual a vantagem de voltar em hipopótamo?

É um retrocesso. Pode até ser verdade mas é absolutamente improdutivo. Vejam lá o extremo poder que alguém exibe voltando em hipopótamo! Não seria preferível possuir uma criança e voltar como mestre-escola, o maior da região e arredores? Voltar em hipopótamo parece-me o mais disparatado dispêndio de energias. Ainda por cima pervertendo a natureza sã do hipopótamo, tornando-o alcoólico. E o pior é que vejo a mesma absoluta inépcia comercial por parte da TVM. Como é que se tem um assunto desta natureza entre mãos e não se consegue fazer uma série de 18 episódios com ele, vendendo-o em todos os canais internacionais? Será que, na verdade, eles próprios não acreditam nas suas tradições? Há, em tanta improdutividade, qualquer coisa que me escapa.

Repito, eu acredito que o régulo tenha voltado em hipopótamo. Porém não vejo a utilidade do fenómeno. Nem para a comunidade, nem para o hipopótamo. Ou antes, para este até discirno um sinal positivo: magnificado em vinho, na próxima encarnação ressuscitará em régulo.

O que eu consegui enxergar, na reportagem, foi o aproveitamento político. O responsável provincial que lá foi prestar homenagem ao hipopótamo-régulo, confirmou a comunidade na identidade das suas tradições e deixou-a contentinha e refém do seu secular obscurantismo. E, aliviem-se as almas beatas, o dinheirinho gasto em vinho não foi desviado em sandálias para as crianças.

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