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Beijo de Mulata

Beijo de Mulata

30
Dez11

[histórias de dentro de casa] pequenos freaks...

beijo de mulata
Começo a perceber que eles andam aí! Pequenos inconformistas, meninos que na hora de dormir elegem os mais recônditos objectos, duros e cheios de arestas desconfortáveis, para depois os colocar no papel de objecto de transição fofinho...

Enfim, depois de Mr. B., que dormia aninhado com uma cápsula de Nespresso na mãozinha, depois do meu outro menino, que dormia abraçado a um salazar, ontem na consulta vi um menino que dorme com o frasco das vitaminas... Ursinhos? Fraldinhas? Isso é para meninos, meus amigos! Avizinha-se uma geração fantástica! Ou bem... como direi? Uma geração freak, inconformista, criativa e independente...
28
Dez11

[mr. b. está doente...] gripe, a melhor definição

beijo de mulata
Mr. B., o meu sobrinho de três anos, está doente... Os olhinhos brilhantes, o ar triste, a falta de ânimo, a vontade de parte a parte de estar ao colo e de dar colinho. Está assim mesmo murchinho, não come como comia, não brinca como brincava... Não se queixa de nada, só geme quando tem febre. Há pouco perguntava-lhe:

- Onde é que lhe dói, meu amor?
- Nada, só dói a febre...

[Haverá melhor definição para gripe, meus amigos? Sim, eu sei. Neste momento o meu pequeno neurónio não é mais que uma mão cheia de baba e outra de coisa nenhuma... coisa boa...]
25
Dez11

[histórias de dentro de casa] uma ceia para o menino jesus

beijo de mulata


El Noi de la Mare
(Música tradicional de Natal da Catalunha)

Esta música ficou recentemente conhecida por integrar a banda sonora do filme Vicky Cristina Barcelona, de Woody Allen. No poema original os intérpretes perguntam-se o que poderão oferecer ao filho da Virgem. O que poderia agradar ao Deus menino? Passas? Figos? Mel? Requeijão?
Para a versão original, o link aqui.

Na noite de Natal, à uma e meia da manhã (que isto, meus amigos, um dia não são dias!), depois da missa do galo fomos todos para casa para a ceia... O dia já ia longo, mas Mr. B., o meu sobrinho de três anos, tinha fome novamente e queria esperar pelo menino Jesus, que já tinha nascido e sabia que vinha nessa noite para lhe deixar presentes na chaminé...

Enquanto a mamã dava de mamar ao mano e ele comia mais uma bolacha de gengibre, lá o conseguimos convencer de que o menino Jesus só viria muito à noite e quando já todos estivessem de dentes lavados, pijama vestido e a dormir. Mas se calhar podíamos deixar-lhe alguma coisa para ele comer no caso de ter fome, até porque ele ia trabalhar muito, coitadinho... "Boa!" Então o que lhe podíamos deixar? Fatias douradas? Uma fatia de Bolo Rei? Sonhos? "Não, não, para o menino Jesus não!"

- Então, Mr. B.? O que podemos deixar ao menino Jesus? Mousse de chocolate? Lampreia de ovos? Os biscoitos da avó?
- Não, isso não! Para o Jesus não!
- Mas porquê, querido?
- Porque ele é bebé! Ainda não tem dentes...
- [Toma lá que já almoçaste!] Ah, claro [que cabeça a minha, valha-me Nossa Senhora do Leite!], então, o que lhe deixamos? Leitinho?
- Siiiim!
- Óptimo, vamos buscar então leitinho para o menino Jesus!

Fui atrás dele, mas em vez de se dirigir para a cozinha, foi para o quarto da mãe. E eu ainda envergonhada... Como era possível que eu não me tivesse lembrado de que o menino Jesus era mesmo um bebé? Mr. B. ajoelhara-se e procurava algo dentro de uma mala...

- De que está à procura, Mr. B.?
- Da bomba do leite da mamã...

A bomba de tirar leite! Ai o orgulho de sua titi... Com apenas três anos Mr. B. já sabe que o leite materno é o melhor alimento para os bebés!
24
Dez11

[se belém fosse em ocua] um conto de natal...

beijo de mulata


O Cajueiro de Natal. Novamente. Porque há muito a agradecer. E porque a vida é muito mais bonita do que pensamos.

Em Dezembro, em Ocua, era Natal e entardecia sem que por perto qualquer sinal nos pudesse dar testemunho da data. Tempo de fome, de seca e calor asfixiante, em que a chuva tardava como uma noiva cruel, abandonando as sementeiras e o povo no altar, no desespero de uma boda por mil vezes não consumada, de uma promessa de frescura mil vezes adiada... Era Natal e o calor era irrespirável. Era Natal e ao entardecer não havia luzes nas ruas, ninguém a correr a comprar os presentes de última hora, nenhuma árvore ornamentada. Era Natal e, inquietantemente, faltava o cenário, faltava o tom que o pano de fundo imprime no estado de espírito... mas aparentemente só nós o sentíamos. Tudo o resto, alheio à inquietude que nos vivia por dentro, decorria na rotineira placidez de África.

Se Jesus menino tivesse nascido em Dezembro em Moçambique, uma capulana teria bastado para o aquecer. E se Belém fosse em Ocua, em vez da vaquinha e do burrinho no estábulo, talvez uma qualquer ave do mato tivesse batido as asas num leque improvisado, oferecendo um sopro refrescante ao seu corpinho de menino... Que nestes casos a poesia da religião e o seu lado de Alice no País das Maravilhas, de fábula, magia e metáfora têm sempre forçosamente de assomar.

Mas foi precisamente aqui que a Natureza nos declarou, estridentemente, o quanto tínhamos sido injustos. Que tudo quanto a Europa faz de uma forma sistemática, asséptica e geométrica, África improvisa e encanta. E foi quando, em Ocua, em frente à casa da Missão, o cajueiro se encheu de centenas de pirilampos, numa árvore de Natal natural erguida na noite, com mil pequenas luzes piscando.

A missão de Ocua fica na província de Cabo Delgado, no Norte de Moçambique. A história é verídica. Foi a Irmã Mila quem ma contou.
23
Dez11

[vozes brancas* #58] a carta ao pai natal...

beijo de mulata
Pedro, um menino de 5 anos, sempre bem disposto apesar de uma doença crónica grave que de vez em quando o faz ficar internado com dificuldade em mexer-se, sempre sorridente apesar de por vezes brincar ser impossível e de as dores o acordarem durante a noite. Uma carinha franzina e linda, muito embora as olheiras e a palidez de quem tem sempre o corpo em alerta. Um olhar sempre a direito, maroto até à quinta casa! Há meninos assim. Há meninos que têm a perfeita noção de que não se podem desmanchar nunca. Há meninos pequenos que já aprenderam a ser o suporte emocional dos pais e que não se podem demitir do seu papel de "animadores". Invertem os papéis para fazer sorrir os pais, destroçados pela doença que lhes levou o sonho de um filho saudável.

Há uma semana, no serviço de urgência, durante mais uma crise, a minha colega C. perguntou-lhe se já tinha escrito "a carta" ao Pai Natal. Que sim, que já tinha escrito. E o que lhe tinha pedido, podia saber-se? Pois que tinha pedido um puma de peluche. Grande. Mas se o Pai Natal não pudesse, então também podia ser, sei lá, um conjunto de Gormitis. Ficava contente na mesma, garantia.

Ontem na consulta a C. voltou a perguntar-lhe o que tinha pedido ao Pai Natal.
- Ah, eu ontem escrevi-lhe uma carta e pedi-lhe outra coisa.

A mãe muito espantada, com cara de "agora-que-eu-já-tinha-tudo-tratado-é-que-te-lembras-de-mudar-o-pedido-valha-me-Deus-e-eu-com-tanto-que-fazer":
- Então o que é que tu pediste ontem, filho?

E o Pedro, com um brilho mais do que maroto no olhar:
- Não te digo, é surpresa! Quando o Pai Natal trouxer, logo vês!

Para todos um Natal muito feliz, cheio de saúde e confiança!

* Timbre da voz de uma criança antes da puberdade.

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