22
Nov11
[à procura da inês] não, não vamos desistir!
beijo de mulata
(...continuando a história que começou aqui...)
Voltámos para a casa da Inês mesmo a tempo de encontrar o pai, que chegava de um biscate nocturno. Desta vez ele não associou a minha presença a nada e pude perguntar-lhe tranquilamente onde estava a menina. Respondeu-me que estava doente e internada. Só então caiu em si e me perguntou quem eu era e ao que vinha. A expressão do rosto mudou completamente. O semblante crispou-se e não voltou a abrir a boca, por mais que insistíssemos. Começou a chorar por fim.
– Papá, eu sou médica, estou com as Irmãs de São João Batista em Muahivire. Eu posso ajudar a sua filha. Pense nisso. Pense melhor. Não tem nada a perder. Eu estou lá até ao final da semana. Se for preciso até mando vir medicamentos de Portugal para ela. Mas leve-ma lá! Ela é tão boa aluna, tão boa menina. Tem uma vida inteira à sua frente. Ela merece, papá!
O choro transformou-se num choro convulsivo e alto… A mãe, ouvindo-o, abriu a porta ainda em lágrimas e puxou-o para dentro. Ficámos mais algum tempo a bater à porta e a ouvi-los soluçar dentro de casa, sem uma palavra. Provavelmente num abraço sofrido igual ao meu e do Vicente nessa tarde… Até que desistimos com um: “Esperamos por vocês. Todas as doenças têm tratamento. Por favor oiçam-nos, nós queremos mesmo ajudar! Boa noite.”
Ficámos novamente a olhar um para o outro. Ambos com uma única ideia na mente: se alguém nos tivesse dito que podia salvar o nosso menino, qualquer de nós teria ido com ele até ao fim do mundo, se fosse preciso. Como é que aqueles pais desistiam assim de uma filha que adoravam e sempre tinha sido saudável? Não, não podia ser verdade… Eles não podiam ter desistido. E nós também não íamos desistir. O pai tinha dito que ela estava internada. Isso devia ser verdade… Mas onde estaria?
– Tia P., se é verdade que a menina está internada, só pode estar no Anchilo. É lá que todas as pessoas que trabalham na Saúde vão quando estão doentes. É o melhor hospital daqui.
– Onde é o Anchilo? É perto?
– Não, é muito longe…
– Mas sabes o caminho?
– Não, tia P., mas todo o mundo sabe…
– Vou lá amanhã de manhazinha. Anda, agora vou levar-te a casa, que deves estar exausto. Olha, e esta capulana, queres levá-la para a tua namorada?
– Não tenho namorada, tia P., primeiro tenho de ter dinheiro para pedir em casamento!
– Pronto, pronto… Mas fica com ela na mesma. E diz-me o que precisas.
– Nada, tia P., muito obrigado…
– Está bem, Vicente. Mas havemos de falar mais vezes… Ficas bem?
– Sim, tia P., obrigado.
– Vem ter comigo lá a casa nos próximos dias. Quero muito ver-te outra vez…
– Sim, tia P...
(continua...)
Voltámos para a casa da Inês mesmo a tempo de encontrar o pai, que chegava de um biscate nocturno. Desta vez ele não associou a minha presença a nada e pude perguntar-lhe tranquilamente onde estava a menina. Respondeu-me que estava doente e internada. Só então caiu em si e me perguntou quem eu era e ao que vinha. A expressão do rosto mudou completamente. O semblante crispou-se e não voltou a abrir a boca, por mais que insistíssemos. Começou a chorar por fim.
– Papá, eu sou médica, estou com as Irmãs de São João Batista em Muahivire. Eu posso ajudar a sua filha. Pense nisso. Pense melhor. Não tem nada a perder. Eu estou lá até ao final da semana. Se for preciso até mando vir medicamentos de Portugal para ela. Mas leve-ma lá! Ela é tão boa aluna, tão boa menina. Tem uma vida inteira à sua frente. Ela merece, papá!
O choro transformou-se num choro convulsivo e alto… A mãe, ouvindo-o, abriu a porta ainda em lágrimas e puxou-o para dentro. Ficámos mais algum tempo a bater à porta e a ouvi-los soluçar dentro de casa, sem uma palavra. Provavelmente num abraço sofrido igual ao meu e do Vicente nessa tarde… Até que desistimos com um: “Esperamos por vocês. Todas as doenças têm tratamento. Por favor oiçam-nos, nós queremos mesmo ajudar! Boa noite.”
Ficámos novamente a olhar um para o outro. Ambos com uma única ideia na mente: se alguém nos tivesse dito que podia salvar o nosso menino, qualquer de nós teria ido com ele até ao fim do mundo, se fosse preciso. Como é que aqueles pais desistiam assim de uma filha que adoravam e sempre tinha sido saudável? Não, não podia ser verdade… Eles não podiam ter desistido. E nós também não íamos desistir. O pai tinha dito que ela estava internada. Isso devia ser verdade… Mas onde estaria?
– Tia P., se é verdade que a menina está internada, só pode estar no Anchilo. É lá que todas as pessoas que trabalham na Saúde vão quando estão doentes. É o melhor hospital daqui.
– Onde é o Anchilo? É perto?
– Não, é muito longe…
– Mas sabes o caminho?
– Não, tia P., mas todo o mundo sabe…
– Vou lá amanhã de manhazinha. Anda, agora vou levar-te a casa, que deves estar exausto. Olha, e esta capulana, queres levá-la para a tua namorada?
– Não tenho namorada, tia P., primeiro tenho de ter dinheiro para pedir em casamento!
– Pronto, pronto… Mas fica com ela na mesma. E diz-me o que precisas.
– Nada, tia P., muito obrigado…
– Está bem, Vicente. Mas havemos de falar mais vezes… Ficas bem?
– Sim, tia P., obrigado.
– Vem ter comigo lá a casa nos próximos dias. Quero muito ver-te outra vez…
– Sim, tia P...
(continua...)