09
Out11
[de iapala para nampula] improvável companhia...
beijo de mulata
Mulher macua de cabeça coberta...
(Foto encontrada algures na net... desculpem, mas mais uma vez não encontrei o link...)
(continuando)
Mas apesar dos receios, já estava convencida. Aliás, a minha história de vida está cheia de situações destas. Evito até à última as situações que me causam angústia e só in extremis me decido que se o touro tem de ser agarrado pelos cornos, ah!, então que seja uma pega a valer e o senhor bovino que se prepare, que vai passar um mau bocado! E pronto, lá vou eu, de coração reconstruído com duas tripas, de corpo feito, ainda que possa estar com a alma em frangalhos, para defrontar os meus temores mais inveterados.
- Não te preocupes, vou mandar chamar o Sr. Rafael, o nosso mecânico, para te acompanhar na viagem, se precisares de alguma coisa, de falar com alguém em macua ou se houver alguma avaria ele ajuda-te. Só não quero que vá a conduzir porque não tem carta e também porque bebe demais.
- Óptimo, obrigada, Irmã.
- Assim vais já hoje depois de almoço, sempre ganhas um dia porque tens de te preparar para fazer o rastreio de saúde aos meninos da escolinha e tenho de te pedir para ires às compras para a missão.
- Hoje?! Bem, está bem… – o nervoso miudinho a crescer novamente. Mas já estava mentalizada de que tinha de pegar o toiro pelos cornos.
Depois de almoço, já na altura do café, duas horas depois de termos mandado chamar o Sr. Rafael, a mulher dele bateu-nos à porta. Fui abrir. A senhora vinha com a cabeça coberta, sinal inequívoco de preocupação… [Oh, diabo, só me faltava mais esta…] Apresentou-se e pediu delicadamente para falar com a Irmã Lurdes. Não a convidei para entrar. Na cultura macua, entrar na casa de alguém só faz sentido se se for da família e um convite até pode ser mal interpretado.
- Irmã, está aqui a mulher do Sr. Rafael…
- Ai, valha-me Deus! – Ouvi-a suspirar, e depois acrescentou qualquer coisa entre dentes que me pareceu ser um “mas já estava bêbado àquela hora?”
Ouvi-as bichanar qualquer coisa à porta e, por fim, a frase da Irmã Lurdes:
- Deixe-o vir e logo vemos se está em condições de aguentar a viagem. Mas em princípio vai. Para ele não lhe faz diferença e até ganha algum dinheiro. E mesmo nesse estado pode ser que seja útil…
Nem queria acreditar que acabaria por ir para Nampula acompanhada por um homem embriagado, mas enfim, já estava decidido que eu iria para Nampula, já estava mentalizada que ia conduzir sozinha no fim do mundo, agora não ia desistir da viagem. Já tinha a mala feita e, enquanto esperava pelo Sr. Rafael, fui com a Irmã Lurdes ao hospital ver como estava a nossa menina e os outros doentes internados. Seria preciso mais alguma coisa? (Tenho sempre tanta dificuldade em desligar-me das minhas preocupações e dos meus doentes…)
(continua...)