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Beijo de Mulata

Beijo de Mulata

20
Set11

[outras palavras] alves redol

beijo de mulata
Já Alves Redol no seu Constantino tinha uma opinião parecida com a minha no post aqui abaixo. Se bem que menos ruminativa...
"Por voto do padrinho e assentimento dos pais, o rapaz recebeu no registo o nome de Constantino. É um nome bonito, sim senhor. Na aldeia não há outro igual, e isso é bom, pensou a mãe; escusa uma pessoa de matar a cabeça como em certas casas em que os homens usam o mesmo nome e ninguém se entende. Na Chamboeira conheceu ela uma mulher, a Ti Pirralha, metida num inferno de portas adentro por causa de o marido, o filho e o neto se chamarem António.

Enquanto o rapaz foi pitorro, tudo correu bem. Um era o António Grande, o outro só António e o mais novo o António Pequeno, O rapaz porém, deitou muito corpo, e depressa, enquanto o avô continuou cartaxinho, cartaxinho e melindroso, pois começou a pôr-se de vidro fino quando a mulher lhe chamava Grande, vendo nisso uma artimanha dela para se vingar de certas desfeitas que lhe fazia quando bebia um copo a mais.

«Grandes são os burros», refilava então o velho, muito rezingão, com reumático nas cruzes, umas dores parvas como dentadas de lobo. Mas andou tudo raso naquele casal quando a Ti Pirralha o tratou por António Velho para chamar Novo ao neto, o que incendiou o marido, e de tal jeito que a mulher teve de se esconder três dias em casa duma vizinha.

«Velhos são os trapos!», gritava o António Pirralha chamando corja ao povo inteiro da sua aldeia – que não gostava muito dele, valha a verdade.

Foi isto mais ou menos o que a mãe do Constantino lembrou ao marido para defender o nome escolhido pelo compadre."
20
Set11

[aviso] ignore este aviso!

beijo de mulata
Meus queridos amigos, serve este pequeno parêntesis para vos explicar que aqui no mato não possuímos livro de reclamações, tal como está patente ali ao fundo, do lado esquerdo daquele exíguo mapa onde se pode acompanhar o crescimento deste improvável beijo de uma mulata que, por acaso, e ao fim de todas as contas, não é mulata nem nada. E, que se formos bem a ver, também não é beijo coisíssima nenhuma, mas adiante, que há coisas que não se devem pôr em causa e os beijos das mulatas são uma delas. Os beijos das mulatas são sempre de coração. Mesmo das mulatas que só são mulatas por dentro.*

Mas o que eu vos queria dizer é que nós aqui no mato, não possuímos livro de reclamações. Pode alguém reclamar de um beijo, homens de Deus? De um beijo não se reclama, nem que seja roubado. Bem... sobretudo se for roubado... E pode alguém repudiar uma flor? Mesmo que seja só uma flor fingida, enterrada num balde de gelo, meus amigos, ou que tenha nascido nos confins da savana, uma flor é sempre uma flor!

E há ainda outras razões para não termos livro de reclamações. Nenhuma delas minimamente defensável, mas enfim, são as nossas. E quem dá o que tem, a mais não está obrigado, não é assim? Em primeiro lugar porque o Sr. Pompisk, padrinho honoris causa deste mato, também não possui um livro de reclamações.

[Para os que só chegaram agora, ou para os mais distraídos, há todo um conjunto de hiperligações ali numa das colunas da direita, onde se fala sobre o Sr. Pompisk (para ele, mesmo que não nos esteja a ouvir, um abraço), embora, infelizmente, acho que não se fique a saber rigorosamente nada sobre ele. Ou bem... quase nada... Uma das coisas que ostensivamente não se fica a saber é a razão obscura pela qual a sua barraca "Só Basta Viver" no Gilé não possui um livro de reclamações. Mas isso, presumo, é lá com ele. Com ele e com a barraca dele...]

E enquanto o Sr. Pompisk não tiver um canhenho, por pequeno que seja, onde, honesta e dignamente, um cliente possa destilar todo o fel que guarda em segredo na sua alma contra aquele negócio, nós também não nos achamos no direito de o ter. E, por último, achamos assim um bocado idiota ter um livro de reclamações num blog. É sobretudo isso.

Por isso, meus caros, estas ruminações bloguísticas servem para dizer que não adianta mandarem mails atrás de mails para aquele endereço que está mesmo a pedi-los, justamente por debaixo do aviso de que este blog não possui livro de reclamações, a reclamar sobre a minha mania de falar sobre nomes de pessoas quando podia estar a falar de coisas sérias e a fazer serviço público, porque eu continuo a achar que é um excelente tema de conversa. Só vou responder à simpática senhora que observou que os três pequenos freaks mencionados no post abaixo, os irmãos Faquir de Domingo, Milagre de Domingo e Vidêncio de Domingo, não tinham necessariamente de ser filhos de um senhor chamado Domingo. A sua tese é que eles podiam perfeitamente ser filhos de um weekend man que projectasse na descendência todo o seu exotismo de fim de semana. E, portanto,"de Domingo" poderia perfeitamente ser nome próprio.

Podia, é verdade. Mas não, cara leitora, "de Domingo" neste caso não é nome próprio. Em Moçambique, pelo menos nas zonas de mato por onde trabalhei (suspeito que noutras províncias e nas grandes cidades não seja assim), o apelido das crianças não é o apelido do pai, mas o seu primeiro nome. A título de exemplo, o filho do senhor Ozias Trinta chamar-se-á José Ozias e não José Trinta. E não vejo qualquer inconveniente nesta prática. Pelo contrário. Assim obvia-se a confusa tradição que é dar ao filho o nome do pai sob pena de a criança ficar com o nome ridículo de João João ou coisa que o valha. Que isto de nomes repetidos é coisa que mais tarde ou mais cedo acaba por trazer desordem na família.

*O aviso que chama a atenção para a inexistência de um livro de reclamações está lá em baixo, confiem em mim, vão lá depois, que se não nunca mais saímos disto... Pronto, sim, logo vi que não bastava uma nota de rodapé, está mesmo ao lado do mapa das bolinhas vermelhas, onde até se pode constatar que os beijos de mulata têm, como se quer, uma especial apetência por zonas soalheiras e assim pertinho do mar e que se reproduzem desenfreadamente, pior que uma erva daninha, meus amigos, é o que vos digo... mas agora voltem cá para cima, que diabo! Até parece que têm bichos carpinteiros!

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