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Beijo de Mulata

Beijo de Mulata

17
Set11

[portugal no seu melhor] alguém que lhes trate das as unhas, valha-me deus!

beijo de mulata
Esta manhã passei novamente naquele que eu acho que seria o ponto de partida ideal para um Roteiro Humorístico da Cidade de Lisboa, ali ao Conde de Redondo. E, precisamente na montra da mesma loja de ferragens de que um dia vos falei, vi que tinham retirado o cartaz que dizia: "Temos onicomicoses* para fungos." Agora o vidro ostentava um cartaz muito mais sintético. Dizia apenas: "Onikomikozes. Aki tem!"

Mas será que aquilo afinal, em vez de publicidade, é um pedido de ajuda?

* Para que não digam que eu agora dei em falar chinês, onicomicose é uma infecção das unhas causada por fungos.
17
Set11

[sensibilidade e insensatez] uma nova oportunidade...

beijo de mulata
(continuando...)

A menina crescia, com um olhar vivo e uma actividade impressionante e os pais, a pouco e pouco, foram também reconstruindo a própria alma e revelavam-se as pessoas que são hoje: fantásticos, incondicionais e cheios de bom humor. E quanto mais o tempo passava, mais se compreendia que a menina ia crescer para ser uma menina muito inteligente e especial. Cresceu mimadíssima por pais e avós, entre consultas de tudo e mais alguma coisa em que invariavelmente estava tudo bem. Até que aos quatro anos, por pressão da pediatra que dizia que não podia ser, que não podia continuar em casa o dia todo, que não podia ser superprotegida, que já era mais do que tempo, a muito custo, os pais inscreveram-na no jardim infantil.

Uma semana depois constipou-se e teve uma sinusite. Dias depois dava entrada nos intensivos com uma meningite gravíssima. Dizem que o luto custa mais à segunda vez... Mas que dizer da alegria que é ver uma criança renascer, pela segunda vez, depois de ouvir que era quase impossível? Já vi meninos sairem de meningites destas sem muitas sequelas. Mas impecáveis como ela nunca tinha visto...

No final voltámos à carga. Que não podiam desanimar. Que a menina tinha de fazer uma vida normal. Que só assim é que a vida tinha sentido. Que tinha de ir à escolinha novamente.

- Nem pensar, Doutora! - Dizia a mãe, com o sorriso bem-humorado que a caracteriza, mas absolutamente determinada. - Para a escola é que ela não volta nunca mais! É que não mesmo. Quando chegar aos 18 anos meto-a nas Novas Oportunidades!
17
Set11

[sensibilidade ou insensatez] oportunidades...

beijo de mulata
Há uns meses tivemos uma menina nos cuidados intensivos com uma meningite de caixão à cova. Daquelas que metem coma de vários dias, alterações neurológicas difíceis de compreender mas tão persistentes que achamos que já não vão melhorar, bactérias resistentes aos antibióticos, várias cirurgias de drenagem. E medos e ansiedades e revoltas e perplexidades.

Tinha sido uma menina muito desejada, mas que tinha nascido sem esperança nenhuma, com os pais já a fazer o luto da criança que nunca teriam... No final da gravidez o cérebro da menina foi desaparecendo, comprimido contra as paredes do crânio por um mar violento que não tinha fim. Hidrocefalia, diziam os obstetras... Dandy-Walker, acrescentavam os Neurocirurgiões... Os pais não diziam nada...

O parto tinha sido um suplício, num desespero de quem tem a noção perfeita de que para sair viva daquela dor precisa de dar o seu melhor, mas que, por mais que se esforce, tudo quanto vai ter no final é um ventre vazio... Só que, contra todas as expectativas, a menina começou a respirar sozinha quando nasceu e portanto foi levada para ser operada e tentar abrir alguns canais naquele mar morto que lhe tinha nascido na cabeça e que tinha alagado a alma dos pais. Operavam-na porque ela tinha sobrevivido. Continuava a não haver esperança nenhuma a longo prazo. Mas que pelo menos a cabeça não crescesse tanto que ficasse a pesar muito mais que o próprio corpo, tinham-lhes explicado. Apenas para isso. Para que pudessem cuidar dela até ao fim...

Mas nos dias seguintes, um milagre foi acontecendo. Depois da cirurgia, o cérebro da menina, que tinha uma espessura de milímetros à nascença, foi-se expandindo até conquistar novamente o espaço que lhe tinha sido roubado e arrastado contra o crânio pela força das águas. Os pais, que nunca tinham arredado pé, iam olhando para ela, à medida que abria os olhos e esboçava um sorriso e se mexia e bocejava... e comia... E iam, quase a medo, acreditando que era possível. Nós não queríamos acreditar. Nós por fim só nos rendemos à evidência!

[E mais uma vez ficava provado que aquela massa, que só quem é muito crédulo acredita que é cinzenta, porque é vermelha, cor de sangue vivo, como quase tudo o que é nosso da pele para dentro... que aquela massa vermelha é o cimento de que se constrói a alma de uma criança. E é a pintura que pode dar brilho às almas dos pais.]

(continua)

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