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Beijo de Mulata

Beijo de Mulata

30
Jul11

[instantes] pode o mar fugir-me um dia?

beijo de mulata


O dia em que o Índico se tornou frio e distante e em que os pescadores começaram a senti-lo fugir debaixo do barco e esquivar-se ao contacto íntimo e envolvente com o seu corpo... Será, meus amigos, que nem a cor do mar é garantida?
(Ilha de Moçambique, Nampula)

Bem, não perguntem. Não perguntem nada. Só há uma de duas hipóteses, ou eu estou desiludida com as pessoas e com o mundo em geral ou estou a entrar numa fase surrealista sem me dar conta. Curiosamente, agrada-me mais a segunda hipótese...
30
Jul11

[interlúdios] sabes que está na altura de comprar uma televisão quando...

beijo de mulata
Tenho vários amigos e conhecidos que vivem felizes sem uma televisão em casa. Um deles é pai de seis filhos. Não encontro qualquer relação entre o baby boom e a ausência de televisor, embora estes dois fenómenos sejam, na vox populi, causa e efeito, o primeiro consequência natural do segundo. Dois dos filhos deste meu amigo são agora adolescentes e, no entanto, ambos são aparentemente normais, embora me pareçam ligeiramente mais vidrados que o habitual para a faixa etária quando dão de caras com um ecrã... Eu própria tenho para mim que poderia viver feliz se não tivesse uma televisão em casa, se se desse o (a)caso de não a ter. [E mais uma vez o beijo-de-mulata presta homenagem aos soldados foliões que imortalizaram o Marquês de la Palice.] Por acaso na Catalunha até vejo de vez em quando o "Sexo e a Cidade" dobrado em castelhano e acho-o absolutamente impagável! Nunca pagaria para ver tal coisa, se bem me entendem...

Por vezes o assunto vem à baila. Uns referem-se ao facto como mera casualidade: "Ainda não nos deu para aí." ou "Nunca nos decidimos a comprar uma, não sei porquê.", outros justificando-o com ligeireza: "Não temos necessidade, vemos tudo o que precisamos na internet e não gostamos da programação." e outros ainda com um discurso sobre "opção de estilo de vida" e os malefícios da televisão sobre a vida familiar.

Recentemente, um destes meus conhecidos, representante convicto desta última posição, viu-se obrigado a comprar uma televisão por pressão da empregada interna e babá dos meninos, uma brasileira de nascimento e de coração, e fervorosa adepta do momento empty box de todas as noites. Aquela mulher era uma força da natureza, fonte de boa disposição e de escape para as energias das crianças, responsável pelo seu sotaque morno e cantado e pelo bambolear leve das ancas da mais nova quando dançava "os patinhos". Um dia a babá dos seus filhos ameaçou despedir-se se não tivesse uma televisão para ver a novela das nove. Acabou por ceder. Afinal de contas a empregada podia muito bem ver a novela das nove sem que isso interferisse com a dinâmica familiar e poderiam manter o seu estilo de vida saudável com uma televisão no quarto da empregada.

Mas mal esse bicho do demo entrou lá em casa, a vida transformou-se. Dava por um sossego invulgar às cinco da tarde, que lhe permitia ler o jornal e preparar as sessões de formação com muito mais calma e o dobro da velocidade, mas quando ia ver o que se passava, os meninos estavam sentados na cama da babá a ver o Ruca. Ficava com os cabelos em pé quando percebia que às oito e meia a mulher tinha desaparecido no quarto da empregada adentro para ver o telejornal. E o pior de tudo é que dava por si com saudades das comédias e séries policiais da sua adolescência e a imaginar como seriam sofisticadas e empolgantes as séries americanas actuais de que falavam às vezes os colegas de trabalho.

A cama da babá rapidamente passou a sofá de toda a família e o quarto a centro de reunião e convívio familiar. Até que a senhora, dona de uma personalidade invulgar, deu novo murro na mesa. Então invadia-se assim o quarto de uma pessoa? Já não se podia ver a novela das nove descansada sem a sensação de que os donos da casa preferiam estar a ver as notícias? Que espécie de empty box era aquela?! Hum? "Assim não podjia sê não!" E, pronto, não havia mais nada a fazer se não rever todas as suas convicções acerca do mundo em geral e da família em particular e perguntar à empregada se não se importava que a televisão, que afinal fazia muita falta, passasse para a sala porque eles agora queriam jantar todos a ver a novela das nove, como as famílias disfuncionais!

Adenda: Este post não contém uma moral. Nem uma opinião pessoal. E também não tem um motivo. Poderia dizer-se que "encerra em si a razão da sua própria existência", tal como um jantar de amigos, mas nem mesmo isso me apetece que se diga. É uma história apenas. Verídica, toda ela, pois claro. Tirando aquela parte do Marquês de la Palice, mas isso não é culpa minha...
28
Jul11

[frases inspiradoras] hoje é o dia, este o momento...

beijo de mulata

(Barrio Gràcia, Barcelona)

Vem, meu amor, não tenhas medo... O mundo é um local lindo para se conhecer. Aqui vais ter beijos, abraços e mimo e colo e pele e peito e amor e riso e tudo o que faz o coração querer continuar a bater sempre mais. E no fim, prometo, ele há-de achar que ainda teria valido a pena bater, nem que fosse mais uma vez! Vais ter quem te leia os pensamentos, quem te adivinhe as necessidades, quem te ampare as angústias, quem te ame tanto que possa pensar que nada mais existe para lá da orla do teu cabelo. Quem não se importe de fazer o pino para te arrancar um sorriso. Quem te ensine a levantar a cabeça e olhar o outro com confiança. Vem, não tenhas medo! Deixa-te amar. Incondicionalmente. É tudo o que tens de fazer. Até já! Só mais uma coisa... nunca duvides de que tudo isto é verdade. Não duvides de que a vida basta.
27
Jul11

[welcome to catalunya] frases inspiradoras

beijo de mulata

No te pongas malo que estamos en crisis. Un convite de HSJD.
Não fiques doente que estamos em crise. Uma sugestão do Hospital Sant Joan de Déu.
(Barcelona)

Não é um cartaz da autoria dos Indignados, acampados durante meses na Praça da Catalunha?... Temos pena que não o seja, que assim conferia mais tempero ao slogan, não o deixando ser um mero panfleto e sim parte de um movimento maior, mas pronto, isso também é indício de que até num hospital pediátrico se exerce o direito à indignação! Obrigadinha e façam favor de não adoecer... Porque sim. É sempre saudável.
27
Jul11

[welcome to mozambique] o mercado das calamidades

beijo de mulata



Vendendo e comprando a roupa usada, doada por países mais a norte do equador... São estes os mercados das "calamidades". Suspeito, aliás, que em Moçambique, para a maioria das pessoas, a palavra "calamidade" é sinónimo não de catástrofe mas de roupa barata usada, vinda da Europa.
(Maputo, Moçambique)
27
Jul11

[outras palavras] a loira do jeep parado no semáforo

beijo de mulata

Crianças...
(Maputo, Moçambique)

Um post de Eduardo Castro, do ElefanteNews (o link está ali na coluna da direita, sob a vénia de olavula sana), tão real e tão verdadeiro que não resisto a partilhá-lo.
Parado no sinal fechado, voltando do almoço, vi a loirinha abrir a janela do Jeepão 4×4 e fazer um gesto pra menino que estava ali, no cruzamento das avenidas Mao Tse Tung (ele mesmo) e Julius Nyerere (ex-presidente da Tanzânia), zona nobre de Maputo. O garoto veio, correndo entre os carros. A moça deu a ele dois saquinhos – um azul e outro rosa. Eram de algodão doce. Os olhos do menino ficaram bem arregalados, e muitos foram os sorrisos e agradecimentos.

Abriu o sinal, o trânsito andou, o Jeepão foi embora, e eu, sem vaga pra parar o carro, acabei por ter que dar outra volta no quarteirão, parando quase no mesmo sinal fechado, uns dois minutos depois da cena inicial. Tempo suficiente para ver o mesmo menino, os mesmos saquinhos. Só que agora, ele já estava tentando vendê-los.

Decepcionado com tanta “ganância”? Não fique. Sorriso e algodão doce podem até preencher o coração do menino de amor, mas não mata a fome dele. O que mata a fome dele é xima: água e farinha de milho, base da alimentação de milhões e milhões de africanos.

“Quebra um pouco o encanto”, mas pobreza não tem encanto. Olhos azuis cercados por cabelos amarelos, quando encontram olhos pretinhos num rosto tristonho, costumam brilhar de compaixão e piscar intensamente, cheios de doçura – mas não enchem barriga.

Pra alguns também “quebra o encanto” saber que aquele agasalho velho que foi doado para “os pobres da África” não é entregue a um “pobre da África”. É destinado a instituições (em alguns países é mesmo o governo que faz isso) que – segure seu queixo, loirinha – vendem essas roupas, aos fardos, para revendedores locais.

Há verdadeiros mercados só com as roupas doadas. Aqui em Moçambique chamam a isso de “Calamidades”. “Comprei nas Calamidades”, é a frase. Camisas, calças, cintos, vestidos, agasalhos, sapatos, cobertores, tecidos, chapéus, toalhas, sacos de dormir, barracas de lona, fogareiros. Tem de tudo nas Calamidades.

Sim, loirinha: eles vendem aquele vestidinho que você doou “com tanto carinho”. E isso é ótimo. Gera emprego e renda pro vendedor, distribuidor, revendedor, costureira que conserta o que não vem bom, motorista do caminhão. Alguém usa a roupa, mas alguém também ganha dinheiro – e compra farinha pra fazer xima.

“Mas estão lucrando em cima de mim! Da doação que fiz com tanto carinho!” Bom, chegamos ao ponto da indignação, então: é que eles ganham, e não você – que doou “com tanto carinho”.
Ler o resto do post aqui.

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