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Beijo de Mulata

Beijo de Mulata

23
Jun11

[ntchuva] as regras do jogo

beijo de mulata

Homens jogando ntchuva...
(Moçambique, foto retirada na net há tanto tempo que não consigo descobrir o link...)

O ntchuva ou ntxuva, na definição do correspondente honoris causa deste mato, a minha referência no que se refere a moçambicanismos, é um "jogo de estratégia e cálculo aritmético, jogado num tabuleiro de madeira ou no chão". É predominantemente um jogo de equipa, para adultos do sexo masculino.

Eis as regras, para os muitos que em Moçambique viram jogar este jogo na rua e sempre tiveram curiosidade de saber como se joga. O texto que se segue foi adaptado daqui:

Formam-se 2 equipas com um ou mais jogadores. O jogo pode ser realizado no chão, cavando-se 4 filas de pequenas covas. Cada fila pode ter 4, 8, 16 ou 32 covas. Também se pode jogar num tabuleiro construído em madeira ou cimento. As equipas dispõem-se frente a frente, de cócoras. Em cada cova são colocadas duas pedrinhas e a cada equipa correspondem duas filas de covas. O objectivo do jogo é eliminar as pedras do adversário.

Para fazer uma jogada, o jogador escolhe uma cova de partida. Agarra nas pedras dessa cova e coloca-as uma a uma nas covas seguintes, andando no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio. Sempre que a última pedra que largou fica numa cova que ainda tem pedras, o jogador reinicia o processo, ou seja, retira as pedras dessa cova e coloca-as uma a uma nas covas seguintes até que a última pedra seja largada numa cova vazia. Se essa cova se situa na 1ª fila (a que fica mais próxima do jogador) a jogada termina e passa a vez ao adversário. Se a cova em questão se situa na 2ª fila (mais perto do adversário) o jogador verifica se a cova da frente (correspondente à 2ª fila do adversário) tem pedras, o que lhe dá o direito de retirar as pedras dessa cova, da cova imediatamente atrás e duma terceira cova (escolhida pelo jogador, segundo um critério de estratégia de jogo, ou seja, irá procurar reduzir as possibilidades do adversário, numa próxima jogada, lhe retirar também pedras).

Em seguida é a vez do adversário, que jogará nos moldes já descritos, prosseguindo o jogo com jogadas alternadas entre as duas equipas.

Os jogadores são obrigados (enquanto for possível) a iniciar a jogada por uma cova com mais de uma pedra, terminando sempre quando deixarem apenas uma pedra numa cova. Apenas quando deixarem de haver covas com mais de uma pedra, poderá o jogador iniciar a partida a partir de uma cova com uma só pedra, andando neste caso apenas uma cova, a não ser que logo a seguir tenha uma pedra e assim ele já poderá continuar.

O jogo termina quando uma equipa eliminar as pedras do adversário.
23
Jun11

[jogos e passatempos] os interlúdios da vida em moçambique

beijo de mulata






Jogando ntchuva...
(Moçambique, fotos benevolamente colocadas na net por vários autores, porque eu não tinha nenhuma...)

A primeira pessoa em Moçambique que me mostrou como se pode amar um país e um povo que não é o nosso, a minha querida amiga Cloé, tinha na sala um tabuleiro de ntchuva. Mostrou-mo um dia, embevecida... Ela era uma apaixonada por jogos de estratégia e cálculo e por isso encomendara um dia esta obra de arte autêntica a um artesão da Matola. 

O artesão fizera-o em pau preto com embutidos em sândalo e marfim num padrão intrincado, lindíssimo. As pedrinhas não me lembro de que material seriam feitas, mas recordo-me que eram de um cinzento claro que constrastava com o pau preto, e de uma perfeição que conferia ao tabuleiro uma mistura improvável e elegante de tradição e modernidade. Esta peça suscitava sempre a admiração das visitas, pela imagem desconcertante de um jogo tosco de rua jogado ociosamente por homens do povo transformado numa obra de arte feita em materiais preciosos.
21
Jun11

[viver na savana] ocupação indevida?

beijo de mulata

Outra casa na árvore... um embondeiro escavado por dentro e habitado por uma família de leprosos, segregados da restante comunidade...
(Ocua, Cabo Delgado)

Não me recordo de quem tirou esta foto, o autor que se acuse... Foste tu, S.?
20
Jun11

[sns we can!] tenho medo...

beijo de mulata
Eu gostava que sim, que fosse possível... O Serviço Nacional de Saúde, tal como o ensino público, sempre foi um dado adquirido. Mas nos últimos dias só me passa pela cabeça que este paradigma pode estar em perigo... Bem, coisas da silly season, deve ser da chegada do verão...
17
Jun11

[as melhores do serviço de urgência] ou como enfurecer uma pediatra às 10 da manhã...

beijo de mulata
Serviço de Urgência. Fim de semana de manhã. Menino de dois anos com um ar absolutamente miserável e quase desidratado, trazido pela sua mãe, uma senhora produzidíssima, com uma fala afectada e um ar de valha-me-deus-que-não-sei-que-mal-fiz-para-vir-parar-a-esta-espelunca-eu-só-cá-vim-porque-o-motorista-não-sabia-o-caminho-para-o-hospital-da-luz...

Apesar de o menino mal se equilibrar nas pernas, vinha com ele pela mão. Eu nem queria acreditar, mas enfim, ainda lhe dei o benefício da dúvida. Podia ser que a mãe estivesse com uma dor de costas de caixão à cova...

- Bom dia! Então o que se passa com o seu menino?
- Não pára de vomitar desde ontem à noite...
- Vomitou quantas vezes?
- Não sei, Doutora, a ama ficou lá fora. Mas acho que foram muitas.
- Está bem, vamos despi-lo ali na marquesa.

A senhora coloca-o na marquesa e deixa-o ali sentado.
- Vamos despi-lo, mãe.
- ... [Um ar absolutamente em branco, de quem não percebeu o que eu disse.]
- Passa-se alguma coisa? Vamos despir o menino!
- [Um ar abismado!] Mas quer que seja eu a despi-lo?!
- Claro, quem mais?
- Ah...

Enquanto a mãe o despe, claramente mal disposta com um ar de mas-será-que-tenho-de-fazer-tudo-nesta-casa, continuo o meu interrogatório.
- Ele tem estado doente?
- Acho que teve uma amigdalite há tempos.
- Há quanto tempo?
- Mas como é que quer que eu saiba? Já deve ter sido aí há um mês ou três semanas...
- E ele ontem à noite já estava enjoado?
- Não, acho que não...
- O que é que ele comeu ontem ao jantar?
- [Irritadíssima!] Ó Doutora, sei lá! Ele ainda não tem idade p'a comer connosco!

Controlei-me.
- Então pode ir chamar a ama.

Diz-me um colega que estava na sala ao lado:
- Ah, estás a ver aquele menino? Gabo-te a paciência. Ele em tempos foi meu doente e aquela família é indescritível... Calcula que para fazer a primeira sopa de batata e cenoura teve de vir a governanta à consulta!
16
Jun11

[instantes] ouvi dizer que quer peixe para o jantar...

beijo de mulata
15
Jun11

[as melhores do serviço de urgência] neologismos

beijo de mulata
Serviço de Urgência, noite de Santo António. Uma adolescente de 15 anos, natural de Cabo Verde, residente em Lisboa há poucos meses, com um ar estremunhado de quem acabou de acordar de um sono desconfortável nas cadeiras de plástico da sala de espera e com cara de deixem-me-em-paz-que-não-sei-o-que-estou-aqui-a-fazer-eu-nem-sou-de-cá-só-cá-vim-ver-a-bola, acompanhada por sua mãe, uma mulher enorme e irritável, claramente impaciente por estar parada e há tanto tempo à espera.

- Então o que a traz aqui? - pergunta uma colega minha. [Pergunta retórica, que obviamente já tinha lido o relatório da triagem e feito o diagnóstico.]
- Tem febiri e angina.
- Está bem, vamos vê-la...
[A adolescente dirige-se para a marquesa e começa a despir-se lentamente, como quem pensa distraídamente sobre a vida. A mãe, impaciente, rosna-lhe que se despache, que ainda há muito que fazer nesse dia.]

- Mas, mãe, a menina está muito pálida... Tem uma anemia grave de certeza. Ela não tem andado mais cansada ou mais parada nos últimos tempos?
- Ah, Doutora, ela é muito divagarosa...

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