19
Mai11
[the pests of three cities] na sua casa de banho
beijo de mulata
O que é o pior que pode encontrar na sua casa de banho?
Depois das reacções? de várias famílias totalmente horrorizadas sobre a minha simpática companheira de quarto, a Amélia, que zelava pela minha saúde preservando o meu sangue livre de Plasmodia da malária, comecei a pensar que este post se calhar deveria levar bolinha no canto superior direito...
Mas... bem, meus queridos amigos, como diria o Sr. Pompisk: África não é para meninos!
Em Milevane, após um dia lindo, lindo, fui tomar banho e, como sempre, antes de me despir inspeccionei cuidadosamente todas as paredes e o chão da casa de banho - sim, que pior do que um encontro imediato de terceiro grau no duche, só mesmo a triste figura de uma loira encharcada e desnuda a gritar pelo corredor de um convento, sob o olhar quase apocalíptico de padres e freiras... Já quase despida dei de caras com um escorpião que trepava pacatamente pela parede mais recôndita do duche. Mas de onde é que ele teria saído, valesse-me Santa Rita de Cássia. Meu Deus, porque sois tão bom? Tenho muita pena, mas vou cometer um crime... Peguei no chinelo e em menos de um segundo havia mais uma escorpiã viúva no convento... O problema foi que de imediato me assaltou a ideia peregrina de que os escorpiões poderiam ser como as cobras cuspideiras e andar sempre aos pares. Mas depois de uns bons minutos de rabo para o ar à procura do buraco de onde o falecido poderia ter saído e onde poderia estar escondida a sua fiel viúva [quer dizer, quase de certeza fiel, que na viúva de um escorpião nunca se confia, mas assim como assim não teriam passado mais de cinco minutos e, a menos que estivesse outro escorpião no buraco, poderíamos presumir com quase toda a certeza que ela ainda lhe seria fiel...], acabei por me vestir e fui acordar a Irmã Lurdes, que já dormia a sono solto no quarto ao lado do meu:
- Irmã, os escorpiões costumam andar aos pares? - perguntei do lado de fora da porta.
- Não, não necessariamente... - foi a resposta [quase que podia ver a cara de pasmo estremunhado].
- Obrigada e desculpe... Boa noite. Durma bem.
- Sim, dorme bem também. [Uma santa! Não tenho dúvidas de que vai ser santa.]
Já no Gilé, o problema eram os sapos. Eu e a R. quase nos convencemos de que nos tinham lançado um feitiço... Todas as noites, quer na minha casa de banho quer na da R. aparecia invariavelmente um sapo e tínhamos de chamar alguém para o ir enxotar para a rua. Chegámos mesmo a pensar em ir buscar à socapa um curandeiro para quebrar o feitiço dos sapos, já que não estávamos interessadas em nenhum príncipe que nos aparecesse durante o banho - convenhamos que não era um bom princípio para qualquer relação, quanto mais para um casamento... Mas a lembrança do flop absoluto com o curandeiro de Nahavara não nos deixou prosseguir. E também nunca poderíamos explicar à Irmã Lurdes por que raio é que queríamos levar um curandeiro para o nosso quarto. Portanto, lá me rendi à evidência de que os sapos nos haveriam de acompanhar durante a estadia no Gilé e lá mais para o final, apanhei-lhe o jeito e já era eu quem pegava na pá e na vassoura e os fazia saltar à minha frente até à rua. Só não os conduzia até aos charcos porque confiava cegamente na sapiência dos sapos para os encontrar rapidamente [quase que juraria que a palavra sapiência vem de sapo, tal era o engenho com que encontravam o caminho para dentro do meu balde].
Quanto à história da cobra cuspideira e da centopeia, o melhor é nem falar. Em resumo, meus amores, a regra em África é: nunca se dispam sem ter a certeza de que estão sozinhos!