01
Mar11
[conta-me como foi que aconteceu] valha-me nossa senhora das alfândegas...
beijo de mulata
(continuando)
Aproximei-me do tapete da alfândega. Respirei fundo uma última vez: “Calma!”, repeti para mim própria. “Close your eyes and think of Africa!”
Abri a minha mala à senhora da alfândega e, resignadamente, deixei que ela ma escrutinasse de uma ponta à outra, desligando-me completamente para observar, expectante, o que se passava do lado de lá das chegadas.
Um caos indescritível quase na penumbra, com dois ou três motoristas fardados exibindo bem à vista papéis com erros ortográficos nos nomes mais simples, pessoas abraçando-se, tentando simultaneamente evitar aos gritos que os bagageiros lhes levassem as malas, um casal de meia-idade que discutia violentamente como se estivessem prestes a romper o casamento, um casal que se diria pronto para se amar ali mesmo, tal era a sede com que se exploravam mutuamente, famílias inteiras gritando na alegria do reencontro.
E, enquanto tentava entrever os meus anfitriões, que tinham combinado comigo que levariam um papel com o meu nome escrito, ia-me apercebendo de que não havia ninguém por ali à vista com um papelinho, por mal amanhado que fosse, com a minha graça, e pensava como raio nos haveríamos então de reconhecer se nunca nos tínhamos visto... ou pior, se eles afinal não se teriam esquecido de me ir buscar. Felizmente, com toda esta angústia, a senhora da alfândega deve ter-se apercebido pelo meu olhar vago de que não teria a menor hipótese de estabelecer um clima de extorsão porque eu estava com o pensamento muito longe dali! Aquela angústia súbita foi o melhor que me podia ter acontecido, porque devo ter sido a única pessoa dessa noite que passou incólume na alfândega por não se encontrar em condições de negociar e fui mandada seguir rapidamente, acabando de vez com as minhas preocupações e expectativas…
Foi então que, do outro lado da alfândega, dei de caras com um papel com o meu nome escrito e compreendi, com um baque, que tinha estado em negação aquele tempo todo. Eu não olhara para aquele papel porque ele estava precisamente na mão da mulher do casal de meia-idade que discutia violentamente. Aquelas duas aves raras eram… os meus anfitriões... O casal mais disfuncional que alguma vez conheci!
(continua)
Aproximei-me do tapete da alfândega. Respirei fundo uma última vez: “Calma!”, repeti para mim própria. “Close your eyes and think of Africa!”
Abri a minha mala à senhora da alfândega e, resignadamente, deixei que ela ma escrutinasse de uma ponta à outra, desligando-me completamente para observar, expectante, o que se passava do lado de lá das chegadas.
Um caos indescritível quase na penumbra, com dois ou três motoristas fardados exibindo bem à vista papéis com erros ortográficos nos nomes mais simples, pessoas abraçando-se, tentando simultaneamente evitar aos gritos que os bagageiros lhes levassem as malas, um casal de meia-idade que discutia violentamente como se estivessem prestes a romper o casamento, um casal que se diria pronto para se amar ali mesmo, tal era a sede com que se exploravam mutuamente, famílias inteiras gritando na alegria do reencontro.
E, enquanto tentava entrever os meus anfitriões, que tinham combinado comigo que levariam um papel com o meu nome escrito, ia-me apercebendo de que não havia ninguém por ali à vista com um papelinho, por mal amanhado que fosse, com a minha graça, e pensava como raio nos haveríamos então de reconhecer se nunca nos tínhamos visto... ou pior, se eles afinal não se teriam esquecido de me ir buscar. Felizmente, com toda esta angústia, a senhora da alfândega deve ter-se apercebido pelo meu olhar vago de que não teria a menor hipótese de estabelecer um clima de extorsão porque eu estava com o pensamento muito longe dali! Aquela angústia súbita foi o melhor que me podia ter acontecido, porque devo ter sido a única pessoa dessa noite que passou incólume na alfândega por não se encontrar em condições de negociar e fui mandada seguir rapidamente, acabando de vez com as minhas preocupações e expectativas…
Foi então que, do outro lado da alfândega, dei de caras com um papel com o meu nome escrito e compreendi, com um baque, que tinha estado em negação aquele tempo todo. Eu não olhara para aquele papel porque ele estava precisamente na mão da mulher do casal de meia-idade que discutia violentamente. Aquelas duas aves raras eram… os meus anfitriões... O casal mais disfuncional que alguma vez conheci!
(continua)