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Beijo de Mulata

Beijo de Mulata

20
Fev11

[lascia la spina cogli la rosa] das coisas que me doem...

beijo de mulata
Aprendendo os números na melhor escola das redondezas. Tinha quadro e giz, mesas e cadeiras e o pavimento e as paredes de pedra e cal... E professores tranquilos.
(Murrupula, Nampula)

Há coisas que genuinamente me deixam triste em Moçambique... As práticas de extorsão e exigências de favores sexuais por parte dos professores para aprovar os alunos ou até para fazer com que as notas merecidas apareçam na pauta desgostam-me como quase nada me consegue desgostar no país que eu amo. Em tudo o resto geralmente consigo dar a volta por cima e pensar precisamente que aquele é um país fantástico, que adoro como a um filho e aceitar a realidade. Se não há sistema numa repartição pública e tenho de lá voltar cinco vezes para pagar alguma coisa, tudo bem, algum dia há-de chegar a minha vez de conseguir. Se não há reagentes no hospital para fazer uma análise, pronto, passa-se sem ela e tomam-se decisões de acordo com o pior dos cenários para não corrermos riscos. Se as estradas estão péssimas e as pontes correm o risco de ruir, eu lembro-me da máxima de um amigo meu, natural da Guiné: "Eu já desisti de me enfurecer... quando vejo estas situações, respiro fundo e penso: Isto não é revoltante, é exótico!"

Mas neste caso não consigo... Quando vejo mais uma menina adolescente grávida ou infectada pelo vírus da SIDA ou com o coração destroçado após ter sido obrigada a ter relações com um professor só me apetece mandar tudo às urtigas... Ir-me embora para não ver vidas destruídas por inconsequências, prepotências e irresponsabilidade! Ou mandá-las a todas para casa das Irmãs, que são umas autênticas guerreiras a defender as suas meninas, com garras e unhas e dentes e leis e até prisão se for preciso! Se cada uma tivesse um padrinho, ou um anjo da guarda...
20
Fev11

[outras palavras] das coisas que genuinamente me magoam...

beijo de mulata
Lido no Voz de Nampula

As raparigas de Nampula descobriram uma nova maneira de ganhar a vida sem recorrer a actos tidos como estando à margem da moral e do bom senso, como é o caso da prostituição infantil, que é deveras frequente nesta cidade. Lavam carros em diversas esquinas da cidade para pagar propinas nas escolas que frequentam, com a esperança de um dia mudarem de vida.


O fenómeno é de certa maneira novo, pelo menos a nível da chamada Capital do Norte, a cidade de Nampula. Raparigas nas idades compreendidas entre onze e dezasseis anos, descobriram uma actividade rentável com vista a melhorar as suas condições de vida. Trata-se de limpeza de viaturas que estacionam em locais públicos, na sua maioria em hotéis, centros comerciais e até mercados.

Na última sexta-feira, a reportagem do Canalmoz, na cidade de Nampula, surpreendeu um grupo de três raparigas, nomeadamente Memuna, Maria e Bety, que junto, às bermas do Hotel Girassol, se dedicavam à limpeza de carros para ganhar dinheiro. Era por volta das vinte horas quando as encontramos a efectuarem os serviços. Convidamo-las para uns dedos de conversa. A priori recusaram-se a dar a cara, mas depois de muita insistência da nossa parte cederam e logo foram avisando: “não aceitamos que nos tirem fotos, porque estudamos e nossos colegas vão se rir de nós”.

Em conversa tímida, Memuna, a mais velha das três jovens, com apenas dezasseis anos, foi aos poucos nos revelando de onde surge a ideia. “Lá no bairro (Namicopo) muitos dos nossos amigos saem todos os dias de manhã e regressam à noite com muito dinheiro” disse para depois prosseguir, “eu, por exemplo, ando na sexta classe e o senhor professor pediu-me setecentos meticais para passar de classe e como não tinha, os meus amigos, que frequentam aqui, convidaram-me também a ganhar dinheiro”. Conta Memuna que “durante a primeira semana tive muitas dificuldades, pois ninguém aceitava que eu lhe limpasse o carro, mas depois as coisas foram mudando e melhorando” e “agora consigo, numa noite, entre duzentos e trezentos meticais”. Esta nossa fonte defende que não pode se dar ao luxo de ir ali de dia “porque as pessoas ver-me-ão, como disse anteriormente, e rir-se-ão de mim”.

Esta posição manifestada por Memuna é igualmente partilhada pelas suas companheiras que avançaram um dado importante: “nós somente vivemos com nossas mães, que dão o seu máximo para cultivar comida e também ajudamos desta maneira”.

Para quê este serviço?

As meninas dizem ter começado a batalha no meio de muitas dificuldades e a primordial foi pagar aos seus professores a fim de transitarem de classe, necessidade que ficou satisfeita em menos de uma semana. “Nós não tínhamos como pagar os professores para passarmos de classe e também não queremos ser como as outras raparigas que preferem prostituir-se para ganhar dinheiro, quando muito bem podem conseguir o que querem, vivendo de forma honesta”, desabafaram as nossas interlocutoras, para quem esta vida compensa. “Não vamos deixar este serviço porque ganhamos dinheiro”. (Aunício da Silva)

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