14
Fev11
[e porque hoje é o dia da disfunção eréctil] improbabilidades do mato
beijo de mulata
Aviso: Reader discretion is advised.
Tal como meu mentor espiritual (sim, o dos soluços, who else?) me fez questão de recordar esta manhã, hoje é o dia europeu da disfunção eréctil. E acho que vou agarrar o mote, já que não me apraz falar de São Valentim, um santo que afinal parece que foi banido da igreja no louco ano de 1969 porque havia dúvidas de que alguma vez tivesse existido, e também porque até tenho uma história para contar sobre o assunto...
Ora então, de todas as vezes que trabalhei como voluntária em Moçambique, apesar de a minha especialidade de formação e coração ser a Pediatria, sempre vi adultos e crianças e, obviamente, tratei todas as doenças sexualmente transmissíveis (DST) que me passaram pelas mãos [passe a expressão] e que grassam como a malária por todo o país. Para isso de muito me serviu a minha formação na consulta de DST no Centro de Saúde, onde durante meses, antes de iniciar a especialidade, tratei das mazelas e desgraças dos "porbaixos" dos tios e tias da Lapa e restante Lisboa. E, ó gentes vos juro, trabalho foi coisa que nunca nos faltou.
Outra circunstância que também contribuiu em larga medida para a minha grande actividade assistencial nesta área foi a recusa determinada de todas as minhas amigas médicas em tratar destes assados:
- Aquela doutora ali é que é especialista - indicavam elas, muito afavelmente, apontando na minha direcção, quando algum doente as abordava com estas questões.
De modo que quando algum homem me entrava na consulta e o via fechar a porta atrás de si, percebia imediatamente qual era o assunto que o afligia. E, por fim, a palavra tinha corrido de tal modo pelas aldeias em redor que eles já sabiam que eu só os tratava se trouxessem a(s) mulher(es) com quem tivessem tido um relacionamento no último mês. Sim, que aquilo era uma consulta de DST modesta mas séria! Só que isso custou-me alguns momentos de choque cultural, como o de um dia, em Iapala, em que um homem apareceu logo à primeira acompanhado de quatro mulheres e eu perguntei, um pouco ingenuamente:
- Mas a sua mulher não se importa que o senhor venha com as outras?
A resposta foi, simplesmente, um não menos espantado:
- Não, elas são todas amigas!
E pronto, lá chamei por Santa Rita de Cássia, padroeira dos matrimónios desavindos e, por que não?, dos matrimónios polígamos, que mais salada-russa do que estes deve ser difícil e calei-me muito bem caladinha, que perante isto não há nada a dizer, só repetir o discurso da prevenção, que haveria de cair necessariamente [e por vezes literalmente] em saco roto...
Mas se as DST não me traziam questões de maior - sabia diagnosticá-las, tinha exames à disposição e os medicamentos necessários -, os homens com disfunção eréctil vinham por arrasto e isso é que era para mim um bicho-de-sete-cabeças... Não gosto, pronto. Nunca tive qualquer formação para além da formação básica durante o curso e não era situação que me despertasse curiosidade ou interesse científico... Nestes casos fazia apenas uma investigação básica (ver se os ditos senhores tinham reflexos normais nos membros inferiores, se não tinham anemia ou insuficiência cardíaca e pouco mais) e tentava terminar a consulta o mais rapidamente possível, dizendo que não tinha medicamentos para isso e que o melhor era procurarem um curandeiro, porque era do meu conhecimento que existiam várias árvores de cuja casca se extraía um produto viagra-like que combatia a disfunção eréctil. Aliás, era notório que muitos homens padeciam desse mesmo mal nas redondezas, uma vez que algumas árvores estavam tão esquartejadas que quase se lhes viam as entranhas... E se a situação fosse psicológica não me estava a ver a fazer psicoterapia a homens de outra cultura. Curandeiro com eles e vá de chamar o próximo.
Mas, certo dia, um dos enfermeiros do hospital insistiu tanto que me vi obrigada a investigar mais sobre o assunto... E, quanto mais investigava, menos percebia o que se passava, porque as respostas eram todas afirmativas: que sim, que às vezes acordava com erecção, que sim, que às vezes tinha erecções e ejaculação durante o sono, que sim, que pois e que também... Mas então, haveria algum problema na relação com a mulher?
- Não, doutora, eu ainda tenho amor!
- Mas que estranho, então o que é que lhe acontece?
- Doutora, para "brincar" com a minha mulher eu não apanho aquela força... eu só consigo "brincar" quatro vezes por noite...
[Caiu-me o queixo...] - Ah... bem... acho que sendo assim não o posso ajudar. Tem de ir ao curandeiro mesmo...
[E muitas questões se poderiam colocar a partir desta, mas o post já vai longo e o dia é o dia Europeu da disfunção eréctil e não Africano por alguma razão...]
Tal como meu mentor espiritual (sim, o dos soluços, who else?) me fez questão de recordar esta manhã, hoje é o dia europeu da disfunção eréctil. E acho que vou agarrar o mote, já que não me apraz falar de São Valentim, um santo que afinal parece que foi banido da igreja no louco ano de 1969 porque havia dúvidas de que alguma vez tivesse existido, e também porque até tenho uma história para contar sobre o assunto...
Ora então, de todas as vezes que trabalhei como voluntária em Moçambique, apesar de a minha especialidade de formação e coração ser a Pediatria, sempre vi adultos e crianças e, obviamente, tratei todas as doenças sexualmente transmissíveis (DST) que me passaram pelas mãos [passe a expressão] e que grassam como a malária por todo o país. Para isso de muito me serviu a minha formação na consulta de DST no Centro de Saúde, onde durante meses, antes de iniciar a especialidade, tratei das mazelas e desgraças dos "porbaixos" dos tios e tias da Lapa e restante Lisboa. E, ó gentes vos juro, trabalho foi coisa que nunca nos faltou.
Outra circunstância que também contribuiu em larga medida para a minha grande actividade assistencial nesta área foi a recusa determinada de todas as minhas amigas médicas em tratar destes assados:
- Aquela doutora ali é que é especialista - indicavam elas, muito afavelmente, apontando na minha direcção, quando algum doente as abordava com estas questões.
De modo que quando algum homem me entrava na consulta e o via fechar a porta atrás de si, percebia imediatamente qual era o assunto que o afligia. E, por fim, a palavra tinha corrido de tal modo pelas aldeias em redor que eles já sabiam que eu só os tratava se trouxessem a(s) mulher(es) com quem tivessem tido um relacionamento no último mês. Sim, que aquilo era uma consulta de DST modesta mas séria! Só que isso custou-me alguns momentos de choque cultural, como o de um dia, em Iapala, em que um homem apareceu logo à primeira acompanhado de quatro mulheres e eu perguntei, um pouco ingenuamente:
- Mas a sua mulher não se importa que o senhor venha com as outras?
A resposta foi, simplesmente, um não menos espantado:
- Não, elas são todas amigas!
E pronto, lá chamei por Santa Rita de Cássia, padroeira dos matrimónios desavindos e, por que não?, dos matrimónios polígamos, que mais salada-russa do que estes deve ser difícil e calei-me muito bem caladinha, que perante isto não há nada a dizer, só repetir o discurso da prevenção, que haveria de cair necessariamente [e por vezes literalmente] em saco roto...
Mas se as DST não me traziam questões de maior - sabia diagnosticá-las, tinha exames à disposição e os medicamentos necessários -, os homens com disfunção eréctil vinham por arrasto e isso é que era para mim um bicho-de-sete-cabeças... Não gosto, pronto. Nunca tive qualquer formação para além da formação básica durante o curso e não era situação que me despertasse curiosidade ou interesse científico... Nestes casos fazia apenas uma investigação básica (ver se os ditos senhores tinham reflexos normais nos membros inferiores, se não tinham anemia ou insuficiência cardíaca e pouco mais) e tentava terminar a consulta o mais rapidamente possível, dizendo que não tinha medicamentos para isso e que o melhor era procurarem um curandeiro, porque era do meu conhecimento que existiam várias árvores de cuja casca se extraía um produto viagra-like que combatia a disfunção eréctil. Aliás, era notório que muitos homens padeciam desse mesmo mal nas redondezas, uma vez que algumas árvores estavam tão esquartejadas que quase se lhes viam as entranhas... E se a situação fosse psicológica não me estava a ver a fazer psicoterapia a homens de outra cultura. Curandeiro com eles e vá de chamar o próximo.
Mas, certo dia, um dos enfermeiros do hospital insistiu tanto que me vi obrigada a investigar mais sobre o assunto... E, quanto mais investigava, menos percebia o que se passava, porque as respostas eram todas afirmativas: que sim, que às vezes acordava com erecção, que sim, que às vezes tinha erecções e ejaculação durante o sono, que sim, que pois e que também... Mas então, haveria algum problema na relação com a mulher?
- Não, doutora, eu ainda tenho amor!
- Mas que estranho, então o que é que lhe acontece?
- Doutora, para "brincar" com a minha mulher eu não apanho aquela força... eu só consigo "brincar" quatro vezes por noite...
[Caiu-me o queixo...] - Ah... bem... acho que sendo assim não o posso ajudar. Tem de ir ao curandeiro mesmo...
[E muitas questões se poderiam colocar a partir desta, mas o post já vai longo e o dia é o dia Europeu da disfunção eréctil e não Africano por alguma razão...]