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Jan11
[vozes brancas* #36] as folhas mais tenras e as árvores mais altas...
beijo de mulata
O Kruger Park à tardinha, antes de um night safari...
(Foto da R., Áfica do Sul)
A sobrinha da R., uma criaturinha adorável de seus três anos e meio, em plena fase do romance edipiano, adora que seja o pai a ir deitá-la e que ele depois fique por ali a contar-lhe histórias, falar com ela, namorar um pouco... Na semana passada, depois da história lida, as festinhas no cabelo, o copo de água, as perguntas, as histórias do dia, mais perguntas, o fica aqui mais um bocadinho, o tens de dormir que já é tão tarde, o pai despediu-se com a sua princesa acordada e ainda com energia para mais três voltas à pista, que realmente desde que o mundo é mundo que nunca ninguém disse que era fácil fazer uma criaturinha adorável de seus três anos e meio dormir à primeira... Às vezes nem à quinta, quanto mais, a minha própria mãe que o diga, mas enfim, paciência... Ossos e ofícios e mais não desenvolvo que temos de voltar à história porque deixámos a adorável princesa acordada a chamar pelo pai pela segunda vez e todos nós sabemos que aos três anos e meio a paciência não é muita e as lágrimas são fáceis:
- [voz amorosa] Pai, pai, anda cá...
- [suspiro de quem, pela enésima vez, se enche de paciência... mas de coração derretido] Sim, filha, o que é?
- Pai... faz-me mais uma pergunta.
- Eeer... Olha, sabes por que é que as girafas têm um pescoço muito comprido?
- Não...
- Porque se alimentam das folhas das árvores. E as folhas melhores, as mais tenrinhas e saborosas são as que estão mesmo no cimo das árvores.
- Ah...
- Já viste como era se as girafas não tivessem um pescoço comprido? Como é que podiam chegar mesmo às folhas mais tenras das árvores mais altas?
- Não sei... se calhar chamavam os bombeiros!
* Timbre da voz de uma criança antes da puberdade.