Pontualmente, no primeiro domingo do Advento, costumo montar o presépio e a árvore de Natal (artificial, claro está, que não quero alergias aos pólenes ou à lagarta do pinheiro cá em casa...). Este ano esmerei-me na decoração e nas luzes porque o meu sobrinho já tem dois anos e meio e eu estava em pulgas para ver a reacção daquele piratinha à decoração, às luzes e à música de Natal... Mas, para meu profundíssimo desgosto, aquela alma aventureira que se atira do berço como se tivesse areia por baixo, aquele explorador dos armários da cozinha, o grande engenhocas dos
Tupperwares e das panelas teve medo da árvore de Natal e recusou-se a entrar na sala enquanto as luzes e a música estiveram ligadas (devo confessar que foi uma machadada na minha auto-estima de fada-do-lar em geral e de decoradora natalícia em particular, mas enfim, cada um é para o que nasce e eu, pelos visto, não nasci para decoradora de interiores...).
No dia seguinte, eu e ele mais recompostos, levei-o novamente à sala, desta feita ao meu colo e com as luzes de Natal apagadas para ter a certeza de que não haveria azar e ele já me pareceu mais ambientado. Fomos cumprimentar o pinheiro e explorar a decoração. Mostrei-lhe as bolas de Natal, os anjinhos e a estrela, mas ele pareceu muito mais interessado na própria árvore e comentou que o senhor pinheiro tinha pés, cabelo, braços e cauda... Ia rebentando a rir com aquela capacidade projectiva e congratulei-me com a falta de paciência do meu sobrinho para as pirosices de Natal da sua tia...
Só que os dias foram passando e o senhor pinheiro continuava a não ser amigo. Podia ter pés, cabelo e cauda, mas amigo é que ele não era... Assim, esta noite resolvi assumir que as luzes seriam um obstáculo à aceitação da árvore e retirei-as. Mas mal viu o pinheiro sem as luzes, o pirata atracou-se a ele como se não houvesse amanhã e ia destruindo, sem apelo nem agravo, a árvore de Natal juntamente com os enfeites.
E foi assim que, por motivos de força maior, me vi obrigada a recolocar as luzes e a acendê-las, garantindo um perímetro de segurança e preservando assim a integridade física do Senhor Pinheiro de Natal que enfim, isto de educar uma criança nos valores da tolerância e da coexistência pacífica é coisa que se vai aprendendo por tentativa e erro...