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Beijo de Mulata

Beijo de Mulata

13
Out10

[vozes brancas* #23] a vida é simples, dizem elas...

beijo de mulata
Ontem na consulta com o Diogo, uma ternura de 3 anos e meio:

Diogo - Eu já não uso f'alda!
Eu - Ai que lindo, meu querido! Mas [olhando disfarçadamente para os meus registos]... tu já não usas fralda há muito tempo...
Diogo - Pois é, mas a minha namo'ada ainda usa.
Eu - A tua namorada? E como é que ela se chama?
Diogo - Bia.
Eu - Ah e tu gostas muito da Bia?
Diogo - Sim e damos muitos beijinhos.
Eu - Muitos beijinhos?! Onde?!
Diogo [com um ar de Duh, onde é que ela estacionou a nave?] - Na boca.
Eu - E depois, que mais é que vocês fazem juntos?
Diogo - Ficamos à janela a ver os popós passar...

[Ohhhh]

Mãe - E a Doutora havia de os ver... eles são mesmo queridos...
Eu - Que engraçados...
Mãe - Mas no outro dia chegou a casa com um ar tristíssimo a dizer:
            - Ó mãe, a Bia está zangada comigo...
            - Porquê, filho?
            - Não sei...
            E estava com um ar aflito, assim como quem diz: "Ó mãe, ajuda-me que eu não estou a perceber nada..."

[Pois é... Mal ele sabe... mal ele sabe o que o espera!]

* Timbre da voz de uma criança antes da puberdade.
09
Out10

[vozes brancas* #22] magia

beijo de mulata
Num jantar de gala com muitos médicos bem dispostos e uma menina de 3 anos, linda de morrer com ar de princesa rebelde:

Menina - Não gosto de ti! Abracadabra, pé de cabra, vou transformar-te num monstro!
Médico bem disposto - Uuuuh, eu sou um monstro e vou-te comer!
M - Abracadabra, pé de cabra, agora vou transformar-te num elefante!
MBD - Uuuuh, eu sou um elefante e vou dar-te duche com a tromba!
M - E agora vou transformar-te num sapo amarelo [dito muito depressa]. Abracadabra, pé de cabra!
MBD - Num senhor da EMEL?! Tu não gostas mesmo de mim...

* Timbre da voz de uma criança antes da puberdade.
04
Out10

[áfrica não é para todos] as pontes

beijo de mulata

Em Abril contei-vos este diálogo com a Irmã Lurdes antes de atravessar uma ponte de bambu no meio do mato, a caminho da campanha de vacinação:

- Mas, Irmã, nunca tem medo de atravessar estas pontes de jeep?
- Bem, medo sempre tenho, mas sei que Deus está connosco. [Assim como se dissesse "O meu pai é o dono disto tudo, sei muito bem que nada de mal nos pode acontecer."]
- É que isto assusta um bocadinho...
- Podes sair e passar a ponte a pé que eu não levo a mal.
- Não, Irmã, não vou fazer isso. Não a vou deixar... e também não me serve de nada ser a única pessoa a sobreviver aqui no meio de nenhures...

Pois é. Mal sabia eu que este ano o caminho para o Gilé tinha "problema di ponti". E um problema grave. Uma ponte absolutamente improvável. Imponderável. Para não passar por lá tínhamos de fazer um desvio de mais de 200 km em picada. Oito horas de caminho, portanto! Ou seja, se queríamos fazer o trabalho a que nos tínhamos proposto, o caminho era necessariamente aquela ponte. Só que desta vez nem mesmo a Irmã Lurdes, aventureira nata, acreditava que fosse possível:
- Esta ponte não foi feita para passarem carros. Eles passam mas arriscam-se a cair na água. [Assim como se dissesse: "África não é para todos. Deus é infalível, mas nós não somos..."]

Felizmente foi sempre a R. quem levou o carro, quem assumiu a ponte dentro do peito e a passou uma vez e outra e outra. Às vezes com o coração pequenino mas sempre com um sorriso nos lábios. E digo-vos, eu que estive sempre lá, no lugar do co-piloto, caladinha como nunca estou, aprendi que só há uma maneira de passar. E não, ninguém disse que era fácil:

Páre. Feche os olhos. Respire fundo. Abra os olhos. Espere que alguém vá para diante do carro para o ajudar a acertar as rodas com os troncos. Meta a tracção às quatro rodas. Isto se o carro tiver tracção. Se a tracção funcionar. Se souber como se mete a tracção. Se não puder meter a tracção não desespere. Sobretudo não desespere. Meta a primeira. Esqueça tudo o resto. Esqueça o pedal do travão, o pedal de embraiagem, o travão de mão, a marcha à retaguarda e as outras mudanças. Esqueça o resto do mundo. Mande sair quem acha que poderá dizer uma palavra que seja. Aconteça o que acontecer não perca a confiança. Em si, no carro e na própria ponte. É importante acreditar sempre que aquilo que está à sua frente é, de facto, uma ponte. Alguma confiança na Providência Divina ajuda sempre, mas isso também não é para todos... E pronto, já passou! Um dia de cada vez. Tente não pensar que amanhã vai ter de voltar pelo mesmo caminho. Em África amanhã não existe.
04
Out10

[tenho a cabeça em áfrica] e uma dor no peito, caramba!

beijo de mulata
I once had a hospital in Africa...

Mas vou deixar-me de lamúrias... Até porque não sei chorar por escrito... E não me venham dizer que é assim  :'(  porque não serve, ninguém chora assim :'( e eu ainda para mais choro sempre com o corpo todo, esparramada na cama e com uma almofada por cima da cabeça. Não é assim :'(. E não me adianta continuar a falar desta dor no peito, discutir se a dor é física ou psicológica, que eu sei bem que a sinto, que me dói como há muito tempo não sentia dor nenhuma e não me interessa mais nada. Não adianta de nada dizer que ainda não acredito que vivi um amor impossível, ou falar da vontade de acreditar que talvez ele não seja impossível, do medo de que afinal seja mesmo, do horror que me causa a perspectiva de nunca mais poder voltar, das borboletas no estômago, do desejo permanente de regressar ao fim do mundo... Acabou. Vou mas é recomeçar a falar-vos do fim do mundo, que sempre é mais divertido... E chorar só de vez em quando, se não aguentar mais.

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