Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Beijo de Mulata

Beijo de Mulata

19
Jul10

[vozes brancas* #20] e raciocínios irrepreensíveis

beijo de mulata
O filho de uma amiga minha, agora com dois anos e meio, ontem à noite, jantava hamburger de frango com milho, quando o pai se lembrou de lhe explicar a verdade dos factos sobre os pequenos galináceos:
- Sabes que o frango também gosta muito de comer milho.

Nisto, o menino faz um ar desconfiado, olha para o hamburger, olha para o pai, olha novamente para o hamburger e pergunta ao pai, em tom de desafio:
- E onde está a boca?

* Timbre da voz de uma criança antes da puberdade.
19
Jul10

[a mulher leprosa] tirar a burka ao fim da noite

beijo de mulata


Nessa noite pedi à Irmã Lurdes para me levar a visitar a mulher leprosa... Não me saía da cabeça a forma como se cobria com aquela burka, como se a vida tivesse terminado e não houvesse lugar para si no mundo... Depois de jantar pegámos na lanterna e fomos até casa dela, num dos bairros em torno da missão. A Irmã Lurdes levava-lhe uma manta, porque as noites tinham arrefecido e duas barras de sabão - autênticas preciosidades na savana, que a iriam deixar certamente muito feliz. Eu, num rasgo de intuição, tinha resolvido oferecer-lhe os meus brincos e levar-lhe um espelho, para ver se um presente e um pouco de vaidade feminina lhe poderiam consertar a auto-estima dilacerada pela doença...

No bairro, as vizinhas que ainda estavam na rua a conversar à porta de casa, alumiadas por uma fogueira que servira para cozinhar a ceia viram-nos passar e riram maldosamente de inveja, comentando em voz alta em Macua qualquer coisa que percebi ser a respeito de mucunhas* a visitar justamente a casa da leprosa.

Batemos à porta da palhota, mas ninguém respondeu. Já estaria a dormir? Entrámos e apenas vimos duas crianças a dormir**, deitadas sobre uma esteira meio desfeita, num compartimento único e desolado, em que o conteúdo se resumia a uma peneira, um cesto com roupa, duas panelas de barro e uma pequena lamparina. Demos a volta à casa para procurar a nossa doente e foi então que nos deparámos com uma imagem enternecedora: à pálida luz da lua, a senhora retirara o pano com que ocultava o rosto e, escondida de tudo e de todos, olhava a própria face reflectida num pedaço de espelho e enfeitava-se com flores... Suspirei de alívio. Havia esperança para ela!
* brancas
** uma delas é actualmente minha afilhada à distância. Chama-se Fresquinha, não acham o nome delicioso?

Mais sobre mim

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2017
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2016
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2015
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2014
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2013
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2012
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2011
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2010
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub