Interrompemos a emissão para emitir o seguinte comunicado:
Em virtude de uma inopinada elevação dos níveis de colesterol LDL, este blog está interditado de ingerir ovos escalfados até ao final da semana, pelo que a revolução, até novas indicações, fica desconvocada. Mais, caso a situação se mantenha, planeamos iniciar uma greve de fome, que este blog é um blog pragmático e para grandes males, grandes remédios. E para os que reclamam que estes avisos não fazem sentido, eu reivindico que a semântica já foi desclassificada há muito tempo neste blog. Resta-nos o ritmo e a sintaxe. Até ver.
Pronto. Era só isto. A emissão seguirá dentro de momentos.
«A convite do recepcionista lá fomos pelo obscuro corredor. O homem ia explicando as insuficiências com o mesmo entusiasmo que outro hoteleiro, em qualquer lugar do mundo, anunciaria os luxos e confortos do seu hotel. E o italiano parecia se arrepender de alguma vez ter querido saber: só havia eletricidade uma hora por dia.
- Merda, será que trouxe pilhas suficientes? - se interrogou. Afinal, eu estava dispensado de traduzir. Massimo sabia-se explicar e, pior ainda, entendia o que lhe diziam. O outro prosseguia com as condições:
- Também não há água nas torneiras. - Não há água? - Não se preocupa, meu caro senhor: manhã cedo, havemos de trazer uma lata de água. - E vem de onde, essa água? - A água não vem de nenhum lugar: é um miúdo que traz.
Chegamos ao quarto destinado ao estrangeiro. Eu ficaria mesmo ao lado. Ajudei o italiano a se instalar. O quarto tresandava. O hoteleiro, seguindo à frente, dissertava sobre a variedade de fauna coabitando o mesmo espaço: baratas, aranhas, ratos. No chão havia uma caixa. O homem debruçou-se sobre ela e foi tirando objetos diversos:
- Esta revista é para matar as moscas. Esta sola velha é para as baratas. Esta bengala... - Deixe estar, eu resolvo.
O recepcionista abriu as cortinas e uma nuvem de poeira se espalhou pelo aposento. Passado um pouco tudo se tornou mais visível, mas o italiano parecia preferir o escuro. Um líquido espesso escorria pelas paredes.
- É água, isso? - Era bom, mas conforme já mencionei, nós aqui não temos água.
O recepcionista já se retirava quando se recordou de uma recomendação. Desta vez, se dirigia a mim como se procurasse cumplicidade.
- Às vezes, aparecem nos quartos uns insetos desses, sabe, que chamamos louva-a-deus. - Sei o que são. - Se aparecer um desses não lhe mate - disse, dirigindo-se agora ao italiano. - Nunca faça isso. - E porquê? - Nós aqui não matamos esses bichos. São nossas razões. Esse aí lhe explicará depois.»
- Catherine Earnshaw, may you not rest as long as I am living. You said I killed you - haunt me then. The murdered do haunt their murderers, I believe - I know that ghosts have wandered the earth. Be with me always - take any form - drive me mad. Only do not leave me in this abyss, where I cannot find you! Oh, God! It is unutterable! I cannot live without my life! I cannot live without my soul!
As histórias das crianças são intemporais... Certa vez uma amiga minha foi ao mercado com a mãe (teria ela três ou quatro anos), viu caracóis expostos para venda dentro de um saco e ficou intrigada: - Mãe, os caracóis comem-se?! - Sim, querida. Eu, pessoalmente, não gosto, mas há muitas pessoas que gostam de comer caracóis e dizem que são muito bons agora no Verão.
No dia seguinte, quando a mãe a foi buscar à escola, a minha amiga informou-a: - Mãe, eu também não gosto de caracóis! - Mas como é que sabe, se nunca provou? - Provei sim! Há bocadinho... - respondeu a minha amiga, ainda a cuspir pequenos pedaços da casca do caracol que colhera de uma árvore do pátio.
(Em certas idades, a silly season pode vir em qualquer altura e por vezes pode durar o ano inteiro...)
* Timbre da voz de uma criança antes da puberdade.