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Beijo de Mulata

Beijo de Mulata

09
Jul10

[pensando bem] se calhar vou hibernar mais cedo

beijo de mulata
Provas de que a silly season este ano terá chegado ainda em Julho:
  1. O Cristiano Ronaldo teve um filho de mãe incógnita;
  2. Um polvo, alegadamente chamado Paulo, deu a vitória à Espanha no Mundial;
  3. Um periquito em Singapura, chamado Oliuliu segundo o meu oráculo (que obviamente nunca acertou no Euromilhões e portanto também nunca teria acertado no nome do periquito) e chamado Mani segundo os jornais da Internet, deu a vitória à Holanda na final;
  4. Metade dos portugueses terá feito pelo menos um trocadilho com polvo à lagareiro nos últimos dias.
09
Jul10

[iapala de madrugada] mais um dia

beijo de mulata
 



É manhã novamente. Arrefeceu muito durante a noite e, na cama morna, minutos antes da hora de levantar, o já meu conhecido linguajar pluvial dos coqueiros recria uma ilusão outonal, calma e reconfortante, de chuva branda num sábado de manhã. Recompensa justa por uma noite sobressaltada. Uma chamada urgente do hospital a meio da noite por causa de um menino que chegou febril e em crise convulsiva prolongada, trazido pela família já em desespero.

Apesar de o hospital ser mesmo em frente à casa das Irmãs, o medo que os africanos têm dos cães que guardam a Missão, que presumo motivado pela raiva que por aqui abunda, teria decididamente impedido que me fossem chamar durante a noite. Mas a Irmã Lurdes, Superiora da Missão, criou um sistema simplesmente hilariante para contornar o pânico que os africanos têm dos cães sem pôr em causa a nossa segurança: dois apitos de árbitro de futebol, adquiridos em Portugal no Estádio do Benfica pendiam no Hospital pregados à parede, um na Maternidade e outro na Urgência Geral, prontos para qualquer eventualidade. E esta noite tinha sido acordada pelo silvo impaciente do Glorioso* expulsando-me da cama com cartão vermelho. Vesti-me rapidamente, um pouco às apalpadelas e saí para a rua de lanterna em punho, que apesar do luar é preciso ver bem onde se pisa, não fosse aparecer alguma cobra perdida no jardim...

(Aqui de nada serve a valentia dos que dizem não ter medo de animais rastejantes: ingenuidade! Não temos soro antiveneno no hospital - não existe em toda a província - e nem quero imaginar como é que faria a mim própria o desbridamento de uma ferida sem qualquer anestesia. Mesmo durante o dia é preciso ter muito cuidado, ver sempre onde se põe os pés e, no meio do capim, pisar só onde o da frente pisa. E só passar por debaixo de um cajueiro se se ouvir claramente o chilrear dos passarinhos: de outro modo há cobras nos ramos pela certa! Mas vamos à história, que deixámos o menino a convulsivar à porta do hospital, com a família a dizer, como habitualmente, que o menino estava possuído pelos antepassados. O que vale é que enquanto divagava sobre as cobras lhe administrei um diazepam e a convulsão lá cedeu...)

Em dois minutos, a história clínica ficou colhida e iniciou-se a terapêutica da malária cerebral. Diagnósticos definitivos só no fim, que nestes casos não há tempo para perder à espera de análises laboratoriais. Nem o técnico do laboratório se encontrava no hospital àquela hora... Só então arranjámos um colchão para instalar o menino. Apesar de estarmos na estação seca, em que a taxa de hospitalização é mínima, as camas estão todas ocupadas e tivemos de o acomodar no corredor... Na estação das chuvas as condições são ainda mais precárias: o número de doentes hospitalizados é tal que têm de dormir no pwarrow, um abrigo amplo, com telhado mas sem paredes, situado fora do edifício principal do hospital. Agora não há mais nada a fazer a não ser esperar que a medicação actue e rezar para que o menino reaja favoravelmente. Mas devemos ter ido a tempo. A acreditar no que a família me diz, a doença começou esta noite. E até estou surpreendida por me terem trazido o menino ainda nas primeiras horas de doença, já que normalmente a família procura antes de mais um curandeiro. Mas depois percebi que só vieram primeiro ao hospital porque não encontrariam um curandeiro durante a noite. E só depois de uma discussão acesa sobre se esperariam ou não pela manhã... Mas o que interessa é que felizmente se tinham decidido a vir.

Demorei-me um pouco a escrever no processo e só quando saí do gabinete me apercebi de que um homem ainda jovem chorava baixinho, ajoelhado à cabeceira do menino, que dormia sob o efeito da terapêutica.

– O senhor é o pai?
– Não, sou tio.
(Não há maneira de interiorizar esta cultura, caramba! Isto é uma sociedade matrilinear. Quem tem o poder paternal é o tio materno. Vê se aprendes!)

Talvez compreenda Português, pensei:
– O menino não está em coma, está só a dormir por causa do medicamento que eu lhe dei para parar as convulsões.

Não deu sinais de me ter compreendido. Fui chamar o enfermeiro, que traduziu a minha explicação para macua. O tio afinal tinha-me compreendido, mas não acreditava que o menino pudesse sobreviver, porque todas as pessoas que tinha visto com malária cerebral tinham sucumbido. Expliquei-lhe que ainda era muito cedo para saber o desenlace, mas que era muito possível que o menino resistisse. Parou de chorar.

– Obrigado.
Nem por um momento deixou de fitar o sobrinho...

(Continua, como não podia deixar de ser.)

* Também tu, Iapala?
09
Jul10

[alhos e blogalhos] da áuga benta

beijo de mulata
Sinceramente! Não se vos pode dar a mão, que querem logo amarinhar por aqui acima para arrancar também o pé (com perdão para os mais sensíveis para as questões gravíticas, que eu também sei que obviamente não se amarinha por ninguém acima para se lhe arrancar o pé, sobretudo se se partir da mão, a não ser que eu estivesse a fazer o pino e isso é coisa que já não faço desde o liceu)... O potencial do google para o disparate é infinito!

Então vai uma pessoa falar sobre baptismos de emergência nas Unidades de Cuidados Intensivos Neonatais (está bem que sobre uma situação absolutamente descabida e caricata, mas ainda assim...) e nem duas horas depois já tinham vindo aqui parar cinco ou seis navegadores do google à procura dos poderes da água benta para fazer feitiços! Um deles até escreveu áuga benta. De certeza que só para me exasperar, que eu bem sei... Meus amigos, eu não merecia isto!

Por outro lado, já deve ser isto a que chamam a silly season... Será?

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